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O jornalismo e as eleições

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Entre os formadores de opinião, Carlos Alberto Di Franco é um desses sujeitos cujo currículo dispensa comentário. Senão vejamos: é diretor do Master em Jornalismo para Editores, professor de Ética Jornalística e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha) e ainda dá consultoria em Estratégia de Mídia. Seus artigos, publicados no jornal “O Estado de S. Paulo”, são leitura obrigatória para estudantes e profissionais da Comunicação, mas também são lidos por quem se interessa pelo cotidiano da mídia.
Chamou atenção o artigo “Jornalismo em ano eleitoral”, que Di Franco publicou no jornal paulista, em abril. Em resumo, é um alerta sobre a necessidade de uma reflexão acerca do papel da mídia na cobertura eleitoral. O mestre dedica um trecho especial do seu artigo ao marketing, que, pela sua ótica, muitas vezes, é utilizado (e muito bem pago) apenas para satisfazer desejos pirotécnicos de candidatos, nos já notórios shows de efeitos especiais que iludem os incautos.
A seguir, alguns fragmentos do artigo do professor Di Franco que julgo extremamente importantes para uma reflexão de nossa parte:
– Ano eleitoral. Campanhas milionárias, promessas irrealizáveis e imagens produzidas: é o marketing de candidatos. Assistiremos, diariamente, a um show de efeitos especiais capazes de seduzir o grande público, mas vazio de conteúdo e carente de seriedade;
– O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade, pode, infelizmente, ser transformado em instrumento de mistificação; – Os programas eleitorais vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das idéias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos;
– Uma cobertura de qualidade será uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. Não basta um painel dos candidatos, mas é preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia-a-dia das pessoas. É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de Governo;
– É necessário resgatar o inventário das promessas e cobrar coerência. O drama das cidades não pode ficar refém de slogans populistas e de receitas irrealizáveis;
– O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o político, tampouco a própria Imprensa.
– Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Com equilíbrio e didatismo, separa-se notícia do lixo declaratório;
– Atores políticos não medirão esforços para fazer com que a mídia, à sua revelia, destile veneno nos seus adversários. É preciso combater o vírus da leviandade, revalorizando perguntas como: Checou? Tem provas? A quem interessa essa informação?;
– O leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível dever de denúncia; quer um quadro claro, que lhe permita formar um perfil dos candidatos: antecedentes, evolução patrimonial, desempenho em cargos atuais e anteriores etc.;
– Impõe-se um bom levantamento das promessas de campanha. É preciso mostrar eventuais descompassos entre o discurso e a realidade;
– Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não perdem o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Para muitos, a política é a arte do engodo. E contam com a amnésia coletiva;
– O jornalismo de qualidade deve assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar dos planos e do futuro. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades;
– Transparência nos negócios públicos, ética, qualificação e competência são as principais demandas da sociedade. E também as pautas de uma boa cobertura eleitoral. Deixemos de lado a pirotecnia do marketing e não nos deixemos aprisionar pelas necessárias pesquisas eleitorais.
O tratado do mestre Di Franco vem bem a propósito do momento político-eleitoral em Mato Grosso. Claro que o leitor-eleitor quer um jornalismo de serviços. Mas, será que isso é possível diante de um quadro em que grande parte dos jornalistas é engajada (inclusive, toma publicamente as dores de certos políticos), outros fornecem opiniões e alguns marqueteiros acham que são professores de Deus, enquanto outros têm absoluta certeza disso?

Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá, já foi revisor, repórter, editor e diretor de Redação.
[email protected]

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