Seu Chico e Dona Josefa eram de uma cidade do interior. Gente ordeira e trabalhadora. Tinham um sonho: comprar um telefone.
Ela arranjou dois turnos de doméstica e ele conseguiu podar mais árvores e cortar mais grama de residências e comércios. Trabalharam arduamente.
Aí compraram o bendito e sonhado telefone. Que beleza poder telefonar para os parentes lá longe. Os filhos também tiveram sua vez (eram em cinco), o mais velho namorava. Os vizinhos vieram felicitar:
– Parabéns pelo telefone.
– Mas vizinho, é nosso, não façam cerimônia.
E, de fato, não fizeram nenhuma cerimônia.
Um mês passado, veio à primeira conta do telefone:
– Cruz em credo! Mas o que é isso? Vai quase tudo o que ganho… lamentou a Josefa.
– Mulher, deve ser engano. Eu vou reclamar.
Reclamou. Mas não havia engano: plano, taxas, serviços, interurbanos, etc.
Aí passaram a cortar os gastos com telefonemas de vizinhos, pouparam e… deu quase a mesma coisa…
– Mas desse jeito não dá, dizia ele.
Os meninos haviam telefonado para um certo programa de televisão e não sabiam que era tudo cobrado… e bem cobrado.
Josefa e Chico então tomaram uma decisão heróica: desligar o telefone.
Ele resoluto puxou a tomada e enfiou o aparelho dentro de um saco e escondeu atrás dos casacos de inverno.
Viveram felizes por mais ou menos meio ano. Os serviços de poda aumentaram e Josefa recebeu um aumento.
– Sabe o que é Chico, nós podíamos comprar um carro.
– Também já pensei, mas deve ser usado, é claro.
Voltaram a sonhar: passear nos finais de semana… como é bom sonhar!
Calcularam o quanto poderiam dispor por mês num financiamento.
Tiraram um dia para ir a uma garagem. Gostaram de um modelo (o mais antigo que poderia ser financiado). Aparentemente estava bem conservado e ela gostou sobremaneira da buzina que imitava um boi berrando. Foram até o escritório preencher a imensa ficha cadastral e demais formulários que seriam submetidos ao banco.
– Voltem segunda-feira para ver se o banco aprova o financiamento.
Voltaram. Que decepção:
– Vocês estão com o nome sujo na praça.
– Mas não pode ser, nós somos pessoas honestas.
– Há uma pendência de um telefone. Acontece que está protestado.
– Protesto? Mas nós não usamos mais o tal telefone.
– Vocês não deram baixa da linha e as taxas vêm mensalmente.
O casal ajuntou o queixo do chão. Por terra foram os sonhos… ele ajuntou o chapéu, pôs na cabeça e disse:
– Bendito telefone*!
*Não é mera coincidência que a metáfora do “telefone” utilizada na crônica, serve de exemplo com a burocracia atual de planos, taxas, serviços, fidelidades, entre outros, que consomem o nosso precioso tempo e dinheiro com ofertas de produtos e serviços que nem sempre queremos ou necessitamos.
Jeferson Odair Diel ([email protected]) e Ireneu Bruno Jaeger ([email protected])