Sob a temperatura de uma campanha eleitoral, empregando técnicas de marketing, o publicitário Geraldo Gonçalves emplacou, com o cliente Blairo Maggi, num debate em 2002, um emblema que ficaria para sempre marcado no consciente coletivo dos matogrossenses: a botina. Era o início de uma era política.
E por pelo menos mais uma década permanecerá, independente de quem seja o próximo governo – se oposição, situação ou meia-boca, pois aquele que for o escolhido do povo, certamente se permitirá, diuturnamente, às inevitáveis comparações. E aí a história é contada segundo a versão do vencedor, que fará seu próprio juízo de valor sobre o governo que herdou. Eis um problema de estratégia real para o governador.
Se o próximo governo for de oposição, ou algum outro ‘meio-aliado’, não titubeará em desconstruir a história do político Blairo, afim de construir a sua própria, o que poderá causar reflexos extremos e negativos nos empreendimentos particulares do empresário Blairo, principalmente porque a maioria dos seus investimentos estão aqui, e ações revanchistas não são nenhum conto natalino, elas existem.
No campo político, o atual governo parece estar sem rumo. Um desavisado que passar por Cuiabá, por exemplo, deve pensar que o secretário de Fazenda Éder Moraes é o governador do estado e Blairo apenas seu assistente. Não há um critério de governo no quesito mídia, ou se há, desprestigia muitos em detrimento de poucos. O pior é que toda essa manipulação tem o dedo do atual secretário de comunicação, que vem a ser um emblema tucano importado da era dantesca. Daí o privilégio para alguns alguns secretários que se aproximam do prefeito tucano Wilson Santos.
No staf, as brigas continuam, às vezes expostas, outra apenas traduzidas em ações do dia-a-dia, com comentários e gestos, senão por parte dos chefes-secretários, pelo comportamento dos assessores mais esbaforidos, que certamente o fazem seguindo uma sugestão implícita.
A oposição, para alívio do governo, é capenga. Quando alguém ensaia contrapor, logo é trucidado pela máquina. Nisso eles são bons, embora de maneira desarticulada. É um querendo bater mais que outro, o que pode alçar opositores a condição de vítima de um sistema bruto, como aconteceu com Zé do Pátio, em Rondonópolis.
Em relação ao sucessor, Blairo Maggi anunciou o pré-candidato Luiz Pagot. Mas não sabe que muitos dos seus pseudo-aliados transitam com outros nomes a tira-colo, literalmente soltos, serelepes e afrontosos, inclusive aqueles que só estão onde estão por obra e graça do governador. Alguns até anunciam, com ar de ‘eu sou o cara’ que não precisam da botina, pois tem emprego garantido, caso tenha que desocupar o cargo.
E aqui um problema sério: ocupam postos de extrema importância (e não me refiro ao Éder, caso a carapuça caia) pessoas que, visivelmente só estão se aproveitando deste governo e fatalmente irão ‘se ajeitar’ com uma desculpa qualquer lá na frente, para seguir um novo líder, indicado por um cacique qualquer. Em fim de mandato, o Blairo maravilhoso de agora, será o botinudo de olho azul que precisa ser riscado do mapa em 2010.
Pelo seu estilo, Blairo não gosta de movimentos bruscos, por isso evita trocas no staff. Mas é preciso um exercício mental, sem preguiça de pensar, para delinear novos rumos para um governo aparentemente velho. Blairo terá que escolher como vai encerrar sua passagem pelo governo, se com chave de ouro ou de lata.
É claro que o governador não quer antecipar as eleições, nenhum governante em sã consciência quer. Mas ele precisa definir sua posição política de uma vez por todas, se vai ser candidato ao senado, se vai querer fazer o sucessor, se vai entregar o governo para um aliado. A dúvida não faz bem a ninguém, a não ser para a oposição, que tripudia o tempo inteiro, colocando em xeque a palavra do governador.
Blairo precisa entronizar o debate político em seu governo, e principalmente na equipe de primeiro escalão. O aliados ocupantes de cargos (todos os cargos) tem que retribuir a confiança de estarem ocupando estes espaços. Ou isso, ou a história das eleições em Rondonópolis se repetirá. Se o verdadeiro grupo do governador sofreu com a derrota lá, imagina o que sofrerão se perderem o governo.
Dizem que no PR tem dois candidatos. Não tem! Um candidato que reduz o apoio do governador a pó, dizendo que não precisa dele, pode estar sendo candidato de qualquer outro grupo, menos deste. Ninguém que tenha uma meta de grupo descartaria a popularidade de um governo tão bem avaliado.
A oposição nem precisa trabalhar muito, as ilhotas do governo se auto-fragelam sozinhas, um tentando desestabilizar o outro, outro querendo ser melhor que o um. Basta repercutir todas as barbeiragens dos deslumbrados reizinhos de ilha, que na verdade é o que se transformou algumas secretarias, contemporizar e dar risada. A continuar assim, a história da botina pode estar chegando ao fim. E o emblema idealizado por Geraldo Gonçalves ser apenas uma peça de marketing, sem nenhum paralelo na história.
PS. Fui provocado, mas me recuso tocar no assunto SEMA, pelo menos enquanto a pasta viver sob o império da maldade e perseguição.
José Marcondes Neto é jornalista em Mato Grosso