A crise de 1929, a maior presenciada na história do capitalismo e que teve início com o crash da bolsa de Nova York, só não foi mais catastrófica porque o Presidente Roosevelt dos EUA, inspirado nas idéias do economista inglês Lord John Maynard Keynes, lançou um programa alternativo de desenvolvimento econômico, denominado New Deal (novo acordo). Esse plano, que contrariava as idéias liberais predominantes, abriu as portas para que o Estado tivesse participação mais efetiva na economia nacional, como indutor do crescimento econômico.
A teoria keynesiana, também conhecida como fiscalista, ensina que em caso de recessão econômica, o governo deve incrementar a demanda efetiva da economia, através de políticas fiscais, quer pela redução dos tributos, induzindo ao aumento do consumo privado, quer pelo aumento dos gastos governamentais, seja em obras públicas ou programas sociais. Via de regra esse programa leva o governo a gastar mais do que arrecada, gerando déficits fiscais.
É bem verdade que Keynes nunca ensinou que a economia deveria trabalhar em estado de déficit público permanente, mas sim que o remédio é eficaz em casos de forte recessão. Passada a fase mais aguda da crise, o governo deveria voltar a perseguir o equilíbrio fiscal.
O leitor se recorda que no auge da crise em 2008, o governo Lula reduziu os tributos de diversos bens de consumo, como por exemplo o IPI para a compra de veículos e eletrodomésticos, além de lançar um vigoroso programa de obras sob a bandeira do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Uma típica política keynesiana, que nos levou a rapidamente sairmos da crise, que jocosamente Lula chamou de marolinha.
Esse também foi o remédio adotado pela maioria dos países, tendo os EUA à frente, para evitar uma recessão ainda maior. Como resultado dos recorrentes déficits fiscais a dívida pública dos países desenvolvidos explodiu. Houve um aumento de US$ 16 trilhões de 2007 a 2011, atingindo hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos), a dívida pública dos 30 países mais avançados do mundo alcançou em 2010, na média, a preocupante marca de 100% do PIB, além de projetar um aumento de mais 30% nos próximos cinco anos.
Dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) indicam que a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para 100% do PIB em 2011 (projetados), mantendo a taxa de crescimento do seu déficit em torno de 10% ao ano.
A relação média entre a dívida e o PIB é mais grave no Japão, que já passa dos 200%. Na União Européia, os países em conjunto têm uma dívida próxima de 100%, estando em pior estado a Grécia (130%), a Irlanda (120%) e a Itália (100%).
O mais preocupante nessa história é que, em primeiro lugar, os países desenvolvidos, que por séculos foram a vanguarda da expansão da prosperidade humana, com o grau de endividamento alcançado, não têm mais como continuar trabalhando no vermelho, ou seja, com permanentes déficits públicos.
Em segundo lugar, porque, apesar de sua política fiscal expansionista, ainda não alcançaram um ritmo de crescimento sustentável. Pelo contrário, estão, com raras exceções, ainda com altíssimos graus de desemprego. Observa-se, quando muito, uma tímida e intermitente recuperação em curso. Em alguns, nem isso.
Engessados como estão, pelo seu alto grau de endividamento, os países não têm mais como opção uma política permissiva em termos de expansão fiscal e, portanto estão sem defesa e vulneráveis a uma possível crise econômica recessiva, tenha ela a origem que tiver. Com essa economia globalizada, estamos sujeitos a passar de uma simples gripe para uma epidemia, em questão de meses.
Waldir Serafim é economista e consultor financeiro em Mato Grosso