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Uma lição de vida

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Quando este artigo estiver publicado, a cerimônia do Oscar já terá acontecido. Não há problemas. O fato do filme “127 Horas” ganhar ou não em qualquer categoria da premiação máxima do cinema americano, não o eleva ainda mais e nem o menospreza. A história é grandiosa com ou sem qualquer tipo de prêmio.

Para os que ainda não sabem sobre a história do filme, um breve resumo. Baseada em um episódio real (e infeliz) da vida do alpinista americano Aron Ralston, o filme mostra como ele lidou com um acidente em um cânion, em Utah (EUA), em 2003, no qual seu braço direito ficou preso entre uma parede e uma rocha por 127 horas ou cinco dias.

No início, parece uma coisa inacreditável. Um lance do acaso, que sempre achamos que não acontecerá com nenhum de nós. Mas acontece. E agora, o quê fazer com o braço preso a uma rocha de alguns muitos quilos e sem ninguém para ajudar? O que começar a pensar quando a água e a comida estão por acabar? O cansaço tomando conta, a força indo embora, a esperança de ser encontrado por alguém inexiste e o medo da morte vai parecendo mais real.

O mais correto seria tentar a qualquer custo tentar mover a maldita rocha, gritar igual a um louco, se desesperar. Sim, o personagem não avisou a ninguém aonde iria, não tinha um celular ou qualquer meio de comunicar-se com ninguém. É a tragédia em sua forma mais angustiante. Tudo que você poderia pensar para ajudar, não há.

Ele até pensa na possibilidade do desespero, mas isso não o auxiliará. O que faz é refletir na vida. Principalmente nas pequenas coisas que deixou para trás e que agora poderiam ajudá-lo. No telefone que a mãe lhe fez e que não atendeu momentos antes de sair como louco para a aventura malfadada. No canivete suíço que não conseguiu achar e por isso o deixou de lado e que o auxiliaria na missão inglória, que culmina na parte tensa do filme.

Na namorada que deixou no mundo lá fora e acredita que não verá mais, assim como seus familiares. No convite de uma festa que recebeu ao encontrar duas estreantes em alpinismo no mesmo local. A doce lembrança de beber um refrigerante gelado. Enfim, tudo que fazemos tão automaticamente, mecanicamente que nem paramos para pensar nestas coisas.

O que este ótimo filme mostra não é a coragem sobre-humana na qual uma pessoa teve para amputar o próprio braço para salva a vida. Isto, por si só, é um fato impressionante. Mas ele aponta como as pessoas pensam e se sentem ao serem lançadas a situações limites. Seria como dizer o ditado neste tipo de caso: “passa um filme diante dos olhos”.

Ao estar em uma situação limite, diante da tragédia iminente, é fácil pensar na morte, em como poderia ter feito algo de outro jeito, a angústia por ter esquecido algo importante que poderia ajudar no momento. Somente em uma situação como esta é que damos o devido valor a gestos simples, lembrar de pessoas que amamos, por exemplo. O diretor Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?), apesar de algumas cenas chocantes, pretende mostrar que o personagem não é só força de vontade para lutar pela vida. Ele quer dizer que somos muito frágeis em nossos sentimentos quando lidamos com algo complexo.

A rocha que prende que o personagem estava o esperando a vida toda, diz ele em um momento de reflexão. A pedra e a prisão a que foi abruptamente submetido nada mais é do que seu momento de vida, de pensar friamente no que estava fazendo, no rumo que suas decisões projetavam seu destino. Esta é a beleza da história.

Sem perder a lucidez um minuto, Ralston (muito bem interpretado por James Franco) é um exemplo de superação, sem dúvida. De que, apesar de toda a situação adversa, é possível triunfar. Ou seja, um filme magnífico. Quem se atentar bem as entrelinhas da história, vai tirar dele uma lição de vida, além de passar a se apegar a pequenas coisas e dar mais valor a algumas relações pessoais.

Alex Fama é jornalista, editor de Só Notícias e apreciador de cinema

 

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