sábado, 27/julho/2024
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Desenvolvimento humano e desigualdade

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Há pouco mais de um ano o Governo Lula e seus áulicos, incluindo parte da chamada grande imprensa, realizaram um verdadeiro carnaval por que o Brasil havia "entrado" para o grupo dos países com IDH alto em 2009, segundo dados divulgados pelo PNUD, agência especializada da ONU para questões de desenvolvimento. No ranking mundial entre 187 países o Brasil passava a ocupar a 75ª posição com 0, 813 pontos, em uma escala de zero a um. Durante dias e semanas o discurso oficial era de verdadeira euforia, só perdendo para o foguetório quando a FIFA anunciou o Brasil como país sede da COPA de futebol de 2014, cujas obras estão bem atrasadas, diga-se de passagem.

Neste dia de finados, em meio a um feriadão, o PNUD divulga o novo IDH de 2010 com dados muito interessantes para quem deseja analisar a realidade dos países em uma perspectiva temporal. Nosso país caiu no ranking e passou a ocupar a 84ª posição por ter obtido apenas 0, 718 pontos. Com este resultado nosso país, apesar da propaganda e marketing do governo federal e dos partidos que lhe dão sustentação parlamentar no Congresso Nacional, o Brasil continua mal na foto. Ficamos para traz de 83 países não apenas os que integram o rol do mundo desenvolvido, mas também vários de nossos vizinhos da América Latina como Chile, Argentina e Barbados que passam a fazer parte do primeiro grupo, dos países de IDH muito alto, entre 0, 793 e 0, 943 pontos.

De forma semelhante estamos perdendo para outros países como Cuba, Uruguai, Bahamas, México, Panamá, Trindade Tobago, Costa Rica, Líbia, Albânia, Líbano, Venezuela, Jamaica, Peru, Equador, Peru, Rússia, Coréia do Sul. O PNUD promoveu certo refinamento metodológico na construção do IDH em 2011 e apresentou índices detalhados ajustando, por exemplo, para a desigualdade de renda, de gênero, expectativa de vida, anos de escolaridade. A desigualdade econômica e social continua uma grande mancha em nossa realidade. Quando este aspecto é considerado o Brasil perde em torno de 27,7% de sua pontuação, caindo para a 141ª posição com apenas 0, 519 pontos. Neste aspecto o Brasil passaria a ser o último do grupo C ou o primeiro do último grupo (D), países com médio ou baixo índice de desenvolvimento.

No aspecto da desigualdade de renda o Brasil ocupa a 10ª pior posição, ou seja, está na 177ª posição no ranking mundial. Isto pode ser constatado tanto pelo índice de Gini onde o Brasil ostenta alta concentração de renda (0, 570) ou então quando a renda média da parcela dos 10% mais ricos é comparada com a parcela dos 10% mais pobres da população. O quociente representa o número de vezes que a renda média do extrato superior acumula em relação aos 10% mais pobres. Esta diferença é maior do que a existente entre a renda média dos moradores do Jardim das Américas ou Santa Rosa e os proletários que residem nos bairros do Osmar Cabral ou Santa Laura, em Cuiabá, por exemplo, que há alguns anos era de "apenas" 37 vezes.

Neste quesito a distância econômica entre os dois extratos no Brasil é de 51,3 vezes, a 10ª maior do mundo, conforme já referido, contrastando com índices de 21,6 na China; de 4,5 no Japão; de 8,1 na Dinamarca; de 8,6 na Índia; de 7,8 na Coréia do Sul, de 8,5 na área do Euro (Europa); de 15,9 nos EUA, de 12,7 na Rússia, enfim, pior do que nos demais 177 países, apesar da tão badalada política compensatória de transferência de renda do Governo Lula/Dilma.
O aumento real de renda média no Brasil nas últimas três décadas (entre 1980 e 2010) foi de apenas 40%, sendo que para os extratos que integram a classe média, em vários setores houve perda de renda real.

O IDH reflete o caos em que se encontram também os setores sociais como a saúde, o saneamento, a segurança publica, a educação, a habitação e as várias formas de exclusão social que continuam afetando as mulheres, os negros, os deficientes, os trabalhadores rurais e outros segmentos. Todos esses aspectos acabam refletindo e determinado a qualidade da foto que o PNUD tira do Brasil e de outros países a cada ano.

O Brasil continua precisando de uma verdadeira cirurgia reparadora, diria radical, nos aspectos sociais, políticos, econômicos para que possa estar melhor na foto dentro de alguns anos, caso contrário não adianta a manipulação através de propaganda enganosa! Isto é mera cosmetologia e não altera a realidade!

Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia. Colaborador de Só Notícias e do blog justicaesolidariedade.zip.net
[email protected]

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