Tenho acompanhado as opiniões dos leitores e, como empresário e presidente de uma entidade ambientalista, gostaria de fazer algumas colocações:
A questão das propinas nos órgãos ambientais em Sinop e em Mato Grosso é quase uma tradição, pois a 15 anos isso vem ocorrendo. Agora fala-se em estorsão pelos fiscais. Curioso que nunca vi o interesse fazer reflorestamento produtivo para manter a sustentabilidade do negócio quando a madeira viesse a se tornar escassa. Também nunca vi a Sindusmad e os madeireiros preocupados em promover as questões ambientais tais como: Preservação de rios e nascentes, reflorestamento conservacionista, educação ambiental, campanhas de conscientização, redução das queimadas e poluição do ar. Batem no peito e dizem que cumprem as leis… Não se trata de cumprir leis, mas sim de consciência de que dependemos do meio ambiente e que podemos explorá-lo, mas tomando alguns cuidados para reduzir o impacto ambiental. A operação Curupira demorou para vir, mas era certo que mais certo ou mais tarde aconteceria. Espero que os órgãos ambientais não cruzem as imagens de satélite com as matas que “deveriam” estar em pé…
Planos de manejo florestal que objetivavam explorar a madeira e manter a floresta em pé foram “misteriosamente” convertidos em autorizações de derrubada e transformados em plantações. Áreas foram derrubadas para produzir soja e arroz e, só depois se descobriu que a terra era inadequada para o plantio devido à grande quantidade de areia. Não seria mais fácil e barato fazer uma analise do solo antes?
Temos o caso ainda dos chamados técnicos agrícolas, que na verdade são vendedores de produtos agropecuários que, por ganância, indicam a seus clientes dosagens superiores ao necessário e indicado pelo fabricante do produto, contaminando rios, nascentes, lençol freático, destroem a biodiversidade e prejudicam a saúde dos próprios trabalhadores rurais.
O discurso de gerar empregos e demitir funcionários já é ouvido a tantos anos que nem a sociedade sinopense presta atenção. Falam da questão como se todo o restante da sociedade fossem parasitas que sobrevivem às custas da madeira e agronegócio. Alias, esta colocação ouvi de um respeitado político de nossa cidade e tive de concordar com ele.
A responsabilidade social vai além de das leis e da atividade lucrativa.
Se a 10 anos atrás tivéssemos fomentado atividades de agricultura familiar com produções alternativas, talvez não estaríamos chorando tanto. Infelizmente nossas lideranças e governantes não enxergam nada que esteja a mais de alguns centímetro de seus umbigos. A secretária de agricultura municipal faz de conta de atua, pois os grandes produtores tem acesso a recursos financeiros, tecnologia, engenheiros agrônomos, pesquisas e financiamentos e não precisam do apoio municipal. Já os pequenos produtores, que geram mais empregos locais e que tem interesse em culturas alternativas acabam por desistir, pois não podem arriscar o pouco patrimônio que tem. Estes, que mais precisam de apoio e planejamento do poder publico municipal, contam apenas com ações paliativas.
O meio ambiente é tratado como um inimigo pela sociedade e a Secretária Municipal de Meio Ambiente (antes agricultura e agora urbanismo) faz de conta que não vê. Limita-se a distribuir arvores em semáforo. De nada adinta distribuir mudas de arvores, pois se o Secretário ainda não percebeu, para cada 2 mudas plantadas, são derrubadas 3 arvores adultas em nossas ruas.
Enfim, acredito que a sociedade como um todo deve abrir os olhos e começar a repensar seus paradigmas, pois a cidade cresce de maneira assustadora e se nada for feito, muitos outros problemas virão e, quando se tornarem insuportáveis, novas ações radicais terão de ser tomadas.
Responsabilidade Social e Dialogo entre os segmentos da sociedade talvez seja uma solução mais racional que protesto e choro.
Jaime Figueiredo é presidente da EcoFloresta – Grupo de Desenvolvimento Ambiental de MT, em Sinop