11 de fevereiro de 2008- Marco Histórico na Educação- o ano letivo será aberto com aula inaugural, envolvendo todos os educadores/as da rede municipal de ensino em Cuiabá.
O tema central será a diversidade, tendo como base o que preconiza a Lei 10.639/03, que alterou as diretrizes e bases da educação, através da obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira” no currículo escolar oficial.
Retratar aqui o estado em que me encontro se faz desnecessário, mas sim, o quão importante se estudar África, de conhecer para se reconhecer enquanto brasileir@s, resultante de diferentes povos – portugueses colonizadores, africanos e indígenas escravizados, cada um com sistema cultural distinto.
Preocupamo-nos constantemente com o nosso futuro, mas a perspectiva do que seremos, requer conhecermos o que somos hoje, cuja possibilidade se consolida aos sabermos o que fomos, através daqueles que nos formaram – nossos antepassados.
Os nossos antepassados portugueses, que predominantemente constituíram a elite brasileira, conhecemos bem, pois os estudamos em detalhes e os seus valores foram impostos como adequados.
O mesmo não se pode afirmar, porque não aconteceu, em relação as populações de origem africana e indígena. Não sabemos nada sobre as suas terras, as línguas que falavam, as histórias que contavam, como organizavam suas vidas antes de serem capturados e escravizados.
A idéia que concebemos é tão pequena e pejorativa, que de continente nos referimos a África como se fosse cidade, terra de selvagens e os africanos a miseráveis, irracionais; selvagens que guerreiam entre si; desumanos.
Por ter prevalecido esse pensar, se desprezou e não se valorizou o nosso passado afro; não foi superado o pensamento e o sentimento de vergonha associado a um passado de ter sido escravizado, inferiorizado.
A escravidão acabou oficialmente no Brasil em 13 de maio de 1888, há mais de um século, e os afrodescendentes em grande medida continuam sendo vistos como seres de segunda classe, incapazes de exercerem atividades satisfatórias e reconhecidas, pois enfrentam barreiras enormes para aprimorar os instrumentos gerados basicamente pela educação.
O que se pretende afirmar em Cuiabá, com a adoção das Políticas de Ação Afirmativa, enquanto política pública, é que não basta sermos oficialmente cerca de 76 milhões de brasileiros que se assumem como “pretos” e “pardos’, sendo, portanto, o maior continente de afrodescendentes do mundo; que não basta saber que somos mestiços e valorizar isso; que não basta percebermos que a negatividade associada ao negr@ e à África está ligada às justificativas da escravidão”.
Faz-se necessário (e queremos) entender:
-como se deu esse processo de miscigenação no Brasil;
-como pensavam, viviam e no que acreditavam os povos africanos;
-que elementos foram introduzidos e por quais grupos.
Faz-se necessário (e queremos):
-romper e nos libertar de velhos paradigmas que nos mantém amarrados a preconceitos;
-incluir o estudo da História da África e da Cultura Africana no currículo escolar para corrigir as deformações;
-resgatar a história do povo negro para adequar a realidade étnica brasileira.
Eis ai um grande desafio para @s educadores/as- fazermos da educação um dos principais instrumentos de garantia do direito de cidadania, entendendo que cidadania se efetiva a medida que nos sentimos e nos tornamos gente, a partir do que percebemos, lembramos e escolhemos dentre os nossos vividos.
Que a partir deste 11 de fevereiro as nossas lembranças possam preencher as lacunas da omissão, da ignorância, da conotação negativa do que fomos para reconhecermos o que somos e construirmos um futuro de seres de cultura e não de natureza.
Prof. Jacy Proença- é Vice-Prefeita e Coordenadora da Comissão da Aula Inaugural do Ano Letivo 2008 em Cuiabá.