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Doutor Cid: um homem pantaneiro

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A imensidão e a beleza do Pantanal faziam com que meu pai, Cid Nunes da Cunha, que estaria completando 100 anos nesta quinta-feira, 31 de outubro, fizesse questão de contemplar a vida, reverenciá-la, pois ele sentia que valia a pena viver por tudo que a natureza nos dava. Só quem já teve o privilégio de desfrutar o pantanal pode entender essa convivência.

O doutor Cid, Cid, tio Cid, como as crianças lhe chamavam, sempre foi um homem extremamente acolhedor com todas as pessoas. Dedicado, fez da medicina um sacerdócio, não tinha hora para atender, o chamado era sempre respondido, enfim, um abnegado que ensinava valores que hoje parecem um tanto esquecidos.

A causa pública tinha a mesma dimensão da medicina: dedicação, servidão e realização. Cada dia era uma conquista, servir as pessoas era um privilégio, retribuído com o reconhecimento de todos.

Prefeito de Poconé, meu pai pôde retribuir o esforço de meus avós que o mandaram para o Rio de Janeiro, onde além da Medicina, conheceu uma paixão nova, o Fluminense, seu clube de sempre. Um apaixonado que fazia questão de externar, espalhando seu fervor pelos seus filhos Gustavo(in memoriam), Mauro e Oswaldo. Apenas o último seguiu a carreira de médico, dedicando-se a causa indígena.

Doutor Cid era um homem de hábitos simples, sabia cultivar as amizades, pôde desfrutar da vida pacata de Cuiabá e Poconé, reunindo os amigos para rodadas de canastra. Seus muitos compadres e comadres eram sempre recebidos em casa com muita festa, valia cada encontro. Quando chegávamos em Poconé, tínhamos a acolhida de todos, não havia quem não tivesse uma palavra de gratidão a ele. Visitava tantas pessoas quanto podia, a passagem pela cidade era uma festa, oportunidade renovada de falar das coisas boas, com guaraná de ralar e uma parada na casa de seus pais, Othon e Tutica.

Em Cuiabá não era diferente, tinha uma vida social intensa, incluindo aqui aniversários, batizados, casamentos e mais afilhados para abençoar. Entre os sobrinhos, o respeito ao tio Cid era enorme, no circulo profissional sempre uma palavra de conforto aos novos médicos. Mas, além de médicos, ele se atentava aos outros profissionais que sempre vinham buscar um algo mais com o doutor Cid. Meu pai gostava de conversar com as (os) enfermeiras(os), sempre orientando, e a Santa Casa era uma verdadeira aula de humanidade,berço de ensinamentos.

Não por ser meu pai, mas a vida de Cid Nunes da Cunha, que nos deixou há quase 20 anos, tem o sabor de nos fazer pensar na grande alegria e felicidade de poder ter um ser humano como ele como guia, mão amiga, tenho a certeza de que tive um pai completo.

Fazia sua trajetória ao lado de sua esposa, mulher, companheira, que mais que completá-lo, ampliava sua iluminada vida, minha mãe, dona Inês. Dos dois, hoje está comigo uma saudade, gostosa saudade, de lembrar que meus pais faziam o bem e deixou sementes em seus filhos, netos e bisnetos.

Mauro Cid Nunes da Cunha é jornalista, publicitário, advogado e consultor de marketing político

 

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