sexta-feira, 26/julho/2024
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Não os abandonem à sua própria sorte

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Frequentemente vemos na televisão os resultados de um bom relacionamento entre adultos e crianças. Um deles, o mais recente, foi mostrado uma criança de creche com aproximadamente 9 meses curtindo junto com a babá uma historinha infantil. O ponto alto da reportagem foi quando a babá perguntou que bichinho o livro estava mostrando, ao que o “projetinho de gente” respondeu: muau.(Era um gatinho.) Veja por este exemplo do que os pequeninos são capazes quando são devidamente estimulados.

Em outras ocasiões vemos crianças do sexo masculino, ou feminino, na faixa etária entre 7 e 12 anos disputando com os colegas, ludicamente, partida de dama ou xadrez.
Durante a bienal do livro, assistimos pela TV as crianças participando ativamente: folheiam livros, vêem figuras, lêem e contam o enredo das historinhas ao repórter. Quando é solicitada a opinião de alguma delas, as idéias são claras e fluem num bom português.
Qual o segredo para conseguir crianças com tal desenvoltura? Será que alguma delas apanha em casa? Será que é do cotidiano da casa alguém mandá-las calar a boca por algum motivo fútil? Acho que não.

Por outro lado, quando entramos no Lar de famílias em variadas regiões do País através de determinados programas de televisão, dá pra notar que o relacionamento se caracteriza pelo desentendimento total entre pais e filhos, onde cada familiar, inclusive as crianças, tem o seu comportamento bem distante de um padrão aceitável. Observamos que são grupos familiares com situação financeira equilibrada, com moradias confortáveis, mas que o relacionamento entre pais e filhos é horrível, a bagunça é geral, muito choro, birras, agressões entre irmãos, ameaças, tapas, ordens não cumpridas, pais totalmente dominados pelos pequenos rebeldes, mas que, após um “ritual de exorcismo”, espantam-se os demônios e se realiza o milagre da mudança da água pro vinho, provando que as crianças não são más como parecem ser à primeira vista, mas sim mal conduzidas, sem um norte a seguir, sem lhes ser ensinado o respeito pelas regras básicas de convivência em grupo. Por omissão, são abandonadas à sua própria sorte.

O que as famílias assistidas mostram é que se preocupam apenas com a assistência da moda, que dá status: televisão no quarto, vídeo game, computador. Nota-se que não existem ensinamentos e nem união entre os membros da família, não se percebe afeto, conversação saudável entre pais e filhos, toques, mão no ombro. Não se observa em nenhum momento, alguma criança com livro na mão. Os pais desaparecem de casa para o trabalho e depois de prolongada ausência, chegam cobrando coisas que não ensinaram e sem demonstrar nenhum sentimento de afeto pela saudade(?) que deveria estar presente. Quantas crianças com o desenvolvimento abaixo da sua idade cronológica. É comum verificar crianças com 4 ou 5 anos ainda mamando na mamadeira, dormindo na mesma cama dos pais, banho dado pela mãe, roupa escolhida e vestida pela mãe. Como vão ter suas próprias iniciativas e raciocinar bem na escola que logo virá? Penso que é hora dos pais incluírem os filhos no planejamento de suas atividades, lerem, procurar ajuda. As crianças podem parecer bem fisicamente, mas têm péssima saúde mental.

Toda criança nasce imaculada, inocente, pura. Tem a mente pronta e ávida para receber informações e sensações de todos os tipos, principalmente as afetivas. A criança é como uma lousa em branco na qual deve-se fazer o possível para escrever corretamente. Da mesma forma que um diamante depende da habilidade de quem o lapida para se transformar num lindo brilhante ou uma muda de laranjeira que, para dar muitos frutos, doces e grandes, necessita ser plantada em solo fértil, a criança também necessita de cuidados especiais para se desenvolver bem. Aplique as mensagens destas frases na convivência com seu filho/a e tenha o prazer e a felicidade de desfrutar de todo o potencial de doçura que estes serzinhos contêm dentro de si. É um convite para os pais, principalmente a mãe, da qual os filhos são mais dependentes, para praticarem uma educação diferenciada.
Para começar, eduque seu filho com explicações e não com repressões. Um não dito secamente não tem valor educativo; tem valor repressivo. (O competidor esportivo que tiver medo dos gritos intimidatórios do adversário, tem diminuídas as chances de vencer a disputa.) O filho/a deve respeitar seus pais, mas não pode ter medo deles. O filho que é criado num regime de obediência cega, na base do “faça o que eu mando e não discuta comigo”ou “é não e tá acabado!” tem seu desenvolvimento prejudicado e poderá ter no futuro, mesmo como criança, como adolescente ou adulto, dificuldades para se relacionar e/ou se tornar um líder, um empreendedor, um gestor. Ele não foi criado num ambiente em que recebia explicações para suas dúvidas, mas se conformar com as ordens dadas. Para uma educação diferenciada exige-se um pouco mais de tempo, de dedicação, de trabalho. Mas, qual empresa bem sucedida que não dá trabalho e que não consome um tempo enorme? Você diria:- Reconheço que este é o tratamento ideal, mas eu não tenho tempo, nem paciência e nenhum jeito pra essas coisas. E eu respondo: -Se ser mãe fosse considerado um emprego; com estas declarações, certamente você seria despedida. Mas, caso você ache que compensa dar uma educação de alto nível a seu filho/a, tem receita sim.

