Às vezes me pergunto onde foi ou em que determinado momento da história ‘perdemos’ a alavanca que impulsiona o mundo rumo às mudanças, ou seja, a participação maciça dos jovens na política e nas lutas de classes. São eles quem, através de grandes mobilizações e manifestações, se tornaram ao longo dos anos os grandes protagonistas de conquistas importantes, como o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, em 1992. São eles os grandes agentes de transformação política e social. Os pais e/ou avós de hoje, são os mesmos ‘jovens’ idealizadores que foram às ruas na década de 60 lutar contra o regime militar que se instaurou no país. Ou ainda, em 1969, quando do outro lado do mundo, mais de 400 mil pessoas (a grande maioria jovem) se uniram no pensamento revolucionário e no Festival Musical de Woodstock demonstraram durante três dias, de forma pacifica e contundente, uma crítica social ao regime cultural da época.
As crianças daquela época, que tinham pais um tanto quanto ‘inquietos, inconformados’, são os jovens ausentes de hoje. Depois de nomes como Che Guevara, sem dúvida alguma, o mundo não foi mais o mesmo e não teve mais momentos de tanto revolucionismo. Foi por causa da visão de tanta miséria viajando o mundo, da impotência das lutas e sofrimentos dos ‘menos favorecidos’ presenciados pelo jovem médico foi que Ernesto Guevara concluiu: a única maneira de acabar com todas as desigualdades sociais seria promovendo mudanças na política administrativa mundial.
Não precisamos de tanto. Basta que a juventude se interesse pelos assuntos que, com certeza, mudarão seu próprio futuro, e não estejam tão alienados ao processo à sua volta. Em pleno século XXI os fatos acontecem, quase na velocidade da luz, e precisamos acompanhar o ‘boom’ de informações, aprender a lidar com a tecnologia, e com tudo mais que o mundo globalizado trouxe embutido na ‘quebra das fronteiras’.
No entanto, o que se percebe é que o interesse dos jovens pela política, por exemplo, é inversamente proporcional à velocidade dos fatos e das mudanças. Uma justificativa, até plausível eu diria, para essa ‘falta de interesse’ seria a realidade da política brasileira, é o cenário que está com a imagem ‘arranhada’, após sucessivos escândalos? Na contramão, questiono, será que o futuro de novas gerações, inclusive de seus próprios filhos, terá que pagar um preço tão alto por isso?
Segundo Karl Marx, a história de toda a sociedade até hoje tem sido a história das lutas de classes. Em outras palavras, toda conquista social só foi possível com a mobilização e a luta dos trabalhadores. No Estado Democrático de Direito a arma de nossa guerra é o voto. Sendo a juventude uma das fases mais empolgantes da vida, o jovem tem um papel preponderante no contexto social, pois, a pujança juvenil sempre esteve presente nas grandes revoluções e movimentos sociais que marcaram épocas. Grandes líderes mundiais, como Alexandre Magno, por exemplo, mostraram o seu valor na juventude, e hoje não deveria ser diferente.
Se partirmos da idéia de que a história é constitutiva de sua subjetividade e de sua conceituação conseguiremos dimensionar a importância da militância jovem na política, não só com o voto, mas, agregando novas idéias, projetos e mais que isso: novos ideais. O comportamento político de jovens militantes e o papel dessa juventude é justamente a alavanca que citei acima, a base sólida para um futuro com mudanças e revoluções sociais. As estacas na ‘construção’ da história de um bairro, cidade, país ou nação começa exatamente quando se inicia a participação dos jovens na grande arte de alcançar objetivos através da habilidade nas relações humanas. A ala jovem dentro do partido – e aí me refiro ao conceito de sigla partidária independente de qual for-, é um dos espaços ideais para o exercício desse princípio ideológico sustentado pelo Estado: a política. Um ambiente dispensado a ‘eles’ para que possam construir de forma participativa uma nova ordem política, abordando o movimento inverso ao da ótica do mercado capitalista e enfrentar o individualismo contemporâneo difundido nas últimas décadas como conseqüência da ‘era’ do desenvolvimento econômico, social e cultural.
Precisamos que essa juventude retome seu papel na sociedade e volte a participar ativamente de movimentos de bairros, grêmios estudantis, organizações políticas com representações locais e porque não nacionais? Não necessariamente fazer da política uma profissão, mas, que vejam nela a possibilidade de elaboração de um projeto de vida, fundamentados no conceito de grupo e que através da política demonstrem um poder de racionalidade baseado na coletividade, criando por fim, um verdadeiro movimento contra a regressão. Que se siga o exemplo do passado, assim como as gerações anteriores de jovens militantes, deste ou de outros séculos, sintetizam o elo entre memória e o esquecimento e destaca-se pelo seu discernimento ético; façamos nós, sob o aspecto do interesse pela política e pelas lutas de classe, convergir, hoje, a juventude revolucionária de ontem.
Eumar Roberto Novacki é secretário-chefe da Casa Civil em Mato Grosso