A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), da Polícia Judiciária Civil, responsabilizou nove pessoas pelos assassinatos dos travestis, Alisson Otávio Carvalho da Cruz, 19 anos, e Maildo dos Santos Silva, 33 anos, ocorridos neste ano em Cuiabá. Três foram presos por mandado de prisão preventiva, além de dois menores apreendidos e encaminhados à Delegacia Especializada do Adolescente, nesta semana.
A delegada Anaide Barros, que preside os dois inquéritos, e o delegado titular da DHPP, Antonio Carlos Garcia de Matos, esclareceram que as mortes não tiveram motivação homofóbica. "Ambos tiveram mortes de forma violenta, mas morreram em decorrência de uma divida por drogas. A DHPP tem um padrão único para todas as vítimas, que é apurar e dar responsabilidade às pessoas que cometeram os crimes", disse Garcia.
O corpo do primeiro travesti, Alisson Otávio Carvalho da Cruz, foi encontrado no dia 28 de maio, dentro de um córrego, localizado na ponte de divisa do bairro Três Lagoas com o Vila Rosa, em Cuiabá, asfixiado com uma corda. Dez dias depois, o travesti Maildo dos Santos Silva, foi assassinado nos mesmos requintes de crueldade. Seu corpo foi encontrado no bairro CPA III, fundos da Lagoa Encantada, no dia 08 de junho.
Os suspeitos Cleberson Rodrigo Marques e Silva, 23, Alisson Paulo de Arruda, 29, Paulo Cesar da Silva, 42, foram presos, interrogado e indiciado nesta semana. Dois menores de 17 anos, também apreendidos, tiveram participação direta nos assassinatos. Além dos presos, a Delegacia pediu a prisão de Rafael de Oliveira Ferreira, 19 e outro rapaz sem qualificação completa ainda. Outra duas pessoas foram indiciadas nos inquéritos, uma delas por favorecimento real.
As vítimas deviam dinheiro, cerca de R$ 200, ao todo, para os menores que traficavam próximo a região, onde os travestis faziam programas. De acordo com a delegada, Anaide Barros, responsável pelos dois casos, as duas vítimas se conheciam e faziam programas na mesma região. "A maioria do grupo participou ativamente dos crimes. São confessos como traficantes e ficavam ali no mesmo local. Eles alegaram que as vítimas tinham dívidas de entorpecentes", explicou a delegada.
Conforme a delegada, nos dois homicídios está descartada a hipótese de motivação relacionada à homofobia. "A única situação é que os travestis são vítimas mais vulneráveis", esclareceu a delegada.
Os depoimentos foram acompanhados por um representante do Centro de Referência de Combate a Homofobia. A coordenadora do Centro, Claúdia Cristina de Carvalho, disse que para o movimento GLBT, a crueldade que os travestis foram assassinados não deixa de ter motivação homofóbica, mas reconhece o trabalho desenvolvido pela Delegacia de Homicídios em não deixar os crimes impunes. "O requinte de crueldade para nós tem sim motivação homofóbica. Há uma perversão no ato pela forma que foram executados. O que foi feito pela DHPP, todas as pessoas serem presas, é digno de nosso reconhecimento", disse Claúdia.