Afinal, qual a diferença emblemática que separa o homem público do homem privado? Por certo, essa resposta é de difícil compreensão. Até porque, precisamos entender melhor no homem moderno, aquilo que separa seus interesses particulares dos coletivos. Penso que nesse último ponto não existe qualquer distinção entre tais interesses, sejam eles particulares ou públicos.
É notório nos tempos atuais essa confusão de interesses, onde tudo que é público é tomado como particular. Onde, na verdade, o combustível que move os interesses políticos, pouco, ou, em quase nada, se aproximam dos interesses coletivos. Enfim, é uma inversão e banalização total de papéis. O homem público, seja ele, do alto ou do baixo escalão da máquina pública, toma pra si aquilo que é de todos.
É claro que estou analisando tal realidade a partir de um contexto mais geral, e não aqueles casos específicos e excepcionais, onde o senso de compromisso público é a tônica de uma prática política pautada na ética, moral e responsabilidade. Ainda existem por aí raros exemplos de uma prática política pautada nesse compromisso coletivo das ações administrativas.
Mas como eu disse, é raro. Quando enfatizo que o homem público esta em declínio, é porque exemplos cotidianos mostrados pela mídia nos comprovam essa triste realidade das instituições públicas, muitas vezes, marcadas pelo sucateamento, excesso de burocratização, lentidão, ineficiência, além das já tão denunciadas corrupção.
Esse meu ceticismo se revela amargo por entender que uma das principais características do homem moderno é o narcisismo recoberto por tipo novo de individualismo. E isso acaba por construir uma idéia falsa de homem público pautado no compromisso coletivo.
Estamos vivendo o limiar de um novo tempo onde toda ação pública objetiva interesses meramente particulares ou coorporativos. E creio que esse tipo de situação acaba causando uma gradativa apatia política generalizada.
De fato, estamos presenciando o começo de uma nova era política pautada no empobrecimento da vida cívica. Um novo tempo onde as ações políticas divergem da idéia popular de amor e solidariedade.
O resultado dessa privatização do público faz emergir forças heterogêneas de dominação, cujo interesse comum, se converge para a busca frenética pelo poder político. Enfim, o declínio do homem público, faz ruir com ele, a natureza que dá sentido as instituições públicas.
Mas calma! Nem tudo esta perdido assim. Como eu disse anteriormente, existem algumas raras exceções de compromisso coletivo e cívico. Além do que, temos uma forte retórica, calcada na constituição, que não deixa apagar a idéia de que: todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.
A constituição, a meu ver, talvez seja essa luz que sociedade precisa para ampliar sua consciência dos direitos. Mesmo que o homem público esteja perdendo seu compromisso coletivo, a sociedade em si, ainda é maioria, e pode, por força de uma luta pela cidadania, mudar esse cenário. Afinal, o homem público deve destituir-se dos seus interesses privados e particulares. O homem público teria que ser a expressão nua e crua do desejo social de uma vida digna e comprometida com os interesses coletivos. Afinal, o que é público é de todos.
Oseias Carmo Neves é sociólogo e professor do Departamento de Pedagogia da Unemat/Juara