Dos 4.225 roubos registrados em Cuiabá, 66% ocorreram em via pública, ou seja, as vítimas estavam em ruas ou avenidas da Capital. Em relação aos casos de furtos, 25% dos 7.317 boletins de ocorrências também apontam que a abordagem ocorreu em local público. Juntos, os crimes em vias públicas somam 4.620 casos. Em média, são 17 vítimas por dia. Os números são da Polícia Civil e consideram o período de janeiro a setembro deste ano.
Não há estimativa de casos não registrados nas delegacias. Titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cuiabá, Roberto Amorim frisa que a maioria dos casos ocorre em locais com grande movimentação de pessoas e os crimes são praticados para sustentar o consumo de drogas dos assaltantes. Aponta que dificilmente os bandidos conseguem grandes quantias com as vítimas, mas apostam na ação para levar algum tipo de vantagem, como celulares e dinheiro (mesmo que pouco) para trocar por drogas.
A região Central é onde ocorre boa parte destes tipos de delitos. O horário com maior incidência é entre 18h e 22h, quando as pessoas estão deixando o trabalho e indo para casa. Muitas vezes, a abordagem acontece no ponto de ônibus, no momento que a vítima está distraída, mexendo no celular. Para o delegado, os números são altos e demonstram uma deficiência no policiamento preventivo e ostensivo, de responsabilidade da
Polícia Militar.
Comenta que o efetivo atual é baixo para fazer a cobertura de toda a cidade. “Na época da Copa, não tivemos muitos casos na área Central porque o policiamento estava todo concentrado, justamente para evitar esse tipo de situação. O mesmo acontece no final do ano, quando são montadas as operações de Natal, para dar tranquilidade ao consumidor que sai para comprar presentes”.
Como reflexo da insegurança e falta de policiamento, as irmãs Priscila Tamiozzo, 26, e Letícia Tamiozzo, 23, foram assaltadas quando saiam de casa de carro. Na ação, os dois homens, um deles armado, terminaram não levando nada, mas Letícia foi baleada na barriga. Priscila conta que estava ao volante e o bandido armado chegou do lado do motorista anunciando o assalto.
Ela conseguiu tirar o cinto de segurança, pegar o celular, buzinar e descer do veículo, sem ser agredida. Já a irmã foi arrancada do carro pelo outro homem. “Ela gritava muito e tentei colocar a mão na boca dela para parar. O assaltante também falava para ela não gritar. Apareceu outra pessoa em um Gol branco para buscá-los. E quando estavam saindo o que estava armado apontou a arma para Letícia e atirou por maldade, ela não estava mais gritando e eles não levaram nada”.
Priscila conta que as duas caíram no chão e a irmã falou que tinha sido atingida, pedindo para não mexer nela, porque tinha medo de afetar a coluna. Letícia foi socorrida e encaminhada para o hospital, onde passou por cirurgia e está internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). “Ela está bem, fora de risco e teve sorte porque a bala não atingiu nenhum órgão. Mas tem medo deles voltarem para se vingar”.
A jovem baleada já tinha sido abordada no início do mês, também em frente de casa, no bairro Boa Esperança, mas conseguiu entrar na residência, antes de ser rendida. As duas ações foram gravadas pelo sistema de segurança e o último assalto, registrado às 20h30 do dia 13 de outubro, não durou mais que 50 segundos. Também na porta de casa, a empresária J., 40, foi abordada por um rapaz. Ela conta que sairia com o carro, mas o veículo não funcionou e desceu para pedir ajuda ao vizinho.
“Vi o rapaz vindo na minha direção e ainda pensei que ele me assaltaria. Mas foi tudo tão rápido que não tive tempo para nada”. O assaltante colocou a arma na barriga da mulher e pediu o celular. Na sequência, fugiu. Ele foi preso momentos depois e já havia roubado várias outras pessoas. Esta foi a primeira vez que J. foi assaltada à mão armada. “Eu poderia ter sido morta por uma bobagem. Depois que passa sente muito medo, pensa em muita coisa”.
O paginador R.C., 44, também foi abordado à mão armada, durante o dia, na avenida Ipiranga, uma das mais movimentadas em Cuiabá. A vítima conta que estava em frente à academia de musculação quando o celular tocou e teve que se afastar para atender. Ele ambém viu o assaltante seguindo em sua direção, mas achou que era cliente da academia. “Ele chegou, anunciou o assalto e falou para eu não olhar. No impulso, eu virei e ele pegou a arma. Aí eu entreguei o celular”.