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Tecnologia e o futuro

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Em meados dos anos 70 quando tive a oportunidade de sair do Brasil e vir aos EUA realizar mestrado, juntamente com mais dois professores da UFMT, integrando o primeiro grupo de docentes de nossa universidade e encarar aquele desafio, deparei-me com um mundo novo, antes por mim visto apenas em filmes e nos noticiários internacionais pela recém implantada TV Centro América, graças ao pioneirismo de Antonieta Ries Coelho, uma verdadeira visionária em nosso Estado. Saindo de Cuiabá, onde jamais havia tido contato com um computador e outras parafernálias eletrônicas "avançadas" para a época, o choque cultural ( não saber a língua principal deste país e seus costumes), também sofri um choque tecnológico.

Na universidade do Texas, em Austin, onde um grupo de brasileiros e outros professores/estudantes latino-americanos tinham como desafio aprender inglês e depois iniciarem seus programas de mestrado em diversas universidades norte-americanas, deparamos com laboratórios de línguas, que além do inglês que devíamos exercitar todos os dias também mais de 150 outras línguas, incluindo aymará, guarany e outras mais de países da América Latina, Caribe, Ásia e África. Televisão em branco e preto não existia mais nos EUA. E pensar que em Mato Grosso estávamos apenas no início da era televisiva tudo em preto e branco.

Para manter contato com o Brasil era um sufoco, não pelos problemas existentes em um país de primeiro mundo, mas pelas condições de atraso em que nossa telefonia se encontrava. Às vezes a demora para completar uma ligação era de mais de duas ou três horas. O mesmo acontecia com quem de Mato Grosso desejava falar com uma pessoa nos EUA. Era necessário ir a um posto da concessionária, pedir a ligação e se a pessoa desejasse podia ir fazer alguma outra coisa, pois nunca o tempo de espera era menor do que , três ou até quatro horas.

As relações bancárias eram mais uma verdadeira novela. Para conseguir receber dinheiro do Brasil, para ajudar no sustento da família do professor/bolsista o mesmo sufoco. Uma simples remessa para "fechar" o câmbio dependia da Agência do Banco do Brasil em Corumbá, já que nem a capital dispunha deste serviço. A partir dessas situações começamos a perceber que o Brasil estava muito atrasado em todos os setores em comparação com os EUA e com certeza outros países da Europa e Japão. Na área educacional as universidades dispunham de imensas bibliotecas centrais além de bibliotecas setoriais, dezenas ou centenas de revistas sempre atualizadas, serviços de buscas e pesquisas gratuitas ou a custo baixo.

Passadas quase quatro décadas, percebemos que essas distâncias tecnológicas diminuíram bastante. Mas percebemos que nosso país não tem se desenvolvido quase nada em relação aos demais países do primeiro mundo em termos de geração de conhecimento e invenções científicas e tecnológicas. Continuamos um grande produtor primário e exportador de mataria prima, alimentos in natura com pouco ou quase nenhum valor agregado e um grande consumidor de produtos e serviços tecnológicos. Exportamos milhões de toneladas de minério de ferro e grãos, deixando para as futuras gerações um enorme passivo ambiental como erosão, florestas destruídas, rios, lagoas e pessoas contaminadas por agrotóxicos e em troca importamos chips de alto valor agregado.

Esta semana as principais redes de TV e os grandes jornais impressos dos EUA trouxeram reportagens informando que, apesar de continuarem na vanguarda em diversas áreas, o governo americano (leia-se Barack Obama) anda preocupado com a evasão de cérebro, ou seja, em 2009 mais de 180 mil imigrantes ou filhos de imigrantes asiáticos deixaram os EUA, rumo aos seus países de origem ou de seus ancestrais. Os dois grupos principais são os chineses e os indianos. Em 2009 108 mil chineses saíram dos EUA rumo a China e em 2010 este total foi de 134,8 mil, a maioria da região da Califórnia conhecida como Vale doSilicio. Dentre as razões para esta perda de cérebros destacam-se melhores oportunidades na China e na Índia e também questões relacionadas com a imigração.

A outra notícia é a compra da rede Skype pela Microsoft por US$8,5 bilhões dólares. Isto vai possibilitar a gigante da tecnologia de Bill Gates competir de forma mais efetiva com outras gigantes da área como Google, facebook e deixar as tradicionais empresas da área de telefonia, como AT&T e Verizon de barbas de molho. Apesar de ter apenas 1.000 empregados a Skype, criada em 2003, já tem mais de 170 milhões de usuários diários mundo afora, podendo chegar a um bilhão dentro em breve.

Através deste sistema as pessoas podem se comunicar através de textos, voz e imagem de forma gratuita, não precisando usar e ter que pagar por ligações telefônicas. O Google também tem este serviço. Qualquer ligação para um telefone fixo ou celular localizado nos EUA e Canadá pode ser feita de um computador de forma gratuita. Ou se uma pessoa tem o skype e a outra não tem as ligações do computador para um telefone fixo ou celular em qualquer parte do mundo pode ser feita a um custo irrisório, reduzindo os custos das chamadas.

Segundo essas notícias e na visão dos altos executivos da Microsoft o mundo das telecomunicações deverá passar por uma grande revolução nos próximos anos. Isto beneficia muito todos os usuários do mundo todo. Mas quem detém a tecnologia deverá lucrar muito mais. Uma coisa é um país modernizar-se como usuário de tecnologia outra coisa muito diferente é quando o país desenvolve e criar novas tecnologias. Esta é a diferença entre desenvolvimento e subdesenvolvimento científico e tecnológico.

Enquanto os governantes dos países desenvolvidos estão voltados para como será o mundo do futuro e como seus países não podem perder o "bonde" da história, nossos governantes se debatem para oferecerem uma educação de baixa qualidade, mantendo milhões de crianças, jovens e adultos fora na escola ou analfabetos, gente morrendo nos corredores de hospitais públicos, mas orgulhando-se de exportar carne in natura, soja em grão e minério de ferro e importar trem-bala, VLT, BRT, lap tops, jatos de guerra e aparelhos celulares. Esta é a diferença entre o que somos o que queremos ser e o que seremos no futuro.

Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias, no momento nos EUA
[email protected]

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