Todo mês de maio, especialmente no dia 5, nós, mato-grossenses, temos o dever moral e histórico de lembrar quem foi Cândido Mariano da Silva Rondon. Mais do que um militar, mais do que um cientista ou pacificador, Rondon foi — e é — um dos maiores exemplos de serviço público, ética e humanidade que o Brasil já teve. Um filho do nosso solo que transformou sua vida em legado.
Rondon nasceu em 1865, em Mimoso, pequeno povoado perto de Cuiabá. Descendente de indígenas bororo, criado com sacrifício por um tio que lhe garantiu acesso à educação, ele trilhou um caminho improvável: saiu da periferia do império para se tornar Marechal do Exército, patrono das comunicações e símbolo mundial de respeito aos povos originários.
Ele nunca renegou sua origem. Nunca usou o poder para si. Ao contrário: enfrentou selvas, doenças tropicais, isolamento e adversidades extremas para interligar regiões remotas do Brasil com fios de cobre e palavras de paz. Onde a maioria via selva e “ameaça”, Rondon via cultura, vida, respeito.
Foi ele quem cunhou um dos lemas mais civilizatórios já ditos por alguém com farda:
“Morrer, se preciso for. Matar, nunca.”
No Brasil de hoje — onde a intolerância ganha aplausos e a história é, muitas vezes, esquecida — lembrar Rondon não é apenas prestar uma homenagem: é fazer um ato de resistência. Especialmente aqui em Mato Grosso, sua terra natal, que tantas vezes trata seus heróis com descaso, e que vê nomes de políticos superarem os de figuras realmente grandiosas.
Enquanto muitos brigavam por poder, Rondon conectava pessoas. Enquanto alguns queriam apagar culturas, ele as defendia com unhas, dentes e argumentos. Ele criou o Serviço de Proteção aos Índios, propôs o Parque do Xingu, pacificou tribos sem disparar armas, e colocou o Brasil no mapa da ética indigenista mundial.
Foi reconhecido em Nova York, premiado por sociedades científicas, nomeado patrono da Arma de Comunicações e teve sua data de nascimento convertida em Dia Nacional das Comunicações. Merecido. Visionário que foi, certamente não imaginaria celulares, satélites e redes sociais — mas entenderia, com clareza, que a verdadeira comunicação começa com respeito.
É por isso que maio deve ser, sim, o mês de Rondon. E que todos os que nasceram ou escolheram Mato Grosso como lar tenham a humildade de conhecê-lo antes de se aventurarem na política ou na liderança pública. Precisamos de mais Rondon e menos vaidades.
Mais que uma efeméride, lembrar de Rondon é renovar um compromisso com a civilidade. Com a escuta. Com o outro.
Mato Grosso tem um herói. Cabe a nós fazer valer essa herança.