PUBLICIDADE

Uma conversa com Delfim Neto e Fritjof Capra

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Neste mês de agosto estive com Fritjof Capra, nos Estados Unidos e com Antonio Delfim Neto, em Cuiabá. E, caramba, como o pensamento e as propostas de ambos são divergente! Se por um lado Capra se esforça na construção teórica de um mundo novo, com a quebra de paradigmas, Delfim insiste nos velhos modelos econômicos e de verdades absolutas como condutores de um mundo em transformação.

É claro que Capra, um físico austríaco, autor dos livros “O Ponto de Mutação” e “O Tao da Física” não compreende a linguagem econômica tanto quanto Delfim. O “gordo”, como é chamado o ex-ministro brasileiro, é um profundo conhecedor de economia, sobretudo a linguagem econometrica, mas sua erudição serve muito para lhe gerar respeito acadêmico, não pra mudar a vida das pessoas para melhor. Ou, para ser justo, não para mudar a vida da grande maioria das pessoas para melhor.

Delfim, um personagem fundamental na história econômica e política brasileira nos últimos cinqüenta anos, gosta de criticar a condução de políticas econômicas. Critica todas, exceto a sua própria. Mas, no fundo ele quer, como diz Kleber Lima “mudar o resultado das coisas, fazendo o que fazia antes”, ou seja, para Delfim, o importante é que a propriedade privada seja sempre preservada e valorizada, um “dogma” do capitalismo, e para isso, sua teoria econômica obedece à lógica do capital. E o povo nesta lógica? Ah, o povo é um detalhe.

Capra fala em subverter essa ordem. Em sua linguagem, que não pode ser chamada de marxista, tampouco socialista, o povo, assim como o meio ambiente é primordial. Para materializar este conceito, Capra se esforça em discutir teorias que versem sobre um novo ambiente de negócios, aquele chamado de “ganha-ganha”, com os valores vistos de uma forma vertical, ou seja, onde o homem é tão importante quanto a natureza.

Delfim, quando é conveniente, insiste na “mão invisível”, ou seja, que o mercado é que deve estabelecer suas regras e que a dinâmica de uma economia não precisa da intervenção estatal. Mas quando a conveniência é outra, ele prega a intervenção estatal, sobretudo para proteger interesses privados. É a dupla seletividade dos discursos de Delfim Neto.

Assim, para Delfim, o Mato Grosso vai crescer, enriquecer e se tornar um grande caso de sucesso. Basta o Estado não atrapalhar. Para Fritjof Capra, Mato Grosso, assim como a Amazônia, precisa ser pensado de forma diferente, com reflexões sobre o limite que o crescimento econômico deve ter para não afetar o meio ambiente e nem para que sirva apenas como uma maquina para produzir e reproduzir desigualdades.

Mauricio Munhoz Ferraz é economista em Mato Grosso

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias

Naturalidade versus artificialismo

Independente do estado em que se encontre hoje, é...

Ultraprocessados podem afetar seus hormônios?

Nos últimos anos, os alimentos ultraprocessados passaram a ocupar...

Viver

É provável que a realidade do suicídio já tenha...

Conquistas Merecidas

Há escolhas que fazemos muito antes do primeiro passo....