As pesquisas de mercado e avaliações do Ensino Médio e Superior revelam um dado preocupante: o brasileiro lê pouco. Lê pouquíssimo. A baixa escolaridade e o baixo poder aquisitivo das pessoas estão entre as maiores causas da rejeição aos livros. O resultado é catastrófico: milhares de pessoas permanecem à margem da cidadania.
Em artigo, a secretária da Cultura de São Paulo, Cláudia Costin, diz que ler é uma atividade fundamental para se promover a circulação de idéias, a geração e a troca de conhecimento. “É pela leitura que a pessoa se prepara para pensar, compreende melhor o mundo e se torna apta a solucionar problemas. Mas o livro é, acima de tudo, prazer estético, entretenimento, encantamento (…). O estímulo é necessário e passa pela família, pela escola e por uma política pública adequada”, observa. O Estado mudaria esse quadro com uma política cultural que aumente o espaço dedicado às letras, forme o hábito da leitura e tornar o livro acessível para qualquer pessoa.
Há quase uma década, o Ministério da Cultura criou o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler). Na prática, deveria articular e promover ações que despertassem o interesse nacional pela leitura, assim como conscientizasse sobre a importância de sua democratização junto à população excluída do acesso à leitura.
Como tantas outras medidas governamentais, principalmente na área cultural, nesta, é grande a distância entre teoria e prática. O tal Proler morreu no nascedouro. O Governo do PT não esboçou reação, talvez pelo fato de o presidente Lula se sentir estigmatizado pela condição de semi-analfabeto. Não há interesse em despertar a necessidade de ler nos cidadãos; valorizar o lugar político da leitura; produzir, valorizar e estimular a criação de bibliotecas públicas. Não há sequer divulgação sobre o tema.
Leitura é tudo na vida de uma pessoa. Um programa dessa natureza, se levado a sério, impulsionaria a curiosidade e a prática saudável da leitura. Mas, é o tipo de medida cuja seriedade se esgota quando começam os discursos elaborados e lidos pela ótica eleitoreira.
Acreditou-se que o Estado de Mato Grosso dera um passo significativo para fomentar a leitura, tornando o acesso ao livro mais democrático e apoiando a criação e a produção literárias, com a Literamérica. Já não há mais aquela euforia em torno do evento. O que diz o secretário de Cultura, Paulo Pitaluga, um amante dos livros?
Em 2005, chamou a atenção o fato de ter saído da Assembléia Legislativa, local onde muita gente é notória pela leitura só daquilo que satisfaz interesses pessoais, uma proposta decente: nada menos do que um projeto do deputado José Riva (PP), estabelecendo que Mato Grosso teria um mês inteiro para a disseminação da leitura. E o mês escolhido foi abril, no qual, por sinal, se comemoram o Dia Internacional do Livro Infantil (2) e o Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor (3). Datas, aliás, que passaram em branco.
Pela proposta, Riva sugeria que todos os dias desse mês seriam aproveitados para “se viajar através das letras”, com a realização de oficinas de leitura nas escolas etc. Para o deputado, não basta que se entreguem livros às bibliotecas, há que levá-los às pessoas, principalmente, crianças e adolescentes, para se desenvolver um hábito saudável que os acompanhará por toda a vida.
Faz quatro anos que o projeto de Riva começou a vigorar, mas, ao que consta, não se tem conhecimento de que as pessoas estejam “viajando” pelas letras. Claro que não é culpa do parlamentar, que sempre se destacou pela habilidade como articulador político, mas foi sensível com uma questão social (a inclusão social). O projeto de Riva é muito mais do que uma dessas proposições que se amontoam nos arquivos do Legislativo e para as quais o Executivo não dá a mínima.
Vai ver a “lulite” acometeu políticos, gestores e até jornalistas, de tal forma que, em vez de livros, eles prefiram ver novela.
Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
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