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Será que a leitura, a escrita e a produção realmente são avaliadas pelos professores?

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Neste texto, farei uma análise do artigo Produção escrita e ensino: o texto como uma instância multimodal de Maria do Socorro de Oliveira, professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na qual desenvolve pesquisas sobre o letramento e sobre o gênero textual/discursivo. Quanto ao letramento seus trabalhos abordam o letramento nos domínios escolares e o letramento do professor, sob a perspectiva crítica, enfocando reflexivamente como os letramentos são mediados por textos e gêneros textuais. O interesse por este campo de pesquisa está marcado em sua formação: graduada e mestra em Letras, Doutora em Linguística, sendo orientanda da profa. Dra. Ingedore V. Koch, e, Pós-Doutora em Linguística Aplicada, sob a orientação de Angela B. Kleiman.

Ao abordar a temática produção, escrita e ensino a autora pontua três fatores inquietantes que merecem uma reflexão mais ampla. O primeiro deles refere-se à relação entre o oral e o escrito, sendo que elementos da oralidade presentificam-se na escritura, como um processo de atravessamento discursivo. Essa questão torna-se de suma importância, uma vez que é pouco discutida no meio educacional, principalmente na formação de professores de linguagem. Os educadores, em sua maioria, ainda se mantêm presos as formas tradicionalistas quanto ao fazer pedagógico que envolve a leitura, a escrita e a compreensão textual. Essa postura entrava o processo de aprendizagem como um todo, por isso precisa ser superado. Pois, a textualização e a retextualização são formados a partir de uma complexa rede de relações intertextuais e interdiscursivas que organizam o "modelo de mundo" concebido por um sujeito através do "mundo da linguagem".

O segundo fator consiste nos modos representacionais e comunicacionais empregados pelos produtores de texto. Em uma produção textual os recursos linguísticos e extralinguísticos utilizados são os mais variados possíveis e devem ser considerados na análise textual, bem como em uma avaliação. Pois esses recursos ampliam o grau de informatividade de uma produção.

Quanto ao terceiro fator, a autora destaca a importância do pensamento reflexivo e crítico do professor, no que diz respeito à linguagem, uma vez que a interação e a prática formativa na perspectiva dos letramentos, acontece quando o professor como "agente de letramento", prioriza a textualização e a retextualização de textos escritos com ênfase a compreensão/formulação, a fim de favorecer, interativamente aos professores e estudantes o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a linguagem escrita e consequentemente sobre o contexto social em que estão inseridos.

A reflexão de Oliveira destaca a necessidade dos educadores adotarem uma nova prática pedagógica mais condizente com a realidade atual. Ler e escrever não é mais o suficiente, o estudante precisa compreender fazendo inferências do que é lido relacionando-as com o seu cotidiano. Quanto ao trabalho de avaliação textual, os professores devem ir além da avalição centrada apenas na gramática normativa; se faz necessário também avaliar o grau de informatividade que o aluno expõe em seu texto, deve-se priorizar a criatividade, as irregularidades do estudante ao invés da obviedade.

Mas será que essa postura tradicionalista do professor de linguagem, quanto à textualização e à retextualização, ocorre por que eles são relapsos ou negligentes? Essa questão ocorre devido a falhas na formação do professor, da educação básica a formação docente. Atualmente, a maioria dos professores teve uma educação básica tradicionalista – anos 80; e uma formação docente nos anos 90, período em que a teorização tinha mais prestígio, e o centro de discussão, geralmente era o professor. Apesar de nesse período, ou até mesmo antes, termos alguns teóricos e pensadores, como Freire, Street, Magda Soares, Ferreiro entre outros, que já se posicionavam com uma nova visão, na qual o foco da escola deveria e deve ser o educando. Mas os educadores, em sua maioria, mesmo conhecendo a nova concepção de escola, de ensino e de aprendizagem, ainda se mantêm presos à forma tradicionalista em que foram formados, principalmente no que se refere às práticas de leitura, de escrita de produção e de compreensão textual; que é o objeto de pesquisa da autora deste artigo.

