terça-feira, 19/março/2024
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Mídia, Educação e Movimentos Sociais

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É interessante como existem setores da sociedade que ainda apostam na falta de sensibilidade e capacidade de análise da população. Subestimam a capacidade mínima de reflexão de uma sociedade que já mostrou que não tolera mais coberturas midiáticas como as que na década passada fazia-se sobre os movimentos sociais, sempre satanizados. Claro que hoje não temos um primor de abordagem, mas o movimento da sociedade e os parcos avanços democráticos refletiram no discurso da mídia. Há muito se diz que o jornal é espelho da sociedade. Acho que a afirmação tem um fundinho de verdade. À medida que uma sociedade muda, suas instituições sociais mudam. Isso fica claro se pegarmos as coberturas dos meios de comunicação de massa sobre guerras. No último ataque dos Estados Unidos ao Iraque, quase não se via mais termos como “eixo do bem”. A sociedade já não tolera mais esse tipo de discurso, absurdamente pretendido como imparcial. Aqui em Mato Grosso, para perceber esse movimento é interessante observar, a criminalização das
greves do SINTEP durante o governo Júlio Campo, no discurso jornalístico do período e comparar com a cobertura atual.

Mesmo diante desse cenário, tivemos que ouvir algumas pérolas essa semana. Tristemente, tivemos que ouvir a “dúvida” da elite brasileira expressa na fala de alguns representantes, entre eles, a grande mídia: Por que será que os movimentos sociais, entre eles a UNE, CUT, que historicamente tiveram posições contrárias ao governo vão às ruas para dizer “Fica LULA”, “O Lula é nosso” – ao contrário do clássico e ecoante “Fora FHC”? Que dúvida cruel. Tivemos ainda que conviver com a insinuação de que o apoio popular a Lula deve-se aos repasses de recursos que qualquer governo faz às entidades civis. Pasmar-se diante desse direito das entidades de receber do estado apoio para desenvolvimento de projetos culturais, artísticos e de qualificação profissional em um estado democrático de direito? Pasmar-se diante dessa conquista histórica dos trabalhadores de se organizar, à custa de embates e de vidas? Parecia um noticiário de plena ditadura militar.

Os conservadores de direita não toleram a aprovação popular do Líder Lula. Aprovação que só conseguiram em tempos de ditadura militar. À custa de qualquer possibilidade de livre pensar, livre dizer, livre viver. Só se era livre para morrer. Com a abertura democrática só ouviram palavras de ordem da natureza “FORA”.

Acredito ser desnecessária a análise de um cientista político (mesmo da estirpe de uma Lúcia Hipólito da vida) ou de meu mestrado em educação e movimentos sociais para explicar os motivos da aprovação popular de Lula. Aprovação inclusive de entidades representativas de estudantes. Acho desnecessário me referir à sua história, ao processo de construção de seu partido, suas respectivas origens. Poupo-me dessa tarefa, para refrescar a memória dos indignados tucanos do nosso Congresso Nacional. A população já sabe.

Como educadora, sempre ouvi que a educação é emblemática para avaliar se um governo vai mal ou vai bem. Concordo. E é com emoção que assisto a retomada do investimento federal nas universidades públicas. É com a emoção de quem viveu nela na gestão Fernando Henrique. Um dia acabava a tinta, no outro o papel, no outro o papel higiênico. A expansão do ensino superior público, com a criação de 32 novas instalações até 2005 me emociona. Não imaginei que veria isso em tão pouco tempo. A reforma universitária, reivindicada pela comunidade acadêmica há anos, enfim se realizará. O FUNDEB, reivindicado pelos profissionais da educação básica há mais de 10 anos. E o Prouni, que ao contrário do que dizem, não coloca dinheiro público nas universidades privadas, mas cobra delas a isenção fiscal que lhes é concedida desde a década de 50. Isenção que era retribuída para a sociedade com sopas e bolsas a parentes. Agora, é o filho do trabalhador que cursa medicina. Medicina, sim. Odonto, direito. Ao lado da elite. Em um cenário
onde 80% do ensino superior público estava privatizado, me poupe de demagogias. O grito de que “educação não é mercadoria” que ecoou durante a era FHC, na resistência estudantil, na resignação em continuar fazendo pesquisa em uma universidade sucateada, não foi em vão. Agora está expresso nas políticas educacionais: educação não é mercadoria. E quem esperneou foram os donos das universidades privadas do país. Por que será que o governo Lula tem aprovação popular? Oras, me poupe.

* Maria Luzenira Braz é mestre em Educação pela UFMT e professora da Rede Estadual de Educação de Mato Grosso

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