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Dilma e os negócios

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Todo mundo está cansado de saber da pouca boa vontade dos dirigentes políticos do Partido dos Trabalhadores em relação ao capital. Ainda conservam o ranço dos conflitos capital trabalho do pós-fordismo do começo do século 20 e agora se mal-enjambrado numa leitura atravessada do neoliberalismo. Só que agora o campo do conflito não é mais o chão de fábrica e nem o capital, mas uma disputa burra entre o governo e a economia brasileiras.

Encastelado no governo, com todo os sistemas públicos aparelhados, o Partido dos Trabalhadores enxerga o Estado como a sua catapulta e a economia como um incômodo que se precisa desnutrir ao longo do tempo. Basta olhar as perdas de infraestrutura que o país vem sofrendo nos últimos 12 anos. A logística empobreceu, dificultou a economia, os serviços sociais como a saúde, a educação, a segurança e o bem-estar social descem de morro abaixo. As contas públicas são tratadas dentro da lógica de uma estranha “contabilidade criativa”.

A presidente Dilma Rousseff vem a Mato Grosso assistir ao fenômeno de uma montanha de grãos produzidos apesar das dificuldades tributárias, de logística e de uma burocracia paralisante do Estado brasileiro. Finge emocionar-se com tudo isso que lhe é tão estranho fora do discurso retórico de “um Brasil grande”. Chegar a Lucas do Rio Verde de helicóptero é moleza. Difícil é enfrentar 2.400 km de rodovias esburacadas, da burocracia em cada posto policial, de um mês de permanência num porto controlado por sindicalistas aparelhados do PT e do governo, esperando pra descarregar. E um navio esperar 45 dias na fila pra carregar.

Há, diria o leitor. Ela lançou a legendária ferrovia FICO e enumerou as vantagens do frete ferroviário. Mas ela própria já fez isso antes e o ex-presidente Lula também. A ferrovia está lá, perdida nos papeis e na tentativa de superar a burocracia ambiental do governo, e ao mesmo tempo de se construir um projeto minimamente factível. No ano passado, na abertura do Circuito da Soja, em Cuiabá, na mesa redonda de discussões veio à tona a informação de que a Casa Civil da presidência da República considera que o agronegócio está ganhando muito dinheiro e por isso, que se vire com a logística. Se a contabilidade do governo fosse realista, se saberia quanto dessa produção representa dentro do magro superávit das exportações brasileiras e a importância de uma logística aceitável.

A presidente veio a Mato Grosso fazer discurso político. Aí cabe uma única pergunta: a quem interessa o seu repetido discurso, e quem quer ouvi-lo?

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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