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Uma Doutrina do Amor

*Emanuel Filartiga é Promotor de Justiça em Mato Grosso
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A um amigo, que carrega água na peneira.

Indo pela vida me parece ainda que moinhos de vento mudam o mundo. Não, amigo! Eu não esqueço do que Clarice Lispector pediu: “(…) E que eu não esqueça, nessa minha fina luta travada, que o mais difícil de se entender é a alegria. Que eu não esqueça que a subida mais escarpada, e mais à mercê dos ventos, é sorrir de alegria.(…)”

Quantas vezes vimos reconstruir com o coração o que a cabeça havia aterrado. E a própria razão construir-se sobre irracionalidades. Ora! O claro não é somente aquilo que se vê.

Miguel de Unamuno disse que há pessoas que parecem pensar apenas com o cérebro, ou com qualquer outro órgão que seja específico para pensar; enquanto outros pensam com todo o corpo e toda a alma, com o sangue, com o tutano dos ossos, com o coração, com os pulmões, com o ventre, com a vida. Diz-se que o homem é um animal racional, não sei por que não foi dito que é um animal sentimental, pensava ele.

A coisa mais sóbria do mundo é o sentimento, é o amor.

É preciso coragem para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico. Mas eu sou das pessoas que mandam flores.

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto…E conversamos toda a noite… Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”. (Olavo Bilac)

O entendimento na base do amor, uma doutrina de amor, um amor intellectualis de que falava Espinosa. Um esqueleto emocional, não só de ossos. Alguns filósofos, cientistas, profissionais me dirão que o amor é uma coisa profunda. Não é coisa casual.

Deixando essa profundidade de lado, as coisas casuais, as desimportantes, preservam também o amor; fazem-se veladamente, aos poucos, mediante detalhes de tão grande reserva que por várias vezes passam de todo despercebidos.

Mas não a um poeta (eu sei que os poetas e os filósofos são irmãos gêmeos). Daí deixo o ensinamento de Adélia Prado, que meu pai e minha mãe me ensinaram também:

Minha mãe achava estudo

a coisa mais fina do mundo.

Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,

ela falou comigo:

“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.

Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.

Não me falou em amor.

Essa palavra de luxo.

 

 

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