Maggi. Ele mesmo! Blairo Maggi, o maior produtor de soja do mundo, iniciado politicamente nas fileiras de um partido com vocação neo-liberal, o PFL, declarou apoio a Luiz Inácio no segundo turno das eleições presidenciais neste conturbado ano político de 2006 – ano em que sanguessugas que sugavam há muito vieram à tona.
Além do governador do Mato Grosso, Roseana Sarney, também do Partido da Frente Liberal, representante da “alta casta” maranhense (se é possível acreditar que em pleno século XXI, um estado com os piores índices de desenvolvimento humano como o Maranhão comporta “altas castas”), também apóia o ex-operário no segundo turno.
Esses dois apoios se dão por motivação ideológica? Obviamente que não. Essa grande loja de conveniências que se tornou a política brasileira admite que posições ideológicas antagônicas sejam misturadas como se mistura temperos em culinária. Mas é necessário ter a cautela quando experimentamos misturas exóticas, tanto na política, como na mesa. Afinal de contas a palatabilidade, muitas vezes, não é compatível com a digestibilidade: pratos saborosos podem dar (como dizem as avós) um “desarranjo”. Não são como arroz com pequi, feijoada ou leitão à pururuca, dos quais a cultura popular já consagrou como saborosos e digestivos.
Os mais prudentes (ou ecléticos) cientistas políticos dizem que a política é justamente a arte da mistura. Que é um jogo de interlocução e sedução sem fim. Que a política é a aceitação do diferente. Concordo, pois o fato de sermos seres humanos evidencia que já nos constituímos histórica e culturalmente como seres políticos. Portanto, nossas relações sociais se dão em condições mediadas politicamente em nosso cotidiano e em todos eventos de nossa existência.
Porém, entendo que quando tratamos de política no prisma das ideologias ou mesmo dos partidos que se formam a partir de pensamentos que se aproximam, precisamos manter um mínimo de critério que condicione o sentido e a organização das idéias que compõem este ou aquele grupo político.
É necessário, principalmente ao homem comum, que decide através do seu voto, ter uma compreensão de que votando em A ou B ele está votando num projeto de sociedade e num plano de gestão e não somente em pessoas que vendem suas imagens como sendo os guardiões da ética ou da competência administrativa. Aliás, tarefa muito árdua para o eleitor é justamente a de ter de decidir pelos que lhe parecem mais honestos ou, menos desonestos. A honestidade deveria ser condição essencial, um requisito básico de todo político para que, a partir daí fossem avaliadas as ideologias e as propostas dos candidatos.
Produz-se então a compreensão de que as propostas podem se fundir a partir de ideologias, desde que estas não percam sua essência, para que saibamos quem pensa o quê. Propostas, costuradas a partir de ideologias podem corroborar para garantia de governabilidade e de planos de gestão, e serem compartilhadas em todas esferas da vida pública.
Lula ao caldo maggi pode ser um prato insosso. Mas, quem sabe recebendo uma guarnição de arroz (de terras altas) com pequi (que restou do cerrado devastado pelas plantações de soja) se torna palatável e digestível. Mais digerível que ensopado de polvo e “picolé de chuchu”.
João Batista Lopes da Silva
Professor na Universidade do Estado de Mato Grosso
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