O assunto já está meio vencido e fora de pauta – e é infinitamente menor que as coisas que realmente importam neste momento de crise nacional -, mas não posso deixar de me colocar diante da lambança por traz dos fatos que resultaram na ocupação do Palácio Filinto Müller (urrrrg) pelos vereadores de Cuiabá, semana passada.
A história beira às raias do absurdo, afinal, onde já se viu autoridades públicas ocuparem prédios públicos?! Já se viu sim. Em alguns momentos especiais, deputados e senadores já ocuparam suas casas legislativas como manifestação de resistência à opressão política, à ditadura. Gesto simbólico e pátrio da mais alta relevância para a história de seus paises.
Mas, ocupação com simples o objetivo de se ter uma sede, essa foi novidade. Mas, por que isso aconteceu?
Aí a coisa começa a fazer sentido. O exercício do poder pressupõe algumas qualidades fundamentais aos governantes. Dialogar é regra de outro entre essas qualificações. E foi principalmente o que faltou aos envolvidos, sobretudo os interlocutores do Palácio Paiaguás.
Deixar de receber 16 dos 19 vereadores da Capital do Estado foi um erro grave, um gesto de desdém com o Poder Legislativo da cidade mais importante do Estado, com a própria cidade, e, sobretudo, com a sociedade que elegeu esse corpo legislativo.
E o que é pior: pôr o secretário da Casa Civil, Luiz Pagot, para recebê-los de pé, postado como Sargento diante da tropa, e não como diplomata diante de agentes políticos honoráveis, o que foi ainda mais grave. Sem falar o fato de que Pagot foi ninguém menos que aquele mesmo que tentou, pela vias transversas e ruidosas de sempre, interferir nas eleições da atual Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá!
Com três clicks de computador, pode-se acessar o site do TRE e descobrir que o secretário da Casa Civil não foi descortês apenas com 16 dos 19 vereadores da Capital. Foi deselegante com 259.475 (89.90%) eleitores que votaram nominalmente em um dos 19 vereadores e outros 18.772 (6.50%) que votaram nas legendas partidárias. E não interessa se o secretário não votou em algum dos 19 vereadores eleitos, como eu não votei, mas que os que lá estão representam todos os cidadãos cuiabanos. É uma lição simples de democracia. Se quer continuar responsável pela diplomacia do governador Blairo Maggi, para o bem do governo é bom começar a estudar esta matéria.
Kleber Lima é jornalista em Cuiabá