Costuma-se dizer que as pessoas que não tem um plano de viagem correm o risco de não chegarem aos destinos que gostariam. Isto significa que em tudo que empreendemos é fundamental termos um plano bem detalhado, incluindo todas as etapas que devemos percorrer, com os objetivos e as metas a serem atingidas dentro de um determinado tempo e os recursos necessários para esta jornada. Se isto é verdadeiro e importante para as pessoas, para as empresas e para as diversas entidades, por que deveriam ser diferentes para os organismos públicos, para os municípios, os Estados e os países ?
Por mais óbvio que seja este raciocínio, lamentavelmente, quando se trata dos entes públicos continuamos a constatar que nossos governantes, nossas autoridades e lideranças em todos os níveis não valorizam o planejamento e executam suas ações a frente da administração pública de forma empírica e tradicional. A constatação: falta planejamento público no Brasil, entendido este não apenas como um documento, mas sim como um método para nortear a gestão pública visando atingir não apenas as metas constantes desses planos, mas fundamentalmente um acompanhamento das ações executadas e confrontando os resultados com indicadores como melhoria da qualidade de vida da população, melhor distribuição de renda, maior nível de satisfação da população em relação aos serviços prestados pela administração pública e, o mais importante, maior competitividade do país no cenário internacional.
Assim, eficiência, eficácia, efetividade, produtividade, inovação, desenvolvimento científico e tecnológico, modernização, transparência e ética devem ser parâmetros a nortear todas as ações das instituições publicas e também do mundo empresarial. Isto requer melhor qualificação técnica dos trabalhadores e dos quadros dirigentes, incluindo os eleitos e escolhidos pelo povo para bem representar a população e também para gerenciar a “coisa pública”. Afinal, todas as autoridades eleitas ou detentoras de cargos ocupados por concurso ou designadas conforme os preceitos legais recebem ótimos salários para prestarem serviços públicos de qualidade. A morosidade, a procrastinação, o excesso de burocracia, a corrupção, a falta de equipamentos ou de pessoal qualificado apenas representam a falta de compromisso com as pessoas e com o futuro do país.
Tendo presente essas observações é fundamental que a questão e a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento sejam colocadas na ordem do dia das discussões sobre o futuro de nosso país. O Brasil tem crescido ao longo dos últimos cinqüenta anos, em algumas décadas de forma mais acelerada e em outras de forma mais lenta ou até mesmo passando por períodos de estagnação, como foi à década perdida quando nos referimos ao período entre 1985 a 1995. Mas estamos perdendo terreno para outros países que ha algumas décadas estavam no mesmo patamar que o Brasil. Por mais que nosso país tenha crescido em termos econômicos ainda continuamos observando algumas ilhas de prosperidades em meio ao uma imensidão de miséria. Os desníveis regionais continuam enormes no Brasil. Enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam padrões de desenvolvimento e indicadores próximos dos países do primeiro mundo, as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste estão mais próximas dos países pobres da África, Ásia e América Latina.
De forma semelhante, os desníveis sociais além de presentes em todas as regiões, mesmo nas consideradas mais desenvolvidas como mencionadas, indicam que os frutos do desenvolvimento nacional não estão sendo distribuídos de uma forma mais equânime. A concentração de renda no Brasil continua muito elevada. Dados da ONU, conforme relatório do PNUD de 2010 demonstram que o Brasil é o 10º pior país do mundo em termos de distribuição/concentração de renda. A camada representada pelos 10% mais ricos da população abocanha 51,3 vezes mais do que é apropriado pelos 10% mais pobres, enquanto a média desta proporção entre os demais países do BRIC é de 14,3 vezes e do G7 de apenas 10,5 vezes.
O índice de Gini do Brasil, conforme o mesmo relatório é de 0, 550, pior apenas do que Haiti, Colômbia, Belize e Honduras na América Latina e Caribe. Quando imaginamos o futuro de um país não podemos desejar que o atual modelo seja perpetuado, ou seja, que o crescimento econômico e o bem estar sejam privilégios de apenas alguns Estados ou municípios e de uma minoria da população. Existe um provérbio que diz: “uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco”. Enquanto continuarmos esses desníveis sociais, econômicos, regionais e setoriais nosso futuro de país desenvolvido estará sempre comprometido. Voltaremos a este tema oportunamente.
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia, ex-Ouvidor Geral de Cuiaba.
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