sexta-feira, 26/julho/2024
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Drogas: um problema complexo

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O fato trágico ocorrido em Lucas do Rio Verde no último dia 4, acendeu uma discussão sobre o perigo do uso de drogas. Nesses momentos, o fato marcante se soma a inúmeras outras situações de violência associada ao uso de drogas e provoca um sentimento de preocupação muito intenso na sociedade. No entanto, por trás do problema das drogas, pode estar presente uma complexa rede de problemas psíquicos e sociais, a qual merece nossa atenção.

A droga provoca uma alteração no estado de consciência de uma pessoa. Essa alteração, de uma forma geral, corresponde a um relaxamento na censura que um sujeito desenvolve contra suas próprias vontades ao longo de seu desenvolvimento moral. Assim, a pessoa se sente mais livre de uma série de responsabilidades para com os outros. Em certo grau, isso é aceitável pela sociedade, tanto é que o álcool e o cigarro são liberados para consumo.

No entanto, o uso de drogas ilegais – e mais fortes – é muito maior que muita gente acredita. Segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID), cerca de um em cada quatro brasileiros já usaram algum tipo de droga psicotrópica em sua vida, isso sem contar o uso de álcool e cigarro – também não conta o uso indiscriminado de medicamentos psicotrópicos, o que também é uma questão extremamente séria.

Quando temos uma minoria que não segue os padrões que a sociedade impõe, podemos dizer que é um problema social localizado, "um grupo de desajustados" que precisam de uma intervenção. No entanto, o que estamos observando é uma disseminação generalizada de um comportamento – o uso de drogas. Nesse caso, há indícios de que as regras e valores sociais passam por uma crise.

Isso de forma alguma significa uma posição de minha parte a favor da descriminalização das drogas ou da atenuação no combate contra seu uso. Apenas indica que somente esses dois recursos não são suficientes. A raiz do problema está em outro lugar.

Todos estão acostumados a ouvir que a realidade que vivemos hoje é muito competitiva, que o mundo exige uma série de coisas de um sujeito etc. Concordo com tudo isso, mas penso que temos que aprofundar essa questão. Minha percepção é que a cada dia as pessoas ficam cada vez mais blindadas em sua personalidade. Quero dizer com isso que o imperativo que cada um tem de reconhecer em si mesmo somente qualidades, valores, enfim, coisas positivas têm sufocado uma boa parte desse mesma pessoa que talvez não seja visto com bons olhos por ela mesma, mas que, afinal de contas, sendo bonito ou feio, faz parte dela.

Essa blindagem é responsável por um fenômeno muito conhecido da psicologia e até de leigos, que é a projeção. Para quem não é familiarizado com o termo, podemos traduzi-lo, de uma maneira geral por considerar como sendo do outro os defeitos e pensamentos que não se admite em si mesmo. Algumas pessoas têm uma sensibilidade maior a essas projeções, e acabam sendo bulidas por conta disso, ou como mais comumente chamado, sofrem bullying por parte dos projetores.

O imperativo da boa personalidade vai assim criando suas vítimas. Uma sociedade onde seus indivíduos trabalham intensamente para esconder suas próprias fraquezas ou esquisitices e só conseguem uma folga projetando essas coisas nos outros ou… usando drogas. Quando esse imperativo se torna insuportável, alguns procuram alívio usando uma quantidade absurda de drogas, até que consiga perder todos os parâmetros morais e aí saia matando todos os fantasmas presentes em sua mente. Pergunto: o problema é somente a droga?

Essas questões que trago são um recorte de toda a complexa rede de problemas associado às drogas. Não é minha pretensão esgotar o assunto, nem dizer que esse é o única causa dessa problemática. No entanto, é um ponto de partida para analisarmos a forma como lidamos com nossa própria mente. A droga não pode ser considerada isenta de responsabilidade nos acontecimentos trágicos que têm ocorrido, no entanto nosso modo de vida torna qualquer um de nós predisposto a trilhar esse caminho para tornar a vida suportável.

Ruben Demartini é psicanalista

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