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Meio século de luta

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No início de 1964, durante a gestão do então Presidente John  kennedy , o Departamento de saúde dos EUA apresentou um relatório, que  passou a ser a pedra fundamental da luta contra o tabagismo naquele país e ainda é referência quando se trata  de avaliar os progressos atingidos e os desafios que ainda devem ser enfrentados.
O alarme soou há meio século quando foi constatado que o tabagismo era e ainda é extremamente prejudicial `a saúde humana, sendo responsável em 2013 por aproximadamente 500 mil óbitos nos EUA e mais de cinco milhões ao redor do mundo, dos quais 600 mil por serem tabagistas passivos, ou seja, pessoas que não fumam mas estão de forma permanente expostas `as consequências dos fumantes.

Em 1964 foi constatado que 43% da população adulta nos EUA,maiores de 18 anos, eram fumantes ativos e os fumantes passivos representavam mais 5%, ou seja, 82 milhões de fumantes ativos e pelo menos 4,5 milhões de fumantes passivos.  As pesquisas, ainda rudimentares indicavam que a nível mundial 12% dos óbitos decorriam e ainda decorrem de doenças relacionadas com o Tabaco. Este percentual chega a 25% na Europa e a 17% nas Américas (do norte, central e sul).

Recentemente (janeiro de 2014) o Departamento de saúde dos EUA produziu um relatório extenso, com 978 páginas, onde realiza uma avaliação desta luta, que há meio século tem   sido uma política de Estado, mesmo que no decorrer do período os partidos Democrata e Republicano tenham se alternado no poder por décadas. Esta alternância de partidos no poder não tem alterado significativamente tal política, seus objetivos continuam os mesmos, mudando apenas as estratégias, ou seja, como cada partido e respective governo busca conquistar tais objetivos e avançar na luta contra o tabagimo.

No periodo entre 1964 e final de 2013,  só nos EUA foram registrados 20 milhões de óbitos por doenças relacionadas com o Tabaco, como vários tipos de câncer, doenças pulmonares e respiratórias, tuberculose, doenças cardio-vasculares. Além deste elevado contingente de óbitos, o tabagismo é responsável por várias outras doenças como disfunção erétil, má formação  congênita, diabetes tipo II, afeta também o Sistema imunológico, facilitando o surgimento de inúmeras doenças.

O tabagismo é responsável por 71% das mortes por cancer de pulmão, 41% dos óbitos por obstrução pulmonar e vias respiratórias, mais de 30% dos infartos e avc, degeneração macular, afeta os dentes. Recente relatório (2014) da Organização mundial de saúde sobre os malefícios do tabagismo para a saúde humana indica que a taxa de câncer de pulmão entre fumantes é de 224,5 óbitos por 100 mil habitantes, 15 vezes mais do que os índices de homicídios, enquanto a taxa de câncer de pulmão entre não fumantes é de apenas 19,0 por cem mil habitantes.

No Brasil a taxa de mortalidade geral ente os fumantes é de 143 por cem mil habitantes e a taxa de homicídio, que é uma das maiores do mundo, é de “apenas” 22 óbitos por cem mil habitantes. Nos EUA mesmo com o progresso verificado neste meio século de luta contra o tabagismo, chegando a 18% da população adulta em 2013, ainda considerada fumante, a taxa de mortalidade entre fumantes é de 318 por cem mil habitantes e de homicídio de apenas 4,7, ou seja, uma pessoa tem 68 vezes mais chance de morrer de alguma doença relacionadacom o tabagismo do que ser assassinada. No Brasil esta relação de de 6,5 vezes, mesmo considerando os altos índices de violência em geral e de homicídiso em particular em noso país.

Além de ser uma verdadeir tragédia humana, o tabagismo reduz a expectative de vida das pessoas em 10 anos e em alguns países até mais do que isto, ou seja, são milhões de mortes premturas tendo reflexos na sociedade e na economia.  Os custos econômicos anuais  incluindo tratamento de doenças decorrentes do tabagismo, internações, faltas ao trabalho ou aposentadorias precoces, entre 2009 e 2012 nos EUA representaram 318 bilhões de dólares, valor maior do que o PIB de mais de 130 países.
Se nada houvesse sido feito e os índices de tabagismo nos EUA tivessem continuado no mesmo percentual de 42% verificado em 1964, hoje, ao invés de 61 milhoes  de fumentates seriam 101 milhões de adultos fumantes e mais dez milhões de fumantes passivos. Neste meio século ao invés de terem morrido 20 milhões de pessoas por doenças decorrentes do tabagismo seriam  pelo menos 38 milhões de vítimas e os custos/prejuizos que o país teriam a cada ano seriam superiores a 800 bilhões de dólares por ano,ou  4,6%   do PIB da maior economia do mundo,que em 2014 está estimada em 17,44 trilhões de dólares.

Como pode ser percebido este é um dos mais sérios problemas de saúde pública tantos nos EUA, quanto no Brasil e em praticamente todos os países, razão pela qual a Organização Mundial de Saúde vem enfatizando que  os países devam definir políticas e estratégias de curto, médio e longo prazos para enfrentarem um desafio que é de todos: governo, sociedade, famílias e pessoas. Da mesma forma que tantas doenças “traicoeiras”,como cardio-vasculares, diabetes, câncer, o tabagismo é mais grave do que todas em conjunto e talvez o verdadeiro assassino silencioso que está dizimando milhões de pessoas a cada ano, inclusive no Brasil.

Juacy da Silva ,professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.Email [email protected]

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