Prever o futuro sempre foi, e tem sido, ao longo da nossa história, preocupação de povos e civilizações. Mesmo nas sociedades mais primitivas já havia uma divisão social, separando, líderes, guerreiros e magos. A estes últimos, dentre outras funções tribais, cabia auscultar aos oráculos, aconselhando os líderes sobre os destinos da comunidade.
Tantas são as preocupações das pessoas, que livros esotéricos, videntes, e outros, formam um setor comercial de venda de adivinhações. Até uma música popular, bastante conhecida, já versava, “o que será o amanhã, como vai ser o meu destino?”. Cartomantes, bruxos e xamãs ganham sua vida assim. Mas, será o futuro suscetível a tais adivinhações? Será que os fatos já estão pré-determinados, de forma que qualquer bola de cristal consiga antevê-los, ou estarão eles abertos, passíveis de ser o resultado de muito trabalho e das interações sociais?
Quando tais preocupações voltam-se para a nossa realidade local, podemos perguntar: será que daqui a vinte anos haverá redução das desigualdades sociais? Haverá nova divisão do estado? Continuaremos fortemente vinculados ao agronegócio? Questões como estas são cercadas de incertezas, mas, dado o seu caráter de alto impacto sobre nossas vidas, sobre nossa sociedade, não podem ser relegadas a um segundo plano.
Para a maioria das pessoas (e até mesmo as instituições) dez anos são um período de tempo absurdamente longo. Grandes festas são feitas quando os quinze anos são comemorados. De acordo com esta visão não valeria a pena sequer pensar em questões como as referidas anteriormente. O fato é que vivenciamos, durante um longo período de tempo, situações de inflação galopante e crises constantes. Nos anos de inflação alta a preocupação de todos era com o curto prazo, com o overnight. Um dia já era o suficiente para corroer salários e lucros. Futuro? Só se fosse para vislumbrar o próximo mês. E olhe lá.
Com a relativa estabilidade no ambiente econômico, advinda com o Plano Real, começamos a perceber outras dimensões do tempo, sobretudo o econômico. E ele faz toda a diferença sobre o sucesso ou o fracasso de pessoas e organizações. No longo prazo crescemos e tornamo-nos fortes, ou adoecemos e sucumbimos às intempéries do ambiente.
Para pensar, analisar e discutir sobre o futuro, com as suas inexoráveis conseqüências sobre coisas e fatos, temos de pensar no longo prazo. Desprender do presente, sem esquecer nossos vínculos com ele, muito menos desprezar o passado. Devemos tentar identificar as possíveis armadilhas e oportunidades que podem estar na nossa trajetória.
Mato Grosso começa a volver seus olhares para o futuro. Está em curso o Planejamento Estratégico para os próximos vinte anos, denominado MT 20-25. Nesta ação, os atores sociais são convidados a debater sobre nosso futuro, num trabalho de planejamento inédito, envolvendo todo o setor público e a sociedade organizada.
O Plano MT 2025, iniciado no último mês de outubro, pretende inovar em termos de pensar o amanhã, de olhar para frente, mesmo com todas as incertezas e dúvidas que os cenários futuros reservam. O resultado esperado dos trabalhos não pretende apresentar à sociedade apenas um pacote fechado de planos e soluções, pronto para ser guardado em algum arquivo pelos próximos governantes. Mais do que isso, busca-se moldar um novo instrumento de planejamento social e econômico, com amplas possibilidades de monitoramento e controle social.
Não está escrito em lugar nenhum que o futuro já está determinado. Longe disto, o futuro é fruto do desejo coletivo e de construção social. Sociedades desenvolvidas são construídas com organizações sólidas, que evoluem através das gerações, mas que, sobretudo, tentam construir os caminhos das suas possíveis evoluções. Mato Grosso dá o seu primeiro passo, de uma longa caminhada na estrada do futuro, para construir uma história ainda melhor.
Marcos Cesar Neves é economista, Mestre em Adm. de Empresas e Professor Universitário.