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Democracia de luto

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A democracia brasileira está de luto. Morreu um cinegrafista no Rio de Janeiro, mas poderia ter sido um policial ou um manifestante em qualquer outra cidade. O fato é que a crescente violência presente nas manifestações produziu sua primeira vítima fatal. Não deveria ser assim.

As manifestações populares são um direito democrático conquistado pelos brasileiros. Podem ser contra ou a favor de determinada causa. Podem ser ruidosas e causar transtorno ao trânsito nas cidades. Podem até ser injustas ou exageradas, conforme o ponto de vista. Ainda assim, são positivas. Refletem a pluralidade de opiniões na sociedade, a vitalidade do debate público e a ânsia de participação. São instrumentos legítimos para veiculação de propostas e para pressão sobre governantes e legisladores. Só não podem descambar para o vandalismo e a violência.

A violência é o ambiente das ditaduras, o argumento dos fanáticos, o método dos intolerantes e o sonho dos psicopatas. Nada tem a ver com a democracia que queremos, que preconiza a resolução pacífica de conflitos.

No entanto, cada vez mais o debate público tem se assemelhado a um bate-boca desbocado entre surdos histéricos. O anonimato e o distanciamento digital não conferem coragem, mas covardia para multiplicar insultos aos que pensam de modo diferente. Nas redes sociais e nos comentários postados em reportagens multiplica-se a radicalização de ofensas, calúnias e desqualificação dos diversos, convertidos em adversários e inimigos. Parece que só há interesse em ler e ouvir os que compartilham das mesmas convicções. O processo de convencimento acerca de teses e de conquista de adeptos tem apresentado a serenidade e profundidade típicas de um coro de torcidas organizadas rivais.

Da violência virtual para as ruas, é um passo curto que muitos jovens não hesitam em dar. A violência contra pessoas e a depredação do patrimônio público ou privado representa o fracasso da atividade política como ciência ou arte e sua relegação ao status de luta marcial.

Falando de violência, é oportuno assinalar que no Brasil a maior violência não é a que parte dos manifestantes ou dos policiais, ou mesmo dos bandidos, mas a violência da corrupção na administração pública que, silenciosa como um câncer, corrói as células do organismo estatal, minando as finanças governamentais, solapando as políticas públicas e fragilizando as instituições democráticas, além de produzir muitos milhares de vítimas, que são os desassistidos da saúde pública, os excluídos de uma educação de qualidade etc.

Dificilmente teremos mais paz nas ruas sem vencer a corrupção nos gabinetes.

A democracia brasileira está de luto. Que esse luto possa proporcionar uma reflexão serena, que inspire civilidade, por exemplo, nas campanhas eleitorais e que traga de volta às manifestações a alegria, a ironia, a indignação e a veemência, mas sem excessos e sem novas vítimas.

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