O delegado de polícia Mário Rezende tem até sexta-feira para concluir o inquérito que apura as causas da morte do balseiro Ailton Ailton Limoeiro dos Santos, 44 anos, que desapareceu na terça-feira, 27 de dezembro e teve seu corpo encontrado 63 horas depois, na sexta-feira, por volta de 10 horas da manhã. No entanto, ele já tem a certeza da participação do policial civil Telmo Luciano Guibor e de mais três pessoas, Cristiano Teixeira do Nascimento, Serafim Ferreira de Souza e Junior Vieira Pereira, os dois últimos continuam foragidos. Cristiano Teixeira do Nascimento e Telmo Luciano Guibor encontram-se presos em Alta Floresta.
Na terça-feira, 27, Ailton foi prestar socorro a um grupo de pessoas que estava num gol ‘quadrado’ de propriedade do policial Telmo e acabou ‘sequestrado’ e logo em seguida morto pelos bandidos. O grupo, que estava a poucos metros da ‘balsa da Indeco’, hoje de propriedade dos irmãos Ailton e Reginaldo, pediu apoio para Ailton que foi até sua casa buscar uma corda para ‘puxa-los’. Em casa ele declarou que iria dar apoio ao Junior, que era bem conhecido nas redondezas. Foi o ‘erro’ dos bandidos. A partir desta informação é que a polícia começou a desvendar o caso.
Após as primeiras investigações a polícia descobriu que, no mesmo dia, 27, Junior foi até um posto de gasolina no bairro Cidade Alta e abasteceu o carro de Telmo com um cheque pré-datado. Pegou um vale abastecimento de troco. Mais tarde o policial foi até o mesmo posto com uma moto pertencente a outro integrante da quadrilha, Cristiano, e também abasteceu o veículo com o vale abastecimento dado momentos antes. Novamente foi dado um vale como troco já que o valor era maior. Eram 10 e meia da noite quando Telmo apareceu mais uma segunda vez no posto, desta vez com um galão e outra vez abasteceu. O combustível seria levado até o veículo gol da vítima que já estava em poder da quadrilha. “Nós inclusive já estamos com o cheque apreendido e estamos com o vale (troco) entregue pelo policial (após a prisão) por fim. Estamos com o vale apreendido na carteira do Telmo”, disse o delegado.
Segundo as investigações conduzidas pelo delegado Mário Rezende, foram até o local do crime, Junior Vieira Pereira, Cristiano Teixeira do Nascimento e Serafim Ferreira de Souza, vulgo Baiano. Eles foram até próximo à balsa, desligaram o veículo, abriram o capô, o Junior foi até o mato, Serafim teria ido até a balsa e o Cristiano ficou no volante do carro do policial. Serafim pediu ajuda, mas o irmão da vítima não quis ajuda-lo. Ailton aceitou ir até o local e verificou que o carro estava mesmo parado, tendo se oferecido para ir buscar uma corda. “Vendo a situação ele voltou com o carro até o bar e falou pra empregada, ó, eu tô indo resgatar um carro lá, me dá tal corda, a mulher perguntou: mas o carro de quem? É o carro do Junior. Que Júnior? É o Junior da fazenda”, relatou Rezende como teria sido o diálogo entre Ailton e a empregada. “Pronto, esse foi o erro. Aí que a casa deles caiu, que diante dessa informação a gente começou a desmontar o que circundava ela”, relata o delegado.
Quando retornou ao local onde o carro do policial se encontrava, Ailton foi até o porta-malas para pegar a corda e acabou sendo surpreendido pela quadrilha. Cristiano continuou no volante do gol ‘quadrado’, Baiano e Junior sacaram duas armas amarraram a vítima e trancaram-na dentro de seu próprio carro. Segundo o delegado de polícia, o carro de Ailton foi o primeiro a sair, logo em seguida o carro do policial saiu do local conduzido por Cristiano. “A quadrilha andou cerca de 20 km e pararam num riacho. Tiraram a vítima do porta-malas e desferiram três tiros, um na cabeça e dois pelo corpo, tendo jogado Ailton para dentro do riacho. “Dali eles foram até o trevo Piovesan, o Cristiano retornou à Alta Floresta com o gol do Telmo, o Junior e o Baiano foram até a comunidade Del Rei e esperaram pelo policial. Na comunidade Del Rei eles entraram em contato com o policial”, relata Rezende. Telmo, de posse a moto do Cristiano, com um galão de combustível cheio, foi até o carro roubado, entregou a moto pro Baiano, que voltou para a Alta Floresta. “Montou no carro com o Junior e de lá eles picaram a mula pra Cuiabá. O destino do carro, o Cristiano não sabe, segundo ele, não sabe, o Telmo está se mantendo em silêncio, não quer falar”, disse.
Por enquanto a polícia está montando a ‘trama’ com base nas informações prestadas por Cristiano e por testemunhas que reconheceram a presença de Telmo na comunidade Del Rei. Se comprovada a hipótese de latrocínio, Telmo, que segundo o depoimento de parceiro de crime não estava na hora do roubo e da morte do balseiro, teria papel fundamental na condução do carro roubado até seu destino, que pode ser a Bolívia. Com carteira de policial, Telmo passaria facilmente pelas barreiras. Isso agrava de forma substancial a sua situação, já que teria utilizado das ‘facilidades’ do cargo que ocupa para o crime. “O inquérito certamente será concluído considerando que o policial civil teve participação neste caso e agiu em conluio com os outros três”, revela, dizendo que o crime deverá ser classificado como latrocínio e formação de quadrilha.