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Semordnilap, realidade e imaginação

Claiton Cavalcante Membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis e do Instituto dos Contadores do Brasil
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Dizem que quem gosta de brincar com palavras acaba esbarrando em curiosidades curiosas: palíndromo, por exemplo, é toda aquela palavra que pode ser lida igual tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda, a famosa leitura de trás pra frente.

Mas há uma travessura menos famosa, em inglês: o semordnilap, que é justamente o contrário. Nele, ao invertermos a palavra, encontramos outra totalmente diferente e, veja só, até no nome há outra curiosidade, pois “semordnilap” é “palíndromes” lido ao reverso.

Foi assim e assistindo um podcast que descobri que “amor”, quando lido de trás pra frente, vira “Roma”. E já que estamos invertendo palavras, vale observar que “guns” (armas, em inglês) vira “snug” (confortável).

Coincidência ou não, o Guns N’ Roses esteve recentemente em turnê pelo Brasil justamente agora, provando que às vezes o rock acaba virando conforto nostálgico para quem viveu os anos 1990 de walkman no ouvido e pôster na parede. Né, meninas!

Naquela época, Axl Rose berrava sobre caos e rebeldia; hoje, a plateia canta “November Rain” sentada em cadeira numerada, com cerveja cara na mão; fui em um dos shows do guitarrista Slash e os bebedores pagavam 18 reais na lata de cerva. Enfim, de “guns” para “snug”, eis a trajetória natural de quem envelhece sem perder o gosto por um bom riff de guitarra.

Voltando ao amor e a Roma: ainda não fui à cidade eterna. Se algum dia jogar uma moedinha na Fontana di Trevi, vai ser preciso pedir ao universo que primeiro me dê passagem pra Itália. Enquanto isso, a única Fontana que conheço fica em Serra Negra, interior de São Paulo, cenário de passeio familiar e fotos tímidas com pombos, não exatamente de grandes paixões como na original italiana, mas a réplica brasileira conforme o enquadramento do fotógrafo faz pensar que estamos na Via del Corso.

Nossa língua portuguesa é expert nessa ousadia: basta inverter “amor” e aterrissamos em Roma, cidade que habito mais pelos livros do que pelos mapas. Nas páginas, o amor transborda realidade temperada com exagero: tem imperador apaixonado virando assunto de fofoca histórica (Nero), gladiador que morre por honra (Flamma), turista rabiscando paredes milenares para demonstrar amor eterno à namorada (Ivan). É tudo intenso, gesticulado como todo bom italiano, cheio de vinho e opinião de escritor viajante.

A graça entre “amor” e “Roma” está exatamente aí: mesmo sem pisar no Coliseu, já visitei a cidade eterna guiado por personagens que viveram paixões desproporcionais. Desbravei romances em que Júlio César e Cleópatra transformam política em trama de poder temperada com desejo, que daquela cópula nasceu Ptolomeu 15, conhecido pelos íntimos pela alcunha de Cezinha.

Afinal, minha Roma mora nos romances e crônicas; a minha Fontana, por ora, é aquela de Serra Negra, onde os pedidos são mais discretos, mas não menos sinceros; não é mesmo Acnaib?

E o melhor dessa troca de letras? Tanto Roma quanto o amor aceitam ser reinventados, virados do avesso e vividos de novo. Quem sabe, um dia, troco a fontana do interior paulista pelos becos históricos da cidade eterna.

Mas até lá, sigo rindo das trapalhadas do amor, da nostalgia confortável de um show de rock, com cerveja cara, e inventando finais possíveis; nem que seja só na imaginação, nas páginas dos livros, na internet ou nos bancos da praça, entre pombos e sorvete de massa.

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