Apesar das diferenças de tempo e de espaço, podemos tentar traçar um certo paralelo entre a luta pelo fim do racismo e da discriminação racial nos EUA com as manifestações populares que vem ocorrendo ultimamente no Brasil, incluindo este mais recente movimento denominado de “rolézinho”. Afinal, tanto o primeiro quanto o segundo estão relacionados com a questão dos direitos fundamentais da pessoa humana, como a liberdade de ir e vir, de frequentar espaços públicos, incluindo estabelecimentos comerciais privados, liberdade de reunião, de manifestação, enfim, a busca de uma igualdade que transcende a cor da pele ou da origem étnico-racial, status social e local de residência.
Tanto os EUA quanto o Brasil, em seus primórdios, desde a colonização até quase o final do século 19, tiveram suas economias baseadas no trabalho escravo, as pessoas tinham o mesmo status que animais não racionais, as quais podiam ser compradas,vendidas ou trocadas e sujeitas a um regime de extrema violência por parte de seus senhores, tendo o Estado como garantidor desta ordem política,social e econômica muito perversa, em se tratando de dignidade intríseca do ser humano Todas as instituições, inclusive as Igrejas Católica no Brasil e protestantes nos EUA coonestaram tais praticas desumanas, apesar de pregarem a figura de um Deus, pai de todos os seres humanos.
A escravidão nos EUA foi abolida ao final da Guerra civil, que custou 750 mil de vidas, conforme o historiador David Hackers, em notícias veiculada no NY times em 02 de abril de 2012 e prejuizos sociais e economicos consideráveis ao país, através da Emenda Constitucional número treze que foi aprovada em Abril de 1864 no Senado, em janeiro de 1865 na Câmara Federal e ratificada por dois terços dos Estados em dezembro de 1865. No Brasil a prática da escravidão foi extinta em 13 de maio de 1.888, por Ato da Princeza Isabel.
Tanto nos EUA quanto no Brasil os ex-escravos e seus descendentes continuaram e continuam a ser discriminados, lá de maneira formal, através de uma legislação segregacionista e aqui através de inúmeras formas de manipulação para fazer crer que tanto brancos quanto negros e seus descentendes são iguais em direitos e oportunidades, o que está longe de ser verdade.
No caso dos EUA , em práticamente todos os Estados do Sul e alguns de outras regiões tanto a nível Estadual quanto local as práticas discriminatórias foram estabelecidas através de legislação que proibia negros e seus descendentes de frequentarem os mesmos espaços e ambientes que a populaçao branca. Isto incluia,por exemplo,a criação de escolas e universidades só para negros, até mesmo igrejas adotaram tais práticas. Era e ainda e comum, existir emu ma mesma cidade uma igreja de uma denominação frequentada só por brancos e outra da mesma denominação só para negros e seus descendentes. Casamentos inter-racias eram considerados crimes em vários Estdos.
Em lugares públicos era “normal” a existência de banheiros para negros e outros separados para brancos, barbearias para negros e barbearias para brancos e assim por diante. O Sistema de transporte público em ônibus ou trens indicavam que alguns assentos mais a frente eram destinados aos passageiros brancos e os do fundo/atraz eram para negros, com a determinação de que se os assentos para brancos estivessem livres os negros não podiam se sentar, mas se faltassem lugares para brancos ai os passageiros negros deveriam ceder os lugares aos passageiros brancos, sendo obrigados a descer ou a continuarem a viagem de pé.
Em várias cidades existiam e ainda existem certas áreas onde só vivem negros e atualmente descendentes de outros grupos minoritários e outras onde só vivem brancos. Como o Sistema escolar é baseado na residência, isto também acaba reforçando um Sistema escolar discriminatório em relação a cor e origem étnica dos estudantes.
Rosa Parks , uma negra que residia em Montomery, capital do Alabama, no dia 01 de dezembro de 1955, quando retornava do trabalho embarcou em um ônibus e ocupou um lugar reervado para negros, logo atraz dos bancos reservados para brancos. O ônibus logo ficou lotado, alguns pontos depois um passageiro branco entrou no ônibus e como nao havia mais assento destinado aos brancos, o motorista, que pela Lei municipal tinha poder de polícia, exigiu que a mesma se levantasse e cedesse seu lugar ao passageiro branco, no que não foi obedecido. ato continuo o motorista, que também tinha função policial a prendeu e levou para Delegacia.
O resto da estória e suas semelhanças com os “occupy” e os rolézinhos, será objeto da próxima reflexão. Todos estão relacionados com as práticas da não violência como instrumento de luta em defesa dos direitos civis, principalmente contra a discriminação e a exclusão política, social e econômica. Esta é uma realidade universal que transcende as fronteiras nacionais e o tempo. É a luta por uma sociedade onde a igualdade, a liberdade e a justiça devem caminhar juntas!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia
[email protected]