Desde 28 de dezembro, os usuários do transporte público de Cuiabá estão sendo obrigados a pagar uma tarifa de 2,95 centavos. Esse foi o presente de despedida do então prefeito Chico Galindo.Mais uma vez tal aumento acontece na calada da noite, pegando a população cuiabana de surpresa.
Os problemas no transporte público de Cuiabá e Várzea Grande são antigos, pois não é de hoje que os trabalhadores têm que utilizar um transporte de má qualidade, sem ar condicionado, superlotados e com uma tarifa caríssima. Entra governo, sai governo e parece que o compromisso dos prefeitos eleitos é atender aos interesses dos empresários, ao invés da população.
O atual prefeito Mauro Mendes tem a chance de fazer diferente dos seus antecessores, embora o seu silêncio frente ao atual aumento da tarifa nos leve a crer que suas atitudes sobre tal problemática não serão tão diferentes dos demais. Mais uma vez a população terá que recorrer às mobilizações para terem seus direitos respeitados e não acabarem literalmente tendo que pagar o "pato".
Dessa forma a iniciativa de mais de 40 entidades, no dia 3 de janeiro, em lançar uma frente pela revogação do aumento da tarifa e um conjunto de ações para concretizar esse objetivo é de suma importância, pois são iniciativas como essa que podem forçar as autoridades a fazerem alguma coisa a favor da população. Foi assim em 2005, em que a Câmara Municipal de Cuiabá, pressionada com a mobilização popular organizada pelo CLTP (Comitê de Luta pelo Transporte Público) foi obrigada a abrir a CPI do transporte, a qual possibilitou a população a ter o mínimo de noção de quanto estava sendo roubada.
O relatório final da CPI apresentado em Dezembro de 2005 demonstrou que o valor da tarifa que era 1,60 naquele ano estava superfaturada e que o valor correto deveria ser de 0,81 centavos. Tal relatório apontava ainda que os empresários do transporte deviam à prefeitura 109 milhões de reais, somente com multas de contratos de concessão que não vinham sendo cumpridos. Apontava ainda uma divida de 29 milhões de reais com taxas de outorga e outros impostos que não foram pagos.
A "balela" contada hoje pelos empresários do transporte para justificar o aumento da tarifa com gastos em pneus, combustível e renovação de frota foi amplamente desmascarada pela CPI que demonstrou divergência nos números apresentados pelos empresários dos transportes e a Secretária Municipal de Transporte. Uma dessas divergências se refere ao preço dos pneus onde em 2003 as empresas apontavam um custo de R$ 851,00 na planilha e compraram o produto a R$ 730,00 reais, sendo assim, uma redução de 16,57% no custo. Já no preço do óleo diesel a diferença paga pelas empresas e o que foi apresentado na planilha foi 29% menor, apontavam os documentos apresentados pela CPI de 2005. Outro dado informado de maneira equivocada pelos empresários foi que o número de passageiros. Onde eles informavam que havia 4,6 milhões de passageiro ao mês, na realidade existia 5,9 milhões de passageiros, o que reduz ainda mais a tarifa.
Mesmo tendo esse arsenal de informações, as autoridades competentes nada fizeram para que a sangria aos cofres públicos fosse parada. Hoje encontramos na mesma ou até pior situação de 2005.
Até quando as autoridades fecharam os olhos pra esse roubo? Essa é uma pergunta que fica sem resposta. Porém o atual prefeito, que acabou de assumir e diz não "querer decepcionar a população cuiabana", tem o dever de remexer o que foi "varrido para debaixo do tapete" e desde já revogar o aumento da tarifa de ônibus. Isso é o que espera a população. Caso contrário, senhor Mauro Mendes e demais "representantes" do povo como os vereadores de Cuiabá, podem ter a certeza que durante todo o ano serão visitados com as tão importantes manifestações populares.
Eduardo Anicésio de Matos é servidor público, militante da Intersindical e atuou no CLTP de 2005 a 2009.