Dos seis acusados de integrar facção criminosa Comando Vermelho de Mato Grosso (CV-MT) e liderar o “salve geral” em junho do ano passado, que determinou que ônibus fossem incendiados e agentes de segurança assassinados na capital e cidades do interior, negaram em juízo qualquer tipo de participação nos ataques e ligação com a organização criminosa. O sexto envolvido não compareceu à audiência pois, segundo despacho no processo, teria sido solto “indevidamente” pela Justiça.
Em audiência realizada pela 7ª Vara Criminal foram ouvidos André Matheus Silva Souza, Evandro Luz de Santana, João Luis Baranoski, Carlos Alberto Vieira Teixeira e Reginaldo Aparecido Moreira. Em relação ao sexto envolvido, Baltazar Luz de Santana, irmão de Evandro, a juíza Selma Rosane Santos Arruda, determinou a recaptura dele, pois teria ganho a liberdade após um alvará expedido pela 2ª Vara Criminal.
Apontado como um dos mandantes dos ataques que espalharam terror entre a população e foram provocados devido à greve dos agentes penitenciários e suspensão de visitas nos presídios, Reginaldo Aparecido Moreira negou qualquer envolvimento com a organização criminosa CV-MT ou participação no “salve”. A defesa dele bate na tecla de que o réu foi preso indevidamente no lugar de outra pessoa com o seu nome, e questionou a forma como o setor de inteligência chegou até ele.
Uma das testemunhas que trabalhou no reconhecimento dos mandantes do “salve” e foi ouvida durante a audiência, afirmou que foi possível identificar Reginaldo por meio das escutas telefônicas, e que ele já vinha sendo monitorado desde 2015, quando ainda não estava preso. Conforme a testemunha, Reginaldo era muito próximo de um dos líderes do CV, o Miro Arcângelo Gonçalves, conhecido com “Miro Loko”, e realizava todas as tarefas repassadas por ele para fora do presídio.
Durante o interrogatório, todos os envolvidos afirmaram não ter conhecimento de quem era Reginaldo e que nunca o tinham visto antes. O primeiro a ser ouvido foi Andrézinho CV, que negou participar do Comando Vermelho ou de estar envolvido com o Salve. Negou até ter apelido. Ele só admitiu o uso de celular dentro da cela onde estava preso, no Centro de Ressocialização em Várzea Grande, mas negou ter emitido qualquer ordem sobre os ataques. “Falar para a senhora que eu nunca usei o celular vou estar mentindo. Usei, falei com minha família, mas não o fato que estão acusando”.
Ele negou ainda conhecer qualquer um dos outros acusados. O segundo interrogado foi Evandro Luz de Santana. Durante a audiência ele mudou a versão dada à Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) à época dos ataques, de que ele teria sido obrigado a ler uma carta onde havia ordens para membros do CV. Conforme ele, no dia em que foi retirado da PCE, ele “apanhou” muito de agentes penitenciários e foi levado até GCCO onde eles afirmavam que ele era um dos mandantes do salve. “Me deram os papéis e me mandaram assinar”. Ele negou a denúncia e afirmou que dos acusados no envolvimento, conhecia apenas o seu irmão Baltazar. Ele afirmou ainda não saber o porque de ter sido apontado pela polícia no esquema.
O terceiro a entrar na sala foi João Luís Baranoski que afirmou que a denúncia de participação no CV e nos ataques contra ele é falsa. Ele disse à juíza que acredita que o fato de ter sido acusado de participar do CV, na Operação Carga Máxima, possa ter sido um dos motivos que o levaram a ser incriminado. Ressaltou ter lido o processo na íntegra e pontuou que não encontrou fatos que justifiquem a sua denúncia. A juíza questionou Baranoski sobre uma tatuagem de Carpa, que seria uma das marcas de facções criminosas, mas ele negou qualquer participação em facção. “Não tem significado. Eu gosto e fiz”.
Carlos Alberto, um dos últimos acusados a ser ouvido, afirmou que antes de ser levado da Penitenciária Central do Estado (PCE), os agentes penitenciários e os policiais retiraram da cela ao lado da sua um preso com o nome Reginaldo, mas que ele não seria o mesmo Reginaldo que está sendo acusado nesse processo. Porém, no momento em que a juíza mostrou a ele uma foto que consta no processo, perguntando se era aquele o Reginaldo retirado da cela ao lado da sua, ele confirmou. A foto era a do réu no processo.
Ao final da audiência, após interrogar Reginaldo, a juíza Selma colocou alguns áudios que circularam no dia do salve, nos quais a voz de um homem ordena outras pessoas a iniciarem os ataques. Após ouvir as vozes, Reginaldo negou que uma delas fosse dele. Para o Ministério Público Estadual não há dúvidas sobre a participação dos réus nos crimes e nem mesmo a de Reginaldo.