Veja esta sugestão:
Quando você for corrigir os desvios de conduta dos pequeninos ou de uma criança maior (aquilo que os pais chamam de “arte”), você deve caminhar até ele/a, pegá-la no colo se for pequenina ou darem-se as mãos no caso das maiores, propor uma atividade (seja previdente, já tenha uma na ponta da língua) que de antemão você sabe que lhe vai interessar, e aí sim você comenta amigavelmente, se possível no pé do ouvido, sussurrando, o porquê dele/a não poder fazer o que estava fazendo. Evite dizer aquele “não” curto, em voz alta, ameaçador, normalmente dito logo no início. Não use força desproporcional, como se quisesse disparar tiros de canhão para abater uma ave indefesa. Use um não que seja educativo; assim você evita os costumeiros protestos ou os choros pelo fato da criança se assustar. Tenho experiência positiva do “não educativo”, que funcionou muito bem. Sem trauma e com aprendizado.

Lembra quando você dizia não ao seu namorado que é hoje seu marido? Era um não seco? Aposto que não. Taí; deu tão certo que hoje você o tem do seu lado. Aposto que dificilmente você o repreendia com um não, tipo militar, semelhante aos que as mães costumam dizer aos seus filhinhos.
Na adolescência, os novos contatos serão inevitáveis, e cada vez mais distantes da vista dos pais. São os colegas que o/a convidam para a festa da escola, para torcer pelo time de futebol de salão, para as festas juninas, ou algum convite daquela que lhe causa frio na barriga e que o coração acelera quando a vê. É isso! Nesta idade, os hormônios das relações afetivas com o sexo oposto começam se manifestar. Você vai percebendo que já não tem tanto controle sobre o filho/a como foi até a algum tempo onde o máximo que acontecia era dele/a dar uma volta de bicicleta pelo quarteirão. E agora, como fazer? Não posso ir com ele, de vela, em todos os seus relacionamentos sociais de mocinho/a! É como se eu quisesse ir na lua de mel da filha! Pois quem conduziu o filho/a até o momento com uma educação de alto nível, é bem provável que não terá problemas nenhum. É como quando você ou seu esposo tem que fazer uma viagem de negócio ou para visitar algum parente distante. Novos contatos e relacionamentos serão inevitáveis, mas um está tão bem afinado com o outro que este compromisso para longe do Lar não causa nenhuma estranheza. Cada um sabe até aonde pode ir.

Sempre houve liga entre os dois. Cumplicidade. Sempre houve confiança mútua. Um sabe o jeito do outro. Entre os dois não há segredos. Estão tão bem adaptados que se comunicam pelo olhar. Com os filhos, quando são bem criados, estes entendimentos também acontecem. O relacionamento de seu filho/a com vocês será cristalino, às claras, sem dissimulações.
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E é assim que você pega carona no fino trato do relacionamento para incutir nele bons hábitos de estudo, preparando-o para a Escola!

Quer ver como poderia ser?
Caso você exerça sobre ele/a uma educação para os estudos, que o faça freqüentar a escola com prazer e ter interesse por leituras, para escrever, entender textos inicialmente simples, ouvir a professora e raciocinar em cima do que ela diz, isto é, ouvir e ir pensando à medida que ouve, dando-lhe condição de participar da aula, tornando-a interessante, isto será o ideal. Indica que você incutiu nele/a o hábito de ler, escrever e pensar. Sua mente está preparada, afiada. Agüenta pensar junto com a professora por aulas seguidas, sem se cansar mentalmente. É como o maratonista treinado que suporta correr quatro horas seguidas sob sol quente. É como o trabalhador braçal que capina o dia todo o mato invasor da lavoura com movimentos rápidos e precisos de sua afiada enxada, sem cortar um único pé da planta cultivada.