Pois, como ela relata, professores recebem as produções (redações) de seus alunos e não sabem o que fazer; são muitas, devido às salas superlotadas, e, com desvios de escrita gritantes, isso os leva a apenas apontarem os desvios ortográficos e devolver aos estudantes, sem lhes cobrar a reescrita. Outro apontamento que ela faz é o fato de professores compreenderem a escrita apenas como um produto autônomo e descontextualizado, dependente da gramática normativa, ou seja, tratam o texto como uma entidade fechada em si mesma, regido por uma convenção fixa e regular. Assim, o professor diagnostica os problemas, mas não consegue orientar o educando em uma visão mais ampla, pois está preso a suas amarras formativas. Outro fator agravante é que os professores focam suas avaliações nos textos tidos como "certinhos" com caligrafia legível, preso a gramática normativa e que escreve aquilo que o professor quer ouvir.

Dessa forma, reafirmamos que posturas como as acima descritas precisam ser revistas, pois essas práticas não são condizentes com a realidade vivenciadas pelos estudantes. Precisa-se superá-las na formação universitária e na formação continuada dos docentes, para que estes possam, na educação básica, desenvolverem atividades pedagógicas de textualização e retextualização, nas quais o aluno seja o foco do aprendizado; dando ênfase a informatividade, as irregularidades apresentadas pelos educandos em suas produções, pois a escola também deve trabalhar com o conhecimento que o estudante já tem internalizado em outros "eventos de letramentos", mesmo que sejam apenas orais. Ressaltamos ainda, que o professor não deve ficar preso apenas a escrita, ele deve considerar, no texto, os aspectos multimodais nele presente.

A retextualização é a forma como se dá a compreensão de um texto, a partir de seu grau de informatividade, "na passagem de uma ordem para outra" (ver Marcuschi, 2001, p. 47) entre fala e escrita. Segundo Marcuschi (2001), existem "quatro possibilidades de retextualização – 1. da fala para a escrita, 2. da fala para a fala, 3. da escrita para a fala e 4. da escrita para a escrita"; dessa forma, o professor precisa compreender o texto do escrevente como uma produção de um sujeito social, que ouve, fala, vê, compreende, escreve e assim tem uma compreensão de mundo, pois a partir da linguagem textual busca construir seu "modelo de mundo". Não pretendemos negar a gramática normativa no processo avaliativo, apenas questionamos o fato de ela ser o único objeto de avaliação textual; e, através da análise do presente artigo constatamos que a autora questiona esse posicionamento dos professores da área de linguagem.

O que os professores podem fazer na produção e na avaliação textual? Não ficarem presos apenas a questões de ortografia, de normatividade gramatical e de estética da escrita. Não cobrar a escrita, pura e simplesmente pela escrita; a escrita deve ser contextualizada, ter sentido para o escrevente, pois ele é um sujeito na sociedade. É necessário priorizar o sentido, a contextualização, a cotextualização, a coerência com sua condição social (a do estudante), a informatividade, a oralidade como base para a aquisição e domínio da escrita, entre outros fatores. Pois, o letramento acontece quando o estudante consegue significar o mundo em que está inserido a partir de sua realidade social.

Para que se compreenda melhor esse posicionamento do professor diante da produção textual a autora apresenta dez níveis de operação que auxiliarão o professor a desenvolver uma atividade de textualização e retextualização voltado para a multimodalidade textual. Em minha opinião, enquanto professor de linguagem, as dez operações, por ela apresentadas, contribuem significativamente para o aprendizado dos estudantes, o que precisa é o professor rever os conceitos utilizados até então e mudar o que for necessário, no sentido de romper com o tradicionalismo no ensino de leitura, escrita, produção e compreensão textual.

No artigo aqui analisado a autora, propõe uma reflexão sobre o trabalho do professor no sentido de desenvolver uma consciência crítica sobre a linguagem. Posicionamento este, que também considero essencial, uma vez que os professores devem se desprender das regularidades da língua para que, a partir da oralidade, da escritura, da imagem e de outros elementos multimodais, possam textualizarem e retextualizarem as produções de seus estudantes. E em um trabalho paulatino, e até mesmo de cumplicidade, nas produções, os educadores podem propiciar condições para os escreventes façam uso da escrita com todos os seus recursos, sem se mostrarem superiores ou constranger seus estudantes.

OLIVEIRA, Maria do Socorro. Produção escrita e ensino: o texto como uma instância multimodal. Projeto Temático Letramento do Professor. Fonte: www.letramento.iel.unicamp.br

Edivaldo Aparecido Mazolini (Mestrando PROFLETRAS/UNEMAT/Sinop)

 

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