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Nosso cacique Carlos Bezerra

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Setores da imprensa de Mato Grosso sempre adicionam o adjetivo “cacique” ao citar o Deputado Carlos Bezerra, Presidente do Diretório Estadual do PMDB. Tal insistência em qualificá-lo dessa forma teve início quando o PMDB decidiu fazer oposição a uma corrente ideológica que detinha o poder político do Estado na época, e que queria implantar o modelo de gestão neoliberal em Mato Grosso. A decisão por esse rompimento foi deliberada em uma disputada convenção, onde um grupo defendia visceralmente a continuidade daquela aliança política então existente. Nessa convenção, Bezerra defendia que o PMDB continuasse seu caminho histórico em defesa dos trabalhadores e do povo mato-grossense. A posição por ele defendida, juntamente com outros militantes históricos, prevaleceu por uma maioria de votos pequena.

Mas os setores econômicos aliados ao Governo de então, atribuíram essa decisão como se fosse pessoal de Bezerra ou mesmo imposta ao PMDB. Desde então o adjetivo “cacique” passou a acompanhar o nome de Bezerra nos noticiários, de forma pejorativa com a intenção de desqualificá-lo junto à opinião pública, deformando sua biografia forjada na luta democrática e na defesa dos trabalhadores.

Aliado a esse fato, o PMDB, também através de convenção, decidiu, posteriormente, firmar aliança eleitoral com o PFL, apoiando a candidatura de Júlio Campos ao governo do Estado e lançando Bezerra ao Senado, sendo que este ainda tinha quatro anos para findar o seu mandato de senador, eleito em 1994. O povo mato-grossense não perdoou esse equívoco político-eleitoral e rejeitou no voto essa esquisita aliança, derrotando Bezerra e Júlio Campos.

A imagem do político Carlos Bezerra passou a sofrer uma sistemática campanha negativa, com acusações beirando o ridículo.

Após a aliança com o PFL, o PMDB decidiu, sempre em convenção, coligar-se com o PSDB para disputar o pleito de 2002, com Antero Paes de Barros candidato a governador e novamente Bezerra a uma das vagas ao Senado. O povo entendeu que essa aliança era incoerente em razão da oposição que o PMDB e Bezerra faziam ao Governo do PSDB. Assim, nova derrota eleitoral foi imposta ao PMDB e à Bezerra.

A partir de então, setores que nutrem ódio inexplicável por Bezerra e pelo PMDB, propalaram o fim de sua vida política. Até mesmo dentro da militância do partido passou a grassar o desânimo e a quase certeza de que a agremiação estava em situação muito difícil e que a liderança de Bezerra parecia estar próxima do fim.

Porém, o Presidente do PMDB, sem mandato, manteve-se firme na direção política do partido, passando a articulá-lo internamente e conectando-se intensamente à Direção Nacional, que detém grande poder na República. Só com essa atitude é que o PMDB de Mato Grosso não se espedaçou por completo. Permaneceram os militantes e lideranças que tinham sua própria vida confundida com o PMDB.

Quando questionado internamente sobre as dificuldades políticas, Bezerra apenas afirmava que o tempo era o senhor da razão e que a realidade ia demonstrar se as idéias, a história de lutas e o PMDB estavam superados.

Eu mesmo cheguei a travar severa luta política contra a candidatura de Bezerra à Câmara Federal nas eleições passadas, por entender que seria novamente rejeitado nas urnas, o que afetaria de morte o próprio PMDB, já que era e é a nossa principal liderança. Ficamos sem falar por alguns meses em razão dessa divergência, pois entendia que a candidatura à reeleição de Teté Bezerra seria mais leve por não carregar os estigmas que lhe lançaram, dentre os quais a pecha de “cacique”.

Bezerra elegeu-se deputado, para surpresa de seus detratores e das principais lideranças políticas do Estado. O adjetivo “cacique” continuou a vir colado ao nome de Bezerra mais que nunca, sendo às vezes suplementado com o adjetivo “velho”.

Há alguns dias, conversava com juiz de Brasília o qual, sabendo de minha relação com Bezerra, perguntou-me sobre a sua vida política. Narrei então o que sabia do líder estudantil em Cuiabá, do advogado dos trabalhadores e posseiros, do fundador do PMDB que acompanhou o enterro de sua própria filha escoltado por agentes da ditadura militar, eis que estava preso por defender a democracia, do prefeito que revolucionou a administração pública no Brasil, enquanto governava Rondonópolis, do combativo deputado que defendia cm muita garra a reforma agrária, no parlamento estadual e no federal, do Governador que lançou as bases para o desenvolvimento econômico e social do Estado e que, como primeiro ato ao assumir o Governo foi proibir a Polícia Militar de servir como jagunço de latifundiários. Falei de suas obras e dos recursos que conseguiu dirigir para Mato Grosso enquanto Senador da República e presidente da Comissão de Orçamento. Após minha explanação, o magistrado balançou afirmativamente a cabeça e disse, de forma extremamente simples, que entendia porque chamavam Carlos Bezerra de “cacique”.A história de sua vida política na trincheira democrática e social, sem nunca ter saído do PMDB, naturalmente o conduzia a possuir essa forte liderança interna no Partido e no meio do povo de Mato Grosso.

Essa afirmativa vindo de um alto magistrado, de fora do Estado, isento, levou-me a raciocinar longamente sobre o assunto. De fato não existe nenhum político vivo em Mato Grosso que possa bater no peito e dizer que possibilitou a execução de obras públicas em todos os municípios do Estado como fez Carlos Bezerra. Nenhum pode exibir um currículo tão vasto e tão entrelaçado com as causas do povo e com a democracia.

E, com efeito, não se pode atropelar a história. Bezerra tinha razão. O povo experimentou muitas novidades e fez a devida comparação. Não é à toa que, recentemente, um empresário de uma agência de pesquisas, após fazer levantamentos em todo o Estado, declarou à imprensa que o PMDB vai eleger a maioria dos prefeitos de Mato Grosso, incluindo a capital.

Agora, quando leio matérias jornalísticas que adjetivam o Deputado Carlos Bezerra de “cacique”, tal epíteto já me soa com mais respeito, admiração e carinho.

E parece que o povo também experimenta o mesmo sentimento.

Ai do partido que não tem lideranças fortes.

Nós, do PMDB, temos várias, e a principal é o nosso “cacique” Carlos Bezerra.

Clóvis Figueiredo Cardoso advogado em Cuiabá e militante do PMDB

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