Ao mesmo tempo que enfrenta uma dura turbulência política, Mato Grosso segue uma trajetória vigorosa de crescimento. Um exemplo disso pode ser visto na região Norte do Estado, onde estive há duas semanas participando como convidado de eventos relacionados aos 80 anos da Ordem dos Advogados do Brasil, ocorrido na cidade de Sinop.
Quanto mais tempo se demora para ir até a região, mais se nota as mudanças e se sente a profundidade do crescimento econômico e social.
Há muito, se afirma que no Norte de Mato Grosso há um povo novo, diferenciado, que miscigena diversas raízes e absorve tantas culturas.
Quando cheguei a Mato Grosso, após me formar no curso de Direito da Universidade de Londrina, foi exatamente no Norte do Estado que eu fui buscar a construção de minha carreira profissional e onde constitui minha família.
Naqueles tempos, a região ainda era considerada inóspita. Era preciso enfrentar a malária que persistia em derrubar as pessoas e muitas vezes causando mortes. Era preciso ter força para superar o longo caminho e as estradas ruins.
Quem viveu no Nortão há 20 anos sabe o quanto era difícil a vida, com muitos sacrifícios e privações.
Isso mesmo, 20 anos atrás, o Nortão de Mato Grosso era uma terra onde só se falava de mortes, violência no campo, conflitos agrários, desmatamentos, queimadas, entre outros.
Hoje, isso mesmo, 20 anos, duas décadas, até mesmo o ar que se respira mudou. O tempo das grandes queimadas se foi. Ainda há, claro, mas para quem vivia entre 80 e 90, comparado a hoje, a mudança é fenomenal.
Basta lembrar que entre os meses de agosto e outubro aeronaves de pequeno porque sequer arriscavam voos para a região tamanha a densa fumaça que tomava conta dos céus. Falamos de duas décadas apenas.
A transformação que a região Norte de Mato Grosso viveu nesse curto espaço de tempo é notável.
A mudança do perfil econômico e social são a prova de que a força do povo, a organização da sociedade, e a postura governamental podem produzir neste Estado, verdadeiramente, a condição de se transformar numa das maiores potências da nossa nação.
Não apenas no ramo do agronegócio, que é a base primária para se alavancar a economia.
Como acontece no Norte, Mato Grosso está às portas de colher frutos e dividendos do grandioso salto econômico iniciado há 30, 40 anos atrás com a pujança do desenvolvimento industrial e na qualificação da mão de obra.
Para isso, basta iniciarmos imediatamente a revisão do planejamento estratégico de desenvolvimento do Estado, baseando seus processos produtivos em novas fontes agregadas, como a sustentabilidade efetiva nas atividades de transformação.
Conforme escreveu Xico Graziano, em recente artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, “é impossível entender a economia de Mato Grosso sem considerar a crescente produção de grãos obtida nessa região”, no caso, no Norte do Estado.
Em consequência desse sucesso agrário, o Estado já responde atualmente por 25% da safra nacional de grãos, ultrapassando o Paraná (19%) e o Rio Grande do Sul (16%) no ranking da safra nacional.
Pois bem, assim, confirma-se que o Norte de Mato Grosso é outro, bem diferente daquele dos 20, 30 anos atrás. E cada vez mais se diferencia pela organização.
Uma prova disso está no Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH, sistema de medição da qualidade de vida do povo, utilizado pelas Nações Unidas: os maiores e mais efetivos índices estão nas cidades do Norte de Mato Grosso.
Portanto, é um espelho, um modelo que precisa ser aproveitado e aplicado nas demais regiões do Estado – que também experimentam grandes níveis de crescimento e desenvolvimento, embora menos galopante que o Nortão.
Ir ao Nortão de Mato Grosso é a certeza de encontrar algo novo, trazido no bojo das raízes culturais de todos os povos que compõe nosso imenso Brasil.
Em Lucas do Rio Verde, Sorriso, Alta Floresta, Sinop, entre outras, pulsa o progresso limpo do interior brasileiro.
Francisco Faiad – ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi secretário de Administração em Mato Grosso.