domingo, 28/abril/2024
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Vácuo de representação

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Muito leitores me cobraram a prometida continuação da discussão sobre a nossa representação no Senado Federal, iniciada semana passada, quando analisei as declarações de desânimo do senador Blairo Maggi. De fato, há muito a ser enfocado sobre o tema. Há dois outros senadores cujas atuações também precisam ser verificadas. É, portanto, uma discussão muito ampla, rica e complexa. Por hora, todavia, continuemos com Blairo. Alguns leitores lembraram que Blairo não é mais noviço em política, tampouco no Senado, casa onde já atuou na condição de suplente de Jonas Pinheiro. É verdade. E isso recoloca em discussão algo que já discuti aqui deste espaço em inúmeras ocasiões passadas: a substituição de liderança política do agronegócio mato-grossense, ou simplesmente o vácuo de representação corporativa deixado por Jonas.

Após a eleição do Blairo governador, em 2002, o setor entendeu que já era hora de substituir Jonas Pinheiro da sua liderança no Congresso Nacional. As apostas foram muitas, com destaque para Helmut Lawisch, Nery Geller e Homero Pereira, entre outros. Helmut desistiu depois da primeira derrota nas urnas, Nery foi mais persistente, trocou de partido, e hoje ocupa, ainda que como suplente, uma vaga de deputado federal, e Homero é deputado de segundo mandato.
Por suas credenciais de ex-deputado estadual e dirigente partidário, e ainda, de ter sido presidente da Federação da Agricultura, Homero certamente tinha todas as credenciais para ser esse novo tipo de liderança. Ainda não aconteceu como tal, todavia, apesar de ter acabado de ser formalmente reeleito e empossado vice-presidente do Centro-Oeste da Frente Parlamentar da Agricultura e Pecuária.

A morte física de Jonas tornou natural esse processo de substituição de liderança que era um tanto forçado até então. Contudo, apesar dos esforços prévios, o setor ainda está órfão de representação local. Pelo menos na dimensão da representação que era exercida por Jonas. Nesse contexto surge a eleição de Blairo Maggi ao Senado. Um dos maiores players do agronegócio brasileiro, governador de dois mandatos, reconhecido internacionalmente pelo up grade que deu na sua visão ambiental, com ótimo trânsito junto ao ex-presidente Lula – o que lhe agregou naturalmente acesso a presidente Dilma e seu ministeriado, etc. Logo, quando todos pensavam que finalmente o agronegócio brasileiro (e especialmente o mato-grossense) ganharia um novo líder – e de tipo novo -, Blairo quebra essa substituição natural ao declarar-se desanimado e sem saber o que fazer com o longevo mandato de Senador.

Por esse viés pode-se concluir que não é por falta de função e desafios que Blairo se desanima. Entender seu enfado é outro viés a ser estudado. Vale registrar que a chamada Bancada Ruralista, segundo a revista Carta Capital de outubro passado, encolheu 46% nesta legislatura, em relação a anterior, por inúmeros motivos. Embora a revista tenha admitido que a bancada poderá se recompor ao longo da legislatura, o pessoal do Mino Carta fez a seguinte advertência: "Se (a bancada ruralista) não evoluir nas práticas e no discurso, incorporando a preocupação ambientalista e de sustentabilidade, poderá ser varrida para a lata de lixo da história".

Talvez isso explique, ao menos em parte, a dificuldade que Homero Pereira encontrou para se afirmar como liderança do segmento, e ao mesmo tempo esteja desencorajando o Blairo a tentar tal representação.

Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: [email protected].

 

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