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Envelhecimento e pobreza – 1

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O envelhecimento pode ser analisado a partir de duas perspectivas: a individual e a coletiva. Quando tomamos a dimensão individual percebemos este fato cada vez mais próximo ou seja, cada vez mais um maior número de famílias passam a conviver com alguém que está chegando e ultrapassando em muito a idade considerada como definidora do grupo idoso (60 anos em alguns países, 65 em outros e até mesmo 70 em alguns países, onde a longevidade já se aproxima ou ultrapassa o centenário).

Na perspectiva individual o emvelhecimento ou a longevidade e os cuidados decorrentes , incluindo cuidados com saúde, mobilidade, alimentação e outros mais são de responsabilidade direta do idoso ou quando muito de sua família. Em passado não muito distante os poderes públicos praticamente não voltavam suas atenções para esta faixa populacional, tanto por ser um grupo ainda pouco representativo no conjunto da população quanto pelo fato de que as familias eram as grandes e praticamente únicas responsáveis por cuidar dos idosos até o final da vida. Se a família dispunha de recursos financeiros e patrimoniais isto não impunha um grande sacrifício, mas para as famílias pobres ou miseráveis isto era e continua sendo um verdadeiro drama humano.

As excessões eram as entidades religiosas ou caritativas que se dispunham a criar "abrigos" onde as pessoas pobres cujas famílias não dispunham de renda para cuidar de seus idosos e assim este contingente populacional acabava ficando sob a responsabilidade da caridade privada e filantrópica, ante a ausência ou omissão do Estado.
A segunda perspectiva é a coletiva, ou seja, perceber que o contingente de idosos tem aumentado no mundo todo, em todos os países, graças `a transição demográfica, `a melhoria da qualidade de vida, mesmo que a pobreza e a miséria ainda estejam presentes de forma aviltante em diversos países, inclusive no Brasil. Este aumento tanto em termos absolutos (número total de pessoas com 65 anos e mais) quanto relativo (percentual de idosos no total da população e em relação aos dois grupos que demandam atenção e políticas públicas por parte do Estado: a)população com menos de 15 anos e, b) população em idade produtiva, entre 15 e 64 anos.

Só para se ter uma idéia, os países da Europa, Estados Unidos, Japão e alguns outros precisaram mais de cem anos para que a população idosa dos mesmos aumentasse de 7% para 14%. Enquanto isto, no Brasil, esta alteração radical na estrutura demográfica vai ocorrer em apenas 20 anos, entre 2011 (idosos representam 7% da população total) e 2031, quando este grupo representará 14%. Em termos absolutos o crescimento também é acelerado, de 20 milhões de pessoas em 2010 para 65 milhões em 2050.

Tendo essas duas perspectivas como foco de análise, é necessário também inserir outras variáveis para uma melhor compreensão da questão e possibilitar a definição de políticas públicas, ações por parte do Estado e mudanças de paradígmas em relação ao que é necessário realizar no futuro, a partir do presente, antes que os problemas apareçam com toda a sua gravidade e complexidade.
Quando o processo de envelhecimento ocorreu na Europa e outros países desenvolvidos esses países já haviam conquistado um nível de vida bem melhor do que acontece com os atuais países sub-desenvolvidos. Os níveis de pobreza, de concentração de renda, de riqueza e oportunidades eram completamente diferentes do que atualmente acontece nos países sub-desenvolvidos ou emergentes, onde o Brasil está inserido.
Outro aspecto é que o processo de envelhecimento não altera a composição de classes de uma sociedade, nem os níveis de exclusão social, econômica, política e cultural; ou seja, se na basse da pirâmide social um país tem um elevado nível de pobreza e miséria, com toda a certeza as pessoas ao envelhecerem e passarem a condição de idosas carregarão consigo as dificuldades de sobrevivência e demandarão muito mais recursos, os quais só poderão ser supridos pelos poderes públicos.
Em uma próxima oportunidade abordarei outras questões como o impacto das transferências da previdência e das políticas compensatórias no combate e redução dos índices de pobreza e as perspectivas futuras desses impactos em relação ao processo de envelhecimento da população brasileira.

Juacy da Silva é professor universitário, fundador e titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia Blog www.professorjuacy.zip.net E-mail [email protected]

 

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