A história do desenvolvimento de Mato Grosso, nas últimas três décadas, pode ser perfeitamente compreendida com base nos slogans que marcaram os governos dos presidentes Afonso Pena e Washington Luís: “governar é povoar” e “governar é abrir estradas”, respectivamente. Uma cruz em Terranova, de autoria do colonizador e ex-deputado Norberto Schwantes, é uma boa fonte de pesquisa desse processo de ocupação humana. Estradas e povoação são estratégias de governo, e de guerra, para demarcar território. A marcha para o Centro-Oeste, ocorrida com os governos militares, teve essa preocupação. Surgiram decisões como a divisão de Mato Grosso. A medida derrocava uma possível ameaça de anexação ao rico Estado de São Paulo, e daí uma luta pela independência, conforme pesquisa de Maria Manuela Renha de Novis Neves.
Brasileiros de todos os recantos aportaram nas terras de Dom Aquino. Multiplicou-se a espécie e hoje a geração autóctone é grande e bela.
Lamentável é que falta preocupação dos representantes dos poderes constituídos, e da sociedade civil organizada, quanto à preservação da história regional.
Senão, vejamos. Por que chamar de “Avenida do CPA” a “Avenida Historiador Rubens de Mendonça”, estendendo essa sigla para o nome do bairro Morada da Serra? A Prefeitura de Cuiabá chega ao ridículo de afixar placas com essa coisa horrível de CPA. Ora, que a denominação de CPA fique restrita ao Centro Político e Administrativo, e que se preserve a homenagem ao mato-grossense ilustre!
Certo dia, na TV, o apresentador-deputado Sérgio Ricardo repetia sempre, com sua peculiar loquacidade: “Santo Antônio de Leverger”. Afinal, é de ou do? Recém-lançado livro do pesquisador João Carlos Vicente Ferreira, em coautoria com o padre José de Moura e Silva, Cidades de Mato Grosso – origem e significado de seus nomes, não esclarece essa questão. Está lá: Santo Antônio de Leverger.
A obra de João Carlos embanana tudo, já que, no portal do Governo, a informação sobre o município tem como fonte texto de autoria do mesmo João Carlos, com outra grafia. Lá, João Carlos abre o título Santo Antônio de Leverger e conclui com Santo Antônio do Leverger. Na Internet, a página da Câmara Municipal não ficou nem um pouco amarela ao expor: “Câmara Municipal de Santo Antônio de Leverger”, enquanto os demais portais trazem a grafia de “do Leverger”, inclusive o IBGE. E a Prefeitura, então, nem se fala. Mostra que desconhece seu próprio nome ao inscrevê-lo das duas maneiras em diferentes situações e localidades.
Por que o Governo não toma uma atitude? Recorrer às obras do historiador Lenine de Campos Póvoas, entre outros, e instruir quanto ao nome correto?
Sabe-se que à margem do rio Cuiabá existia uma primitiva povoação com uma capela sob a invocação de Santo Antônio. Sabe-se, ainda, que o nome da cidade também homenageia Augusto João Manoel Leverger – o Barão de Melgaço, bravo comandante e defensor das terras mato-grossenses, nas batalhas da Guerra do Paraguai, tendo sido presidente da Província por várias vezes.
Está escrito: em 4 de julho de 1890, foi criado o município de Santo Antônio do Rio Abaixo. A Lei nº 208, de 1938, alterou a denominação para simplesmente Santo Antônio. Em 1943 houve nova alteração, mudando de Santo Antônio para Leverger.
Por fim, a Lei nº 132, de 1948, alterou o nome de Leverger para Santo Antônio do Leverger, denominação atual. Portanto, seria Santo Antônio, do barão de Melgaço, que foi Augusto João Manoel Leverger, o que é o mesmo que Santo Antônio, do barão Leverger = Santo Antônio do Leverger!
É por aí. Que se manifestem os nossos ilustres acadêmicos. O que não pode é continuar essa bagunça de do e de, e de de e do. Basta! É preciso revolver a história, antes que ela se perca.
Arlindo Teixeira Junior é jornalista
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