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Sem celular: solução ou mais problema?

Claiton Cavalcante Membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis
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Meu primeiro celular foi o “pontudo”, Nokia 5110, adquirido após um ano de economias e parcelado em duas dezenas de prestações. Ele era “top”, tecnologia GSM, não tinha player, bluetooth, câmera, wi-fi? Nem existia. Naquela época o telefone celular era usado para conversar ou falar; a ordem dos verbos pouco importa.

Nos últimos dias temos acompanhado debates prós e contras a proibição de celulares nas escolas. As discussões se acaloraram após a sanção da Lei nº 15.100/2025, lei com apenas cinco artigos, que dispõe sobre a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais nos estabelecimentos públicos e privados de ensino da educação básica.

Logo no primeiro artigo, a Lei tem por objetivo dispor sobre a utilização de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais, inclusive telefones celulares, com a intenção de salvaguardar a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes.

Para os que defendem a ideia, assim como eu, a proibição do uso de celulares nas escolas tem se tornado uma medida cada vez mais comum, sob a justificativa de melhorar a concentração dos alunos e reduzir distrações e más influências.

No entanto, especialistas, defendem que essa restrição não pode ser analisada isoladamente, especialmente quando se leva em conta o crescente fenômeno da nomofobia, que é o medo ou ansiedade de ficar sem o celular.

Cabe mencionar que a Lei não foi totalmente má, pois em seu artigo quarto, disciplina que as escolas deverão elaborar estratégias para tratar do tema do sofrimento psíquico e da saúde mental dos estudantes, informando-lhes sobre os riscos, os sinais e a prevenção do sofrimento psíquico de crianças e adolescentes, incluídos o uso imoderado dos aparelhos.

Não é difícil de perceber que vivemos em uma sociedade superconectada, na qual os dispositivos móveis se tornaram uma extensão do cotidiano e do corpo, especialmente entre os jovens, mais ainda entre meninas.

Hoje o celular não é apenas um meio de entretenimento, mas também uma ferramenta de comunicação, trabalho, informação e, muitas vezes, apoio emocional. Mas, depender dele para sobreviver, entendo que beira a insanidade. Tem gurizada que dá pinote quando fica sem o danado do aparelho!

Especialistas sobre o tema afirmam que ao serem privados desse acesso nas escolas, muitos estudantes podem apresentar sintomas como ansiedade, irritabilidade e dificuldade de concentração. Ou seja, em vez de melhorar o desempenho acadêmico, a proibição pode acabar intensificando o problema, tornando o ambiente escolar um gatilho para esses sentimentos.

Ou quem não se lembra do caso ocorrido na Paraíba, do menino de 13 anos, que confessou ter matado a mãe e o irmão e ferido o pai com uma arma de fogo após ser proibido de usar o celular?

Por outro lado, é inegável que o uso excessivo do celular em sala de aula prejudica o aprendizado. A dispersão causada por redes sociais, jogos e mensagens compromete a atenção dos alunos, dificultando a absorção de conteúdo e reduzindo a interação entre colegas e professores.

Dessa forma, restringir o uso dos celulares pode ser benéfico para incentivar o foco e o desenvolvimento de habilidades sociais. No entanto, apenas proibir não resolve a dependência digital, pelo contrário, pode torná-la ainda mais evidente.

Evidente porque transformará alunos desfocados em mais desfocados ainda, além disso, a Lei diz que outros equipamentos eletrônicos poderão ser utilizados para uso pedagógico, contudo, o governo esquece que em muitos municípios nos confins do nosso país, nem energia elétrica funciona de maneira satisfatória, que dirá internet.

Na verdade, o que as escolas precisam é adotar uma abordagem mais equilibrada, que envolva não apenas a restrição do uso de celulares, mas também a educação digital. Em vez de simplesmente proibir, por que não ensinar o uso consciente da tecnologia? Nos dias atuais, vemos que muitos professores ainda teimam em utilizar lousa com giz.

A implementação de programas que promovam o autocontrole digital e a conscientização sobre os impactos da superconectividade seria um caminho mais eficiente para combater a nomofobia e preparar os jovens para um uso mais saudável da tecnologia. Nesse aspecto, talvez a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas seja uma ferramenta para superar esse possível problema a ser enfrentado pelas escolas, principalmente das localidades mais longínquas.

Claro que não devemos responsabilizar somente as escolas, pois segundo a assessora de políticas públicas inovadoras da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Débora Garofalo, não adianta a escola proibir celular e os pais continuarem deixando os filhos usar cinco horas seguidas em casa. Há pais que esquecem que os filhos tem que fazer tarefas da escola. Ou o esquecimento seria proposital tão somente com o objetivo de não ter que estudar junto com os filhos?

Portanto, a proibição de celulares nas escolas é uma solução paliativa ou inócua para um problema mais profundo. Visto que sem uma educação digital efetiva, a dependência tecnológica e os impactos da nomofobia continuarão a crescer.

Entendo que o desafio é encontrar o equilíbrio entre limitar o uso excessivo do celular – também tenho filhos – e ensinar a geração Beta a utilizar a tecnologia de forma consciente e responsável.

Ah! Em casa, inocentemente, cometi o equívoco de falar que voltaria a utilizar o Nokia 5110… como fui inocente… quase fui excomungado!

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