A história a seguir não é obra de ficção, e qualquer semelhança com fatos ocorridos com você, na vida real, não será mera coincidência.
Terça-feira, 25 de agosto. Animado com o segundo dia consecutivo sem o calor infernal
das últimas semanas em Cuiabá, chego ao escritório com planos fecundos para meu dia. Reviso a agenda, faço algumas anotações e me preparo para iniciar minha jornada.
De repente, toca o telefone. Não consigo a atender a tempo. Desconheço o número.
Retorno. Pergunto de onde é. Uma moça do outro lado da linha identifica-se como de uma empresa de factoring. Confirma meu nome e número, e pede para que aguarde um instante. Em seguida, um rapaz vem ao telefone e me pergunta se confirmo a emissão de um cheque de R$ 1.830,00, da agência 1130 do Banco Itaú.
De súbito, peço um minuto para checar. Nem precisava. Não emiti nenhum cheque nesse valor esses dias. Entretanto, o banco e agência são os meus. Peço mais detalhes sobre o documento: meu cheque foi dado a uma empresa de esportes de Várzea Grande. Como foi pré-datado, a tal empresa procurou a factoring para descontá-lo.
Depois de verificar e não reconhecer o número do cheque, pedi ao rapaz para segurá-lo e aguardar enquanto verificava outros canhotos. Nada encontrei. Liguei no banco. Lá me informaram que haviam me remetido dois talões para meu endereço residencial. E me informaram que um outro cheque, no valor de R$ 1.400,00, acabara de ser devolvido, pois não estava desbloqueado. Aumenta meu espanto. Minha calma e tranqüila terça-feira já tinha se transformado num dia de cão.
A nossa conclusão inicial – minha e do banco – foi que os talões enviados à minha
residência haviam sido extraviados. Não há suspeitos na minha casa. Pedi para
verificarem nos Correios. Informaram que os talonários não mais são enviados pela ECT, mas sim por uma empresa terceirizada. Ainda assim, não poderiam me informar qual, pois tal informação pertence apenas à central do Itaú, em São Paulo.
Orientado pela escriturária do banco, fui até uma delegacia, registrei Boletim de
Ocorrência. Por investigação própria, descobri com a loja de esportes que o cliente que
passou meu cheque iria ao estabelecimento retirar a mercadoria comprada às 13h30. Tentei informar a delegacia onde fiz o BO. Percebi que não me deram atenção. Liguei para contatos meus na Sejusp. Um policial foi ao encontro do “cliente” que pagou uma compra com meu cheque extraviado.
O retorno que me deram é que tanto o dono da loja quanto o “cliente” são “gente boa”. E que o cliente teria recebido o cheque de um hospital em Cuiabá. Fiquei esperando mais informações. Pensei: “Bom, que legal, decerto foram, policial e cliente, ao hospital, e chegaram ao responsável pelo ‘extravio’ dos meus talões de cheques”.
Qual nada! Meu contato me disse que, como o policial é de Várzea Grande, e como eu
registrei o B.O. no CISC do Planalto, quem deve ir ao hospital verificar a situação é a
polícia daqui.
Enquanto isso, os criminosos que estão distribuindo na praça cheques que não lhes
pertencem estão fazendo a festa. Ah, ia me esquecendo. O cheque de R$ 1.400,00 que o banco Itaú devolveu foi depositado em Tangará da Serra. Lá, foi dado como primeira parte de um pagamento de duas parcelas numa loja de colchões. Mas, pedir que a polícia daqui vá investigar meu cheque “extraviado” em Tangará já seria um delírio.
Pessoalmente, não terei prejuízo financeiro com a situação. Afinal, não recebi os
talões. Sequer os desbloqueei, pois não sabia da sua existência. Entretanto, me preocupa o fato de o banco no qual mantenho meu dinheiro não saber sequer quem é o responsável pela entrega dos talões de cheques. Me preocupa ainda o fato da polícia não ser polícia em qualquer lugar ou situação. E me preocupam, sobretudo, as pessoas de bem que foram, são ou serão lesadas pelos criminosos que estão lhes passando cheques furtados por sabe-se lá quem (alguém que passou ao hospital poderia ser uma pista e tanto para se descobrir a autoria, mas a polícia de lá não pode verificar do lado de cá). E assim caminha a impunidade. A única certeza que tenho é que eu e outras vítimas ainda teremos muitos aborrecimentos.
KLEBER LIMA é jornalista em Cuiabá