O senador eleito Jaime Campos não fará oposição ao presidente Lula. É isso mesmo. Embora do PFL, o senador mato-grossense disse que se o partido exigir dele oposição por oposição, sistemática, não poderá contar com ele.
A declaração é do próprio Jaime, durante o programa Terceiro Mundo, da TV Record, na última terça à noite. Em suas palavras, Jaime disse que vai votar de acordo com os interesses de Mato Grosso, mesmo que isso contrarie a orientação do seu partido. Perguntado pelos entrevistadores se isso não lhe causaria problemas partidários, disse que não se preocupa com isso, até porque o atual presidente do PFL, Jorge Borhausen, estaria com os dias de mando contados.
A posição é elucidativa do que foi a última campanha eleitoral para presidente , aqui e alhures. Os guerrilheiros de direita do PFL torraram até que conseguiram fazer com que o candidato tucano Geraldo Alckmin partisse para o tudo ou nada contra Lula. Deu o nada, levando-se em conta que Geraldo perdeu votos no segundo turno, depois que radicalizou o discurso contra Lula. Como queriam os caciques ACM e Borhausen.
Além disso, os caciques raivosos saíram derrotados nas eleições. O maior exemplo disso é a Bahia.
Em Mato Grosso, o PFL se comportou de outra maneira. Apesar de Jonas Pinheiro embarcar na canoa anti-Lula, nunca foi de fazer muita marola com isso. Seu estilo é mais pacífico, mesmo quando critica, o faz de modo bastante ameno.
Jaime, ao contrário, não assumiu a campanha de Geraldo no primeiro turno. Inclusive, nos debates, não mencionou o nome de candidato a presidente.
Talvez porque o palanque tucano em Mato Grosso já tivesse dono. Talvez porque o pefelista tivesse antevisto a derrota do tucano, e não queria se indispor com o presidente, iminente reeleito. Talvez ainda porque não queria criar uma crise com Blairo Maggi, o líder de seu palanque. Enfim, há várias possibilidades de explicação.
Os fatos, no entanto, são incontroversos. Lula venceu em Várzea Grande, principal reduto do PFL de Mato Grosso, no primeiro e no segundo turnos.
Jaime disse que fez a parte dele, que pediu votos, mas que o eleitor preferiu outro caminho. Tá bom, façamos de conta que foi isso mesmo. Mas, a verdade é que não pediu nada. Por ter percebido que não adiantaria. Como diz a lenda, se o povo não quer, eu também não.
Aliás, o PFL de Mato Grosso saiu das urnas de outubro numa situação no mínimo curiosa. Elegeu Jaime e passou a ter dois senadores, o que, de fato, é uma vitória. Mas, não elegeu nenhum deputado federal.
Para deputado estadual, aumentou sua bancada, de três deputados mais 21 mil votos de legenda, em 2002, para cinco deputados e mais 23 mil votos de legenda este ano. Será suficiente para viabilizar o projeto maior de Jaime, que é se eleger governador na sucessão de Blairo?
O primeiro indicador disso virá com as eleições municipais de 2008. Projeto majoritário em Mato Grosso passa necessariamente por Cuiabá e Várzea Grande. Aqui, o PFL vem perdendo espaço gradativamente. Lá, mantém sua força. E no interior, continua sendo um partido mediano. Ser governo, no entanto, em Mato Grosso e em Brasília, pode ajudar o PFL. E talvez seja essa a saída encontrada por Jaime, que deverá ser “companheiro” de Lula desde criancinha nos próximos quatro anos.
Kleber Lima é jornalista em Cuiabá. E-mail: [email protected].