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Somos todos migrantes

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No Brasil, somos todos migrantes ou seus descendentes. Camponeses alemães expulsos pela miséria migraram no século XIX para Santa Catarina, um deles o pai do meu bisavô.

Sua neta, minha avó, casou-se com um descendente de holandeses e portugueses, neto por parte de mãe de um cacique carijó da região do Contestado.

A pesquisa genealógica familiar já identificou outras raízes portuguesas, francesas e guaranis. As novas gerações, as dos meus filhos, sobrinhos e primos, nasceram em oito estados brasileiros, do Rio Grande do Sul à Paraíba, passando por Mato Grosso.

Da mesma forma, as famílias que conheço possuem todas elas raízes africanas, asiáticas ou europeias, na sua maioria combinadas.

Mesmo os nossos índios originam-se de migrações milenares pelo estreito de Bering. Assim, não podemos ignorar o que está ocorrendo na Europa. O agravamento da crise humanitária, com milhares de migrantes chegando ao continente europeu todos os dias, não deveria surpreender ninguém.

Guerras como as da Síria e Iraque produzem multidões de vítimas e desabrigados que buscam refúgio onde imaginam que possam provisoriamente reconstruir suas vidas.

Da mesma forma, a fome e a miséria no continente africano. Ainda assim, são impressionantes as imagens de embarcações no Mediterrâneo repletas de humanos, tangidos pelo sofrimento e pelo medo, mas movidos pela esperança.

Muitos se comoveram com a foto, tão expressiva quanto trágica, de um pequeno menino sírio afogado numa praia turca após o naufrágio do barco em que a sua família viajava.

Talvez o episódio aumente a consciência das inúmeras mortes diárias de crianças nessas regiões do mundo, umas pelas bombas e balas, outras pelas doenças derivadas de catástrofes econômicas e ambientais.

A forma como reagimos a esse processo é reveladora de nosso grau de evolução, individual e coletivo.

Há os indiferentes, que julgam não ter nada com isso e nem se interessam pelo tema. Há aqueles mais sensíveis, que se sentem emocionalmente tocados, mas que suspiram conformados porque julgam nada poder fazer, e também aliviados porque o teatro dos acontecimentos é bem distante.

Há também os reacionários, representados pela extrema-direita europeia, que querem fechar com muros as fronteiras, imaginando que seus empregos e valores estão ameaçados pela presença de imigrantes, com outros idiomas e origens étnicas e religiosas e portadores de tradições culturais diversas.

Tais energúmenos são simbolizados pela repórter húngara que agrediu crianças numa barreira policial na fronteira com a Sérvia.

Felizmente, existem aqueles que optaram por abrir seus corações e mentes, como os que na Áustria e na Alemanha receberam os refugiados com flores, mensagens de boas-vindas e doações de roupas, alimentos e brinquedos.

É uma atitude que renova nossa fé na humanidade. Sentimo-nos representados por eles, tanto quanto pelo apelo do papa Francisco para que cada paróquia na Europa acolha pelo menos uma família de refugiados, seja qual for a sua fé religiosa.

É importante uma reflexão crítica sobre as causas dessa tragédia. Não há dúvida que além da responsabilidade das forças políticas locais envolvidas nas guerras civis, há igualmente responsabilidade dos Estados Unidos e seus aliados que utilizaram falsos pretextos para justificar a invasão do Iraque após os atentados de 2001, culminando por amplificar o caos na região.

A herança maldita da colonização europeia na África, assim como a ausência de uma cooperação econômica efetiva após os processos de independência, também contribuiu para o agravamento das crises em diversos países.

Outro elemento a ser avaliado é a ineficácia dos organismos internacionais, cuja intervenção muitas vezes é tardia e/ou insuficiente.

Trata-se de um questionamento urgente para prevenir a eclosão de outras catástrofes e mitigar os efeitos das atuais.

Todavia, a ação mais emergencial é abrir as fronteiras e os corações, abraçar os migrantes e reconhecê-los como irmãos nossos que necessitam amparo e solidariedade.

Luiz Henrique Lima é conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT).

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