Tenho uma grande dificuldade em aceitar leituras simplistas, errôneas ou incompletas. Penso que, por mais exíguo que seja o tempo ou o espaço, devemos tentar pôr em prática o ensinamento de Marx: “Ser radical é ir à raiz do problema”.
Ontem foi um daqueles dias em que, infelizmente, não se iniciou para mim com a leitura dos jornais cuiabanos. A solução foi encurtar o tempo de almoço e promover uma leitura seletiva. Para o meu espanto o artigo do amigo e camarada Kleber Lima trazia o estranho título: “Galinho Nazista” numa referência ao prefeito Wilson Santos. Mesmo sem “procuração” do prefeito, senti-me na obrigação de defendê-lo e assim o fazendo, estaria, em última instância, defendendo-me porque eu não votaria em nenhuma hipótese em um nazista.
Vamos tentar entender filosoficamente o nazismo e, por extensão, o fascismo, o comunismo e o positivismo naquilo que todos eles têm em comum. Todas essas ideologias possuem como premissas a busca de um estado forte, uma receita racional ou científica para o desenvolvimento e nascem de minorias fanáticas e extremamente ativas. Como desdobramentos desses conceitos macro podemos afirmar que o nazismo estruturou-se observando os seguintes parâmetros: 1- Doutrina oficial em que tanto os aspectos individuais quanto sociais estão direcionados para a busca da sociedade nova que é perfeita. 2- Um partido político com um líder autoritário aliado a uma suposta elite social e intelectual que engendra um plano de ação política, incluindo uma intensa propaganda com forte conotação passional e ideológica. 3- Um aparelho repressor violento e centrado no terror. 4- Aparelhamento das forças armadas e monopólio da posse de armas. 5- Controle dos veículos de comunicação social de das manifestações individuais e públicas. 6- Partidarização do movimento sindical e conseqüente controle do trabalho e da produção.
Como é perceptível, Wilson e sua administração não se inserem nas características acima e, não só por isso, é um erro grosseiro chamá-los de nazistas. Os que o fazem, fazem-no por joguetes políticos que têm interesses alhures.
Discordo da missiva do jornalista quando ela afirma que “Com o movimento comunitário a relação do prefeito é péssima.” Talvez seja com aqueles que faziam da Sanecap cabide de empregos e foram demitidos corretamente pelo nosso gestor. Discordo quando, sob o pretexto explicar o apelido, Kleber “inocenta” os estudantes classificando-os como “naturalmente” exagerados por conta da idade. Para chamar alguém de nazista é necessário profundo conhecimento histórico e filosófico ou poder-se-á incorrer em difamação. Discordo do amigo e camarada na questão do “passe livre” que, aliás, é pago indiretamente por todos nós e só para ilustrar: estava eu na fila para comprar carne no Big Lar e inadvertidamente ouvi dois estudantes de uma universidade particular que estavam na minha frente dizendo que ainda não tinham pego o “passe”. Ora, tenham paciência! Pra comprar carne de onze reais o quilo eles têm, mas para o transporte coletivo, não. Penso que o Passe livre é necessário e justo, porém sua amplitude torna-o inexeqüível e moralmente incorreto.
Por fim, eu gostaria que o povo brasileiro tivesse o grau de consciência política que possuem esses estudantes que, mesmo recebendo o Passe Livre, promovem passeatas contra o aumento da tarifa do ônibus. Gostaria de implorar a eles para que fizessem passeatas e comícios contra os transgênicos, o desmatamento de Mato Grosso, a hidrovia Paraná-Paraguai, a morte do rio Coxipó, a taxação dos aposentados, a flexibilização dos direitos trabalhistas etc.
Sérgio Cintra é professor e Diretor Técnico e Cientifico da Funec
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