E qual é a criança que acompanha a professora nos raciocínios sem se cansar, por aulas seguidas? -Por acaso não será aquela que recebeu treinamento enquanto crescia? Ainda quando tinha por volta de um aninho já manuseava livrinhos, a mãe lhe mostrava os bichinhos que apareciam na história, visualizava as letras, apesar de não conhecê-las, enquanto a mãe folheava as páginas. À noite, para dormir, sempre lhe foi contado historinhas. Frequentemente os pais lhe compravam CDs com musiquinhas infantis. Muitas delas como Terezinha de Jesus, Coelhinho da Páscoa, Pirulito que bate bate e a do Cravo que brigou com a rosa, ela sabia de cor. Possuía vários DVDs com historinhas. As preferidas dela eram as histórias de João e Maria, da Cinderela e Chapeuzinho Vermelho. E ai se o contador de histórias errasse uma pequena passagem que fosse. Era corrigido na hora. Um dia alguém fez um comentário um tanto infeliz: -Vocês não acham que estão gastando muito com esta criança! Ao que ouviu em seguida uma longa resposta dita com muita satisfação: – É verdade; mas, preferimos gastar agora do que ter prejuízos e sofrimentos mais tarde. É uma poupança, um investimento que estamos fazendo agora para recebê-lo em sorrisos quando ela demonstrar alegria para fazer suas tarefas, para ir à escola, e mais tarde, quem sabe a gente se encha de felicidade quando ela for bem classificada num concurso público ou para a Universidade, fazer o curso dos seus sonhos.

Quanta revista velha ela recortou, quantos vidrinhos de cola para formar seus próprios livrinhos, do seu gosto, conforme ela mesma dizia. Seu pai, eu, e até a avó lhe trazia revistinhas infantis daquelas para colorir figuras, unir pontinhos para descobrir qual era o bicho, traçar uma linha para descobrir a saída para o macaco perdido. Depois que foi alfabetizada, gostava muito de se divertir com as revistinhas de palavras cruzadas para crianças. Todo mês nós lhe comprávamos na banca um exemplar da revista de nome Picolé. Ela adorava fazer as cruzadinhas. Depois de algum tempo passamos a lhe comprar a revista “Guguzinho”. Durante as aulas sempre acompanhou o raciocínio da professora. E quando ela fazia alguma pergunta, entre as mãozinhas erguidas, a dela sempre estava presente. Quando era ela a escolhida para responder, a resposta frequentemente vinha acompanhada de um “muito bem”! da professora. E até o momento esta criança só nos tem dado alegrias. -Ah, me desculpe, disse o que fez o comentário sobre a criança. E completou: -Eu não tinha noção do bem que vocês fizeram e continuam fazendo a ela.

E olha que, a partir da quinta série, começam as disciplinas específicas como português, matemática, história, etc; agora lecionadas por diferentes professores. Quando chega neste estágio, se o aluno ainda não pegou o jeito de estudar, se ainda não gostou da escola, a coisa tende a complicar, pois as matérias são, digamos assim, mais pesadas, que exigem cabeça pronta para raciocinar sobre o que os professores explicam, por quatro aulas seguidas, separadas por um intervalo de meia hora para repor energia e refrescar a cuca.

É a partir desta época que as crianças que não conseguem acompanhar a matéria em sala de aula, têm dificuldades para entender o que tentam estudar em casa e também para fazer a tarefa de matemática, por exemplo. É quando costumam pedir a ajuda dos familiares, que nem sempre é possível por faltar conhecimentos. O filho percebe isso e conclui resignado que está sozinho. E a cada série que passa a complexidade das matérias tende a aumentar. Aí é que os familiares ficam ainda mais limitados para ajudar . É quando acontece dos pais deixarem o filho à sua própria sorte. E ele, desanimado por não acompanhar o que é ensinado em classe, chega em casa e joga a mochila num canto, para torná-la a pegar só no dia seguinte antes de ir novamente para o seu calvário. Não é novidade a peleja que os pais têm com o filho. Ficam o tempo todo lhe pedindo que vá estudar. Na época das provas então, é um Deus nos acuda.

Muitas crianças esperam ansiosas pelo final de semana, feriados e férias. Quando falta um professor, ao invés de ficarem chateadas, ficam é muito felizes.

Livre seu filho desse desatino. Encaminhe-o rumo aos livros desde pequenino, como uma diversão, uma brincadeira, sem forçar. Esta é a sua parte. Você viu que não é difícil. É apenas um pouco trabalhoso. Mas quem é que consegue sucesso sem trabalhar duro! Coloque no íntimo dele o gosto pelos estudos, aos poucos, devagar. E isso leva tempo. Por isso tem que começar cedo. Só que depois, quando você não tiver condições de ajudá-lo por suas limitações, ele irá sozinho, sentirá prazer em aprender. Participará das aulas. Estará preparado para isso. Você o preparou. Mesmo sem conhecer matemática ou história. E, merecidamente terá motivos para estufar o peito e dizer orgulhoso: – meu filho gosta de ir à escola, faz suas tarefas, lê e entende suas lições, vai bem nas provas, não preciso mandá-lo estudar. Ele gosta do que faz. Meu filho é feliz e responsável. Seu futuro será promissor.

Carlos Eduardo Vieira é médico pediatra em Sinop

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