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O fim da infância

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Todo mundo guarda alguma boa lembrança do tempo em que foi criança, pode ser uma brincadeira, um prato favorito, amigos. A infância é um período muito importante na formação de um indivíduo, é a fase da vida do desenvolvimento, da aprendizagem, de tranquilidade, despreocupação. Com a proximidade do Dia das Crianças cabe a reflexão sobre como a infância está ficando cada vez mais curta na nossa sociedade. A infância de hoje está muito diferente da que conhecemos, espremida por uma adolescência precoce e uma juventude que se estende cada vez mais.

Hoje temos cada vez mais crianças adultizadas. Vários fatores pesam nesta problemática, mas os resultados são muito visíveis: crianças se vestindo como adultos, brincadeiras se modificando e desaparecendo, incidência maior de crimes envolvendo menores, meninas sendo mães muito cedo, crianças trabalhando, enfim, tendo que assumir responsabilidades de adultos.

Na experiência que adquirimos frente ao Lar da Criança, abrigo que cuida de meninos e meninas entre zero e 12 anos, vítimas de maus tratos, negligência, violência física, emocional, abuso e exploração sexual, verificamos que o problema dessas crianças inicia dentro da família, pela falta de carinho, atenção, de tempo dos pais com os filhos. Quando falam dos pais nota-se um sentimento de distanciamento, ausência de amor, dos pais na vida delas.

O resultado são crianças “adotadas” pelos traficantes, os conhecidos “aviõezinhos” do tráfico, meninas prostituídas, dependentes químicas, entre outras consequências físicas e emocionais que carregarão para o resto das suas vidas. Muitas se transformam em adolescentes rebeldes e adultos infantilizados. Enfim, a desagregação da família não as deixou serem crianças de verdade.

E isso não acontece só dentro das famílias pobres ou de extrema pobreza. Essa falta de atenção dos pais para com as coisas que são realmente importantes na infância está muito mais presente dentro dos lares das famílias com maior poder aquisitivo, pois a sociedade exige uma preparação que obriga a criança a ingressar cada vez mais cedo na escola, aos dois anos de idade e algumas até antes disso. Aprender várias línguas, informática, além da grade curricular normal. E cada vez mais cedo iniciam seu preparo para o mercado de trabalho.

E para manter tudo isto os pais trabalham mais, reduzindo o tempo de estada com os filhos. E por conta dessa falta de tempo, transferem coisas importantes do desenvolvimento da criança para a babá, para a televisão, para a internet. Perdem um tempo valioso do crescimento do filho. E isto em nome de um sucesso profissional num mundo cada vez mais competitivo.

Os pais acabam se transformando em meros motoristas dos filhos, leva pro balé, busca na natação, leva pra aula de inglês. E o verdadeiro motor da criança, que é o coração, fica de lado, esquecido no meio de tantos compromissos, tantas cobranças e tantas responsabilidades. A família não consegue programar um fim de semana, férias ou qualquer outra atividade sem antes consultar a agenda dos filhos e dos próprios pais, atolados em compromissos.

Os reflexos são crianças agitadas, impacientes, deprimidas, dependentes dos aparatos eletrônicos, da televisão. A criança cresce e passa a ser um indivíduo que vale pelo que possui, pelo que veste, pelo que consome. O que resta disto é um vazio.

No Dia das Crianças tire o dia para brincar com seu filho ou filha, deixe-o ser criança. Qual foi a última vez que você brincou de boneca com sua filha, de carrinho com seu filho? Pelo menos nesse dia dedique um tempo para ele. O melhor presente é aquele que vem adoçado com amor.

Aos pais que ainda resistem a isso que está acontecendo, que ajudam a manter vivas algumas tradições, não desanimem, não desistam, porque não podemos deixar nossas crianças perderem a infância.

Terezinha Maggi é secretária de Estado Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social (Setecs).

 

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