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Humanização da convivência

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"No momento em que você começa a se amar, a se aceitar, a mente que se apresenta como inimiga começa a ficar sua amiga. Quando você se aceita, esta transformação acontece por si mesma e a mente começa a ficar silenciosa, naturalmente". Kiran Kanakia

Hoje, fala-se muito a respeito da aceitação da diversidade para que haja paz na convivência humana. Porém permanece a questão: onde e como se aprende a importância de viver em harmonia e unidade com a vida que se expressa através de nós e de tudo e todos que nos cercam?

Será que somos ensinados de forma efetiva a aceitar, a compreender, a valorizar cada pessoa na sua própria e única expressão, independentemente de raça, nacionalidade, religião, credo, orientação sexual e status social? Temos aprendido que cada pessoa é uma expressão original e singular, necessária à vida do jeito que é? Que não somos fotocópias uns dos outros, mas uma obra-prima de Deus?

Dessa forma, querer que alguém de natureza A seja igual a de natureza B é reprimir e sufocar a singularidade, os talentos e a potencialidade de cada expressão. A comparação é um veneno para a autoestima.

E muitos, ao sentirem a rejeição no ambiente familiar, escolar, profissional e social, adquirem a doença do "tornar-se" alguém diferente de si próprio. Não aceitar e negar a própria expressão faz nascer o ódio por si mesmo ao invés do amor. Essa é uma das raízes do ódio interno, que, consequentemente, será manifestado na relação com o outro, no convívio social.

O "tornar-se" exige grande esforço e cria distúrbios psicológicos, que deixam a visão turva e criam uma percepção distorcida da realidade. Um dos maiores desconfortos que um indivíduo pode sentir é a não aceitação de si mesmo, o que acarreta muitas tensões e perturbações emocionais, mentais e energéticas. O amor não floresce na condição de não aceitação.

O ser humano tem necessidade de ser aceito, acolhido, reconhecido e amado do jeito que é, o que contribui para seu estado de felicidade e fortalecimento interior – quer seja criança ou adulto. Aliás, acolher incondicionalmente alguém com consideração é um ato sagrado.

A humanização da convivência passa obrigatoriamente pelo ato de acolher o próximo de igual para igual, com compreensão e respeito à especificidade de cada um. Vale lembrar estas palavras de Gabriel Garcia Márques: Aprendi que um homem só tem o direito de olhar o outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

Para que haja paz no convívio social, ao invés de conflitos e agressões, é essencial aprender desde cedo a relacionar-se consigo mesmo de maneira harmônica. Para tanto, a autoaceitação com amor é o principal entendimento.

A autoaceitação em nível físico, emocional, mental e espiritual fortalece a autoestima e a autoconfiança, constroi a base da amizade interior, mantém-nos simples, relaxados, criativos e permite-nos viver em sintonia com a vida que se manifesta no aqui e agora. A autoaceitação – o Sim para a nossa expressão – propicia-nos uma constante sensação de preenchimento e assentamento interior. Assentamo-nos no conforto e no silêncio do nosso Ser – bálsamo para as nossas inquietações e angústias.

Para sermos amigos de nós mesmos e tratarmos o outro como semelhante, ao invés de concorrente, é fundamental esse primeiro passo, dado dentro de nós. Então, torna-se natural a prática do ensinamento que Jesus Cristo nos deixou: Ama o próximo como a ti mesmo.

Ao crescermos em autoaceitação, todas as virtudes que buscamos manifestam-se em nós por si mesmas. Lamentavelmente, esse é um ensinamento que passa distante da família, das escolas e das religiões. E essa deveria ser a aula inaugural na nossa educação, pois a escada que nos conduz ao alto, ao despertar da consciência plena, à harmonia e à comunhão com toda a Existência é construída a partir deste primeiro degrau.

Kiran Kanakia, místico sufi indiano, estimula-nos com seu exemplo:

No dia em que me tornei amigo de mim mesmo, todos se tornaram meus amigos. Não há ninguém que esteja abaixo ou acima de nós. Somos todos expressão da vida, daquela divindade. Mas você tem que vir para o ponto em que se torna amigo de si mesmo.

Namastê!

Enildes Corrêa é administradora, professora de Yoga e Terapeuta Corporal Ayurveda com formação e especialização na Índia. E-mail: [email protected]

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