Há cinco anos, no dia 16 de julho de 2000, aos 103 anos de idade, falecia no Rio de Janeiro, o eminente brasileiro Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho. Jornalista, advogado, escritor, ensaísta, historiador, político, administrador, acadêmico e estadista. Foram tantas as atividades, títulos e os bons exemplos que marcaram a sua vida que o melhor é qualificá-lo, mesmo in memoriam, de cidadão. Sim, cidadão na mais alta e nobre acepção da palavra.
Em sua longa e profícua vida exerceu inúmeras funções públicas e privadas. Eleito governador de Pernambuco, sua terra natal, em 1946, com a vantagem de 565 votos sobre o candidato Manoel Neto Campelo Júnior, veio a assumir o governo dois anos depois, em virtude de recurso impetrado pelo adversário, só então julgado improcedente. Foi deputado federal por duas vezes. Como governador e parlamentar não se afastou do jornalismo, sua verdadeira vocação e principal paixão profissional.
Na primeira quadra do século passado (1927) começou a publicar artigo semanal no Jornal do Brasil. Manteve essa rotina até o dia de sua morte, portanto, durante 73 anos, sem interrupção, expondo criteriosas análises da conjuntura política, econômica e social e a defesa intransigente dos ideais nacionalistas, democráticos e dos princípios constitucionais e morais.
Na defesa dos direitos humanos e da liberdade de pensamento, combateu, com veemência e astúcia, através de seus artigos e de declarações à imprensa, o ato institucional nº 5 (AI-5), editado em 1968, e a censura imposta aos meios de comunicação, declarando que “a liberdade de imprensa não existe sem a liberdade de informação, que não é um direito do jornalista, mas do público. É, assim, um dever do jornalista.”
Em 1973, formou, como vice, a chapa de “anticandidatos” do MDB, encabeçada por Ulysses Guimarães, às eleições indiretas “disputadas” em 15 de janeiro do ano seguinte. Sobre os casuísmos da legislação eleitoral que favoreciam o partido do governo militar – a Arena e, posteriormente, o PDS – declarou, com o respaldo das forças democráticas, que “uma democracia que não admite a alternância no poder não merece o nome de democracia. Quanto ao nome que merece seria bom convocar o povo para as eleições e perguntar que nome se daria ao regime.”
Eram os tempos ásperos e duros da ditadura militar, com o povo marginalizado e impossibilitado de participar da escolha do mais alto mandatário da nação. Só os homens dignos, intimoratos e democratas, mesmo correndo elevados riscos, dispunham-se a lutar contra o arbítrio, a intolerância e a completa ausência de transparência dos atos administrativos. Barbosa Lima Sobrinho, galhardamente, foi um deles.
Por ocasião de sua morte, personalidades brasileiras teceram comentários sobre ele. O Jurista Evandro Lins Silva, afirmou: “..Não conheço nada na vida de Barbosa Lima que possa ser chamado de pecado, ele tinha uma honradez absoluta..” E, D. Paulo Evaristo Arns, ex-Cardeal Arcebispo de São Paulo, foi taxativo, afirmando: “Barbosa Lima construiu um monumento à dignidade e à honradez. Não somos nós que o colocamos sobre o pedestal. Foi ele quem nos elevou até esse nível para que descobríssemos como deve ser o Brasil de hoje e de amanhã…”
Atualmente, mais do que nunca, integridade moral, dignidade e honradez, comportamentos fundamentais da convivência social e política são dogmas distantes da conduta de uma boa parcela de homens públicos. As CPI’s que rolam no Congresso Nacional atestam e dão a dimensão exata da deterioração dos bons costumes e dos deveres éticos.
Certamente Deus, com infinita compaixão dos brasileiros, concedeu a Barbosa Lima Sobrinho viver mais de um século, para que sua retilínea vida servisse de exemplo às gerações de seu tempo e também às futuras, legado que não se perdeu totalmente, apesar das inconveniências oportunistas, porém passageiras, pois a semente de seu precioso serviço ainda há de frutificar cada vez mais nos campos da honradez e da dignidade. E neles, com certeza, não haverá lugar para “homens públicos” argentários e moralmente nanicos semearem, com mãos contaminadas, suas ervas daninhas, que prejudicam a obtenção de boas, sadias e fartas colheitas. E que esse tempo de bonança ética e moral prevaleça como expressão e síntese do desejo da honrada e laboriosa sociedade brasileira. Hoje e sempre.
Autor: Petrônio Sobrinho – Assessor Parlamentar.
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