Vivemos hoje numa sociedade na qual a educação só tem fundamento quando canalizada para o mundo das profissões. Até porque, são nessas profissões que estão os melhores salários. E os melhores salários é o ingresso para ascensão social e econômica dos indivíduos (status).
Naturaliza-se a idéia de que o profissional ideal é aquele(a) cujo esforço intelectual esta atrelado a capacidade que esse indivíduo tem de lidar com a complexidade tecnológica. E nesse caso, essa elite de profissionais só pode ser forjada nos bancos escolares da universidade.
Não é por acaso que jargões populares sobre a importância do estudo no trabalho ainda pipocam aqui e ali, do tipo: se você quer ser alguém na vida, vai estudar!
Dentro dessa lógica contraditória das profissões gostaria de pedir permissão ao leitor e colocar duas perguntas para fazer pensar: porque as diferenças salariais entre as profissões são tão gritantes? Porque um varredor de rua, pedreiro, faxineira, pintor, etc, ganham um salário em média muito menor em relação a outras profissões como advogado, médico, engenheiro, etc?
Não esta se discutindo nesse artigo o mérito e a relevância das profissões que pagam salários altos. Não são esses profissionais que recebem altos salários, mas sim, se critica os baixíssimos salários dos profissionais que não tem formação universitária.
O que estamos tentando discutir aqui é a lógica de reconhecimento social aos baixos salários de profissionais cuja profissão nasce no cotidiano das necessidades de sobrevivência humana e pela qual são desprovidas do pré-requisito da formação universitária.
Parem e pense: o que seria de todos nós se não fossem os pedreiros, faxineiros, catadores de papel, coveiros, pintores, carpinteiros, cozinheiras, recepcionistas, vigilante, etc.? Já pensou se todo jovem em idade escolar sonhasse apenas com as profissões que pagam salários mais altos?
Creio que sem esses profissionais, entraríamos num caos social. Mas se eles são importantes, como são mesmo, porque não são reconhecidos com um salário justo e digno do esforço da profissão?
O pior é que nossa sociedade trata com desdém esses profissionais mal pagos. Trata-os como incapazes intelectualmente, trata-os com preconceito, e, com isso, alimenta as fileiras da pobreza, da miséria, da violência e da injustiça.
Enfim, a motivação para escrever esse artigo vem do novo site do governo de São Paulo intitulado “salariômetro” (www.salariometro.sp.gov.br). Confiram e vejam como as diferenças de salários entre os profissionais alimentam uma sociedade desigual, competitiva e seletiva. Pensem e reflitam, afinal, conscientizar é também um exercício de mudança social.
Oseias Carmo Neves – ociólogo e professor da Unemat/Juara
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