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Demonização do marketing

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Estão tentando demonizar os publicitários e marketeiros. A capa da revista Veja da semana passada (nº 1920, de 31 de agosto) é ilustrativa disso. A manchete é “Político artificial”, mas o título da reportagem interna, de nove páginas, é menos eufêmico e vai direto ao enunciado da revista: “O marketing e a corrupção”.

Para o leitor desavisado daquela reportagem não há outra conclusão lógica a não ser essa: a culpa pelo escândalo que abala o país é dos marketeiros, principalmente do Duda Mendonça e Marcos Valério. “Santa hipocrisia”, diria Robin ao Batman.

Tá certo que as relações das empresas de marketing com os candidatos e partidos, durante as eleições, e com os governos, depois delas, têm muitos pontos a ser discutidos.

Mas, convenhamos, os candidatos que se deixam definir pelo marketing já tinham um problema antes de ter um marketeiro. Estamos falando aí na relação entre partidos e filiados, e destes com ideologia, programa partidário, e outros que tais presentes no universo partidário e político.

Não cabe ao marketeiro, em nenhum lugar do mundo, tomar decisões pelos candidatos. Essas decisões cabem aos próprios candidatos, aos seus coordenadores e aos seus partidos. Quando nenhum deles, entretanto, possui capacidade para tal, por não terem formação político-ideológica, por não conhecerem o programa partidário ou por não fazerem uma reles idéia dos anseios da sociedade, então contratam profissionais para ajudá-los nessa tarefa de diagnóstico, compreensão e intervenção na realidade.

E esses profissionais apresentam propostas, alternativas, leituras, cenários, hipóteses, que devem ser analisadas e decididas pelo pólo político da relação. Sei que tem marketeiro que se acha o dono da verdade. E a maioria, sobretudo os “vitoriosos”, têm de fato um grande poder de convencimento e persuasão, afinal, são especialistas naqueles assuntos, e ouvem melhor, até por nivelamento cognitivo, outros profissionais correlatos, como pesquisadores, sociólogos, cientistas políticos, jornalistas, etc.

Já no governo, o grande problema, insisto, não é o marketeiro. Conceitualmente, seu papel é o mesmo da campanha: diagnosticar a realidade e formular propostas de intervenção para ser decididas, ou não, pelo governo, que tem seus próprios meios e fóruns para tomada de decisões. De novo, transferir essa responsabilidade ao marketeiro, antes de ser um problema deste, é-o do governante, evidenciado aí como absolutamente inepto para a função que postulou e conquistou.

Essa, aliás, é uma das acusações de Veja e de grande parte da média da opinião pública: o marketing consegue vender engodos, tornar palatáveis pessoas despreparadas para os cargos que postulam. Ora, isso é o mesmo que dizer que o povo não sabe votar, é ingênuo, bobo, tolo, incapaz de racionar por sua própria conta, manipulável, etc. Sei que é mais fácil acreditar nisso tudo. Mas, como dizem os mais jovens ultimamente, por favor, “me inclua fora dessa” vertente. Porque, se o povo é tudo isso mesmo, por que estamos tão preocupados com políticos e com marketeiros?

Kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM
[email protected]

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