Não bastassem as constantes prisões de condenados, com tornozeleiras, após crimes reincidentes, agora a Polícia tem uma preocupação a mais com o equipamento que deveria monitorar os detentos. Marginais estão usando falsas tornozeleiras, feitas em materiais semelhantes as originais para intimidar as vítimas em ambientes públicos. A denúncia foi feita pela delegada Elaine Fernandes, titular da especializada de Roubos e Furtos da Capital (Derf). “Esses bandidos colocam um material idêntico às tornozeleiras eletrônicas e fazem questão de exibi-la em locais públicos, é uma maneira de eles intimidarem as vítimas, mostrarem que eles são presos, portanto perigosos. Estamos atentos a isso”, disse a delegada.
Para Elaine Fernandes, o objeto utilizado pelos marginais, na maioria das vezes com bermudas, já é usado por eles com ostentação. “Para esses bandidos essa falsa tornozeleira é um troféu”, diz a titular, revelando que já foram flagrados marginais usando o artifício em terminais de ônibus e até em balneários próximos à Capital. O problema é que o cidadão comum não sabe distinguir entre o falso e o verdadeiro aparelho de monitoramento e facilmente pode ser abordado e até assaltado por esses marginais.
As tornozeleiras foram disponibilizadas pela empresa Spacecomm Monitoramento S/A, vencedora da licitação que custou R$ 12.870 milhões. Nos primeiros seis meses do ano o número de reeducandos usando os aparelhos no estado mais que dobrou, mas não impediu a ocorrência de crimes. O número de reincidência era de 17%, na época que o estudo foi revelado pela Secretaria de Justiça, demostrando a falta fiscalização sobre os monitorados. O presidente do sindicato dos agentes penitenciários de Mato Grosso, João Batista Pereira Souza, tem criticado a utilização das tornozeleiras. Segundo ele, “os crité- rios adotados pelo Governo para colocar em liberdade os detentos, não estão sendo adotados corretamente”.
No fim do mês passado, dois homens que utilizavam tornozeleiras invadiram a casa de um juiz federal em Cuiabá e furtaram o carro da famí- lia. Um dos detentos tinha sete passagens pela polícia e o comparsa havia deixado a prisão há apenas cinco dias. Nesta quinta-feira (24) a Derf prendeu um detento, com o aparelho na perna direita, acusado de aterrorizar chacareiros da Região do Coxipó Mirim. “É mais um reincidente. Ele agredia as vítimas e chegou a ameaçar atear fogo numa criança. Bandido de alta periculosidade que estava solto. Espero que não saia mais”, desabafou a delegada Elaine Fernandes. O Secretário de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso, Marcio Dorilêo, afirma que “nenhum lugar do mundo possui um sistema de monitoramento que funcione 100%